Brasileiro ex-aluno de escola pública é professor em universidade na Suíça
Elison Matioli, de 35 anos, fez curso técnico, Poli-USP e doutorado no MIT.
'A pessoa tem que sonhar alto, acreditar, e colocar isso como meta', ensina.
Depois de ter estudado em escola pública durante todo o ensino fundamental, médio e técnico, Elison Matioli cursou engenharia na Escola Politécnica da USP, fez PhD na Universidade da Califórnia, pós-doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e hoje é professor da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), na Suíça.
Ele contou ao G1 sobre os passos que o levaram a conquistar uma vaga de professor em uma das mais prestigiosas instituições de ciência e tecnologia do mundo. Aos jovens que estão começando a graduação, ele aconselha: “A pessoa tem que se dar a liberdade de sonhar tão alto quanto quiser, acreditar no que realmente quer fazer e colocar isso como meta”.
Elison conta que seu interesse por eletrônica surgiu ainda na infância por influência do pai. “Ele é engenheiro elétrico e a maioria das minhas brincadeiras envolvia alguma coisa em eletrônica.” Por isso a opção por fazer escola técnica em eletrônica pareceu interessante. “Minha família me incentivou e falou: de alguma forma, você já vai ter uma profissão ao se formar no colégio técnico.”
O ensino técnico, porém, não dava a base necessária para passar no vestibular, especialmente em matérias como história e geografia, segundo ele.
Suas aspirações quanto ao ensino superior eram baseadas nos filmes americanos que se passavam em universidades importantes. “Lembro que em várias situações eu falava: vou estudar no MIT, vou para Harvard. Sempre tive isso na minha cabeça, só não sabia como ainda. Em algum momento, ficou claro que a melhor opção que eu tinha seria entrar em uma boa escola de engenharia: a Poli.”
Depois de fazer um ano de cursinho à noite, enquanto trabalhava como técnico durante o dia, Elison conseguiu passar no vestibular para engenharia na Escola Politécnica da USP.
Oportunidades no exterior
Na Poli-USP, Elison percebeu que gostava muito mais da parte básica de matemática e de física do que da aplicação dessas disciplinas. Foi quando surgiu a oportunidade de fazer um programa de duplo diploma na École Polytechnique, na França. Ele foi um dos dois selecionados entre alunos de todos os anos da Poli. “Lá eu sabia que a educação era muito mais focada em matemática, física e em ciências básicas.”
O duplo diploma abriu oportunidades importantes. Foi lá, por exemplo, que conheceu o professor que o convidou para um estágio na Universidade da Califórnia, onde acabou se tornando aluno de PhD logo em seguida da graduação.
“Comecei em 2006 na Universidade da Califórnia. Foi fantástico porque a faculdade tinha cinco prêmios Nobel ativos como professores. Ter acesso a esse tipo de gente é extremamente inspirador.” Lá, Elison trabalhou inclusive com os prêmios Nobel de Física de 2014, Shuji Nakamura, e de 2000, Herbert Kroemer.
Durante o PhD, ele trabalhou no aperfeiçoamento da eficiência de emissão de luz no LED. Quando concluiu a pesquisa, observou que esta área já tinha sido muito desenvolvida. “Percebi que, se quisesse ficar na área científica, deveria procurar por novos desafios. E um deles era a utilização do mesmo material que eu usava nas pesquisas com LED – o nitreto de gálio – na área de eletrônica.” Ele partiu então para o MIT para fazer seu pós-doutorado no tema.
A ideia, segundo ele, parte do interesse crescente pelo uso de tecnologias sustentáveis. “Essas tecnologias sustentáveis vão precisar de componentes eletrônicos de potência eficientes.” Os componentes que existem hoje, segundo ele, precisam de áreas muito grandes, além de refrigeração. “Nossa ideia é substituir, no futuro, essas grandes placas por microchips de potência que sejam muito mais eficientes, ocupem uma área menor e operem a temperaturas muito mais altas.”
Tornando-se professor
O passo seguinte na trajetória acadêmica e profissional de Elison foi buscar uma posição como professor de uma grande universidade. “Ter uma vaga de professor é talvez uma das coisas mais difíceis. Em geral, existem 500 PhDs concorrendo a cada vaga.” Desses 500, um grupo seleto é chamado para entrevista, que pode durar de dois a três dias.
