Moro numa casa mais que centenária do bairro mais antigo da
mais velha capital do Brasil. Quatro níveis desde o jardim até meu quarto.
É
muita escadaria em madeira de lei, iluminada por lanternas catadas em adelos
secretos. Redes espalhadas para todas as horas. Não tenho carro nem celular e
veja bem: sobrevivo!
Abro – quando abro - a televisão somente na hora do
noticiário do Boechat. Se, por ventura, ouso ultrapassar as fronteiras de meu
bairro, pego um ônibus/carcaça. Sempre lamentando que os transportes públicos
sejam privados. Paradoxo! Estou com pressa? Chamo um taxi, rezando para que não
tenha vídeo acoplado ao volante e que não me impinja seu ar condicionado e
poluído.
Fora algum desejo louco de creme de leite fresco ou mostarda francesa
que me obrigue a procurar uma delicatessen – que nome mais idiota! - compro
tudo na padaria e quitandas da redondeza. Gosto do comércio de rua. Nada de
enlatados, nada que aparente ter conservante ou corante. Como certa vez falou
um ex-reitor da Ufba com quem acabei brigando, sou um ecochato. Odeio
supermercado como detesto shopping center onde me sinto mais mercadoria que
gente.
Fujo do consumismo. Não compro roupa de grife. Roupa simples me faz
sentir confortável. Já tive ternos de alfaiataria, camisas sob medida, sapatos
italianos. Era jovem. Há muitas décadas que deixei de ser dândi. E com minha
barriga...
Se, por algum descuido, me convidarem para uma festa no
play-ground de um edifício de muitos andares, hesito tanto antes de aceitar que
geralmente encontro motivo para ficar numa poltrona lendo algo de minha modesta
biblioteca, com um copo de bom vinho tinto.
Lendo estas mal traçadas, o eventual leitor já deve ter um
quê de déjà vu. Pois é... Apesar de ateu, sou uma das inúmeras e possíveis
reencarnações do personagem de Jacques Tati (-scheff), aquele velho que se
perde no jardim modernoso e ridículo dos primos, Meu Tio, obra-prima do cinema
francês.
Adoro Trafic.
ResponderExcluirDestaque para a sequência de gente enfiando o dedo no nariz.