Janio de Freitas
Os chefes presentes em Paris se dividem entre os que ganham com venda de armas e os que compram armas
Olhar para aqueles chefes nacionais apenas pelo que são, sem os relacionar ao simbolismo pretendido de suas insípidas presenças na manifestação parisiense, proporciona uma visão da orientação atual do mundo: desordem e hipocrisia como normas globais.
Dos 25 presidentes e primeiros-ministros na primeira fila, não preenchem cinco dedos os que estejam isentos de envolvimento com algum tipo de violência grave, não sejam coautores da difícil situação do seu país, e não sejam suspeitos de estar ali menos por sinceridade do que por proveito político e eleitoral. Neste caso incluído o próprio e patético presidente francês François Hollande.
Olhar para aqueles chefes nacionais é ter a percepção antecipada do insucesso a que estão fadadas, por longo tempo, as medidas que essa gente aprove contra as aflições do mundo. Com poucas exceções, os presentes ali se dividem entre os que ganham com venda de armas e os que compram armas para aparentar progresso e segurança em seus países. Quando não para oprimir povos mais fracos.
A esperança fica restrita à possível mobilização da inteligência para confrontar análises e propostas, que muitas vezes têm deixado sementes afinal colhidas por poderes como a ONU e a União Europeia. É assim mesmo, como incentivo, que se explica a existência da primeira, como, mais ainda, a da segunda dessas instituições.
HERANÇA
Mais um período crítico no fornecimento de passaportes pela Polícia Federal. São filas enormes para atendimentos que, em mais de um dos cinco postos da PF em São Paulo, estão sendo agendados com espera de dois ou três meses.
Os pretextos podem variar, mas são cíclicos esses períodos desrespeitosos com um direito importante dos cidadãos. Nada os justifica. Já, para começar, da entrega de tal serviço à Polícia Federal. Na ditadura, a paranoia do poder não pensaria senão em vigilância sobre os cidadãos. Mas não há motivo algum para a permanência dessa deformação burocrática. Como em nomeações para o serviço público, por exemplo, a polícia tem que ser, no máximo, órgão consultivo sobre eventual impedimento à liberação de passaporte. Providência que os sistemas informáticos reduziram a segundos.
A incapacidade brasileira de conceder passaportes com presteza e como direito é um resquício ridículo da ditadura, preservado pelo Ministério da Justiça.
NOVIDADE
É cedo para dizer que o novo governo começa nesta semana, com a volta de Dilma Rousseff e o ministério completo, seja lá o que isso expresse. O Congresso está em repouso --este, repouso oficial-- e ainda será preciso ultrapassar o Carnaval. Já deu para notar, porém, uma ocorrência inesperada: a preocupação de Joaquim Levy com a opinião pública.
Antes de assumir, Levy reiterou a urgência com que era preciso agir e a noção bem clara do que devia ser feito. Até agora, nenhuma providência nova. Em vez disso, a procura de aparecer para fotos e vídeos, sempre com sorrisos quilométricos, muito atencioso. E até oferecido para um programa de respostas a internautas.
Joaquim Levy busca, primeiro, conquistar simpatia pública, que é sempre um amortecedor eficaz. Uma novidade na era Dilma.
A DONA
Marta Suplicy pode fazer as queixas e acusações que quiser, mas criticar alguém por arrogância, isso não. O atributo é incomparavelmente seu.
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