Nessa etapa, o candidato é solicitado a dar palestras, participar de reuniões e visitas, além de expor seus planos para o futuro na área de pesquisa e educação. “É uma bateria, às vezes começa 8h da manhã e vai até 9h da noite direto. Terminando, você ainda vai jantar com um grupo de professores e o jantar também faz parte da entrevista.”
Em um processo como esse, Elison foi selecionado para ser professor na EPFL, na Suíça, entre outras universidades. Ele credita a conquista ao fato de ter obtido resultados importantes de pesquisa em diferentes instituições de renome internacional e a prêmios que recebeu ao longo de sua carreira.
'Mas você ainda está estudando?'
“As pessoas têm que tentar identificar o que realmente querem. Acho que tem várias outras opções além de terminar a faculdade e começar a trabalhar para alguém. Quando você quer uma coisa muito forte, ela acontece. Pode não ser exatamente como esperava, mas acontece”, diz o cientista.
“As pessoas têm que tentar identificar o que realmente querem. Acho que tem várias outras opções além de terminar a faculdade e começar a trabalhar para alguém. Quando você quer uma coisa muito forte, ela acontece. Pode não ser exatamente como esperava, mas acontece”, diz o cientista.
Elison conta que, ao optar pelo PhD logo depois da graduação, sentia certa pressão de outras pessoas por não estar trabalhando ainda. “Alguns amigos que já estavam trabalhando me diziam: ‘Mas você ainda está estudando? Quando começa a trabalhar?’.” Ele garante que adiar em alguns anos essa gratificação valeu a pena. Foi essa experiência que ele compartilhou recentemente com estudantes de graduação da Poli em uma palestra motivacional, que pode ser vista no YouTube.
Para quem quer seguir seus passos, ele recomenda cultivar também outros interesses além do estudo, como praticar algum esporte ou tocar instrumentos, o que é inclusive bem visto nas universidades estrangeiras. “Sempre joguei futebol nos times da Poli e, na minha passagem pelo MIT, joguei no time de lá.” Na Califórnia, sua atividade preferida era surfar e na Poli chegou a participar de competições de carrinho de rolimã.
nem sempre a "mãe" pátria é tão gentil.
Lendo esta reportagem, reporto-me a situação mais que sabida que é a falência da escola pública com a encarnação do desmantelamento de um suporte importante: família!. Um dos meus sobrinhos estuda na "École Polytechnique,", ( dedicação, determinação e estudo) antes passou pelo ITA...lendo esta reportagem, passa um filme quão importante mais que a escola pública é a maneira que a família conduz a vida escolar de uma pessoa. Lembro que quando criança, mesmo nascidos no miolo de Salvador, um bairro longe do cento da cidade, o esforço para estar mais perto de onde o "mundo" girava para "beber" das fontes deste mudo e na metamorfose da vida, nos transmutar. Os sobrinhos na idade de 4, 5 e 6 anos, eu lhes apresentava os museus e Salvador, depois, com a sorte, fizerem iniciação musical. no Instituto de Música da Católica, eles tocam (pra espairecer) e não sei se pintam pra "espairecer" Enquanto hoje jovens não sonham mais na Bahia, há ainda a situação vergonhosa de mães disputam o mesmo namorado com as filhas nos pagodes (nunca vi, não me dou ao "luxo" de ir pra ensaios ou tretas do desnível em Salvador, mas, o que nos apresentamos de cultura na cidade do barroco que foi transformada em axé??? Há necessidade de tornar séria a chamada "pátria educadora" Ainda sobre família, éramos dentro do contexto de classe média baixa (era assim antes) mas dentro de casa sempre tinha livros, livros e livros. Nunca fugimos as responsabilidades de educar. Em tempo, os sobrinhos nunca concorreram ao sistema de cota, estudaram no IFBA, foram medalhistas das olimpíadas de física e matemática. O governo nunca nos deu nada, toda parte do conhecer é do viés da conquista e condução do eixo da família. E mais, moramos "ainda" em Pau da Lima...o lugar não é tudo, as interações é são determinantes entre o que podemos "ser" no lugar de "ter". O que escrevi "fugiu" um pouco do texto , peço desculpas, mas os jovens estão sem noção na Nação.
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