segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A BELA TIGRESA


MARCELO TORRES

Na edição do último dia 3 de janeiro do "Jornal da Globo", o produtor cultural e escritor Nelson Motta disse que a musa inspiradora da música "Tigresa", que Caetano Veloso lançou em 1977, teria sido a atriz Zezé Motