COLUNA
CARLOS BRICKMANN
Lembrando uma ótima piada, o especialista explicava que a hiena comia mal, dormia mal, mantinha relações sexuais uma vez por ano. Um espectador perguntou:
"De que ri o animalzinho?" Joaquim Levy achava essencial cortar quase R$ 70 bilhões de despesas (mas o Governo não cortou nenhum dos 113.540 funcionários sem concurso, nem dos 200 mil terceirizados; o Congresso criou despesas novas para a Previdência; o Judiciário tenta um aumentão); e acreditava que o Tesouro deveria gerar superávit primário de 1,1% do PIB, para evitar que a dívida pública subisse mais (obteve 0,15%, e olhe lá, se tudo der certo). Mas Joaquim Levy continua no cargo, sempre sorridente. Estar ministro deve ser ótimo.
Joaquim Levy, o implacável Mãos de Tesoura, não era tão implacável assim. A meta de superávit, que ele fixara em R$ 66,7 bilhões (com precisão de algarismos depois da vírgula), ficou em R$ 8,5 bilhões. Pode virar déficit.
Merreca. Nada comparável a ter Excelência antes do nome e carro com chapa de bronze.
Na verdade, a farra de gastos começou antes de Dilma, de Lula, antes até de Fernando Henrique. Como demonstraram os professores Samuel Pessoa, Marcos Lisboa e Mansueto Almeida, a despesa pública no Brasil sobe mais do que a receita
desde 1991. Não foi Joaquim Levy que elevou as despesas. Mas, com o risco de perda do grau de investimento (que joga o dólar para cima e faz com que os juros pagos pelo Brasil no Exterior se multipliquem), caberia a ele a tarefa de começar a botar ordem na casa. E não é que parecia o homem certo para isso?
Nova pergunta
Talvez a questão inicial seja errada. Talvez se deva perguntar de quem ele ri.
O poço sem fundo
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, certamente tem muitos defeitos. Mas burro não é; e tem fama de estudar os assuntos antes de falar sobre eles. Cunha faz oposição ao Governo, mas não se arriscaria a uma bobagem que em pouco tempo se tornaria óbvia. Diz que não vai haver superávit, não: haverá déficit.
Déficit leva o país a perder o grau de investimento - a fama de bom pagador.
O fundo do poço
Mas o caro leitor deve tranquilizar-se: segundo o ministro Joaquim Levy, a situação "parou de piorar". Na opinião de Sua Excelência, portanto, já chegamos ao fundo
do poço. Agora é torcer para que o Governo não jogue terra em cima. Mas a festa continua Todos concordam: é preciso conter despesas oficiais, certo?
1 - O Senado aprovou a criação de 200 novos municípios. Mais prefeitos, vereadores, assessores. No total, calcula-se algo como 15 mil gulosas boquinhas.
2 - A Câmara Federal reservou R$ 789.800,00 para alugar carros que servirão aos deputados neste segundo semestre. Motoristas e combustível à parte.
3 - A Assembleia Legislativa de São Paulo abriu licitação para comprar 56 carros, que servirão a Suas Excelências. Os carros serão obrigatoriamente sedãs, com transmissão automática e ar condicionado, quatro portas, motor de no mínimo l.800 cm³ e 140 cavalos. E custarão pouco menos de R$ 5 milhões de dinheiro público.
A abertura dos envelopes da licitação está prevista para amanhã.
4 - Twitter do senador Roberto Requião, do PMDB paranaense: "Departamento jurídico de Itaipu contratou filho de Cedraz para defender a usina na questão de ser ou não fiscalizada pelo TCU. PQP!" Refere-se ao advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do TCU, Aroldo Cedraz.
5 - Mas, em 2 de junho, o psicólogo e ex-deputado Maurício Requião, irmão do senador Requião, foi nomeado por Dilma para o Conselho de Itaipu. São R$ 20.800,00 por mês para participar de seis reuniões por ano.
6 - Ao lado de Maurício Requião, está no Conselho de Itaipu o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto. Foi nomeado em 2003 pelo presidente Lula, e de lá para cá recebeu sucessivos mandatos. O atual termina em maio de 2016. Desde 2010 Vaccari enfrenta processo por acusações de desvio de recursos da Bancoop, cooperativa habitacional dos bancários, que presidiu. De acordo com o Ministério Público, responde por estelionato, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e formação de
quadrilha. Mesmo assim, foi reconduzido em 2012.
Neste momento, por motivos de força maior, não pode comparecer às reuniões.
Tudo tem motivo
É por essas e por outras que a popularidade de Dilma, que já está abaixo da inflação, caminha rapidamente na direção de ficar menor que o pibinho de 2015.
Onde há crescimento
Um grande jornal impresso noticiou discretamente o crescimento do número de meses contido em cada ano (deve ser algum viés contra o Governo, este de não dar destaque à expansão em algum setor). Diz a reportagem, sobre a compra do jornal britânico Financial Times para o grupo japonês Nikkei, que a transação ainda tem de passar pelo cumprimento das formalidades legais. O negócio será concluído, segundo a notícia, apenas "no quarto quadrimestre de 2015". Como nunca dantes neste país, já em 2015 haverá pelo menos quatro quadrimestres, ou 16 meses.
Os funcionários do jornal deveriam receber 16 salários.
carlos@brickmann.com.br
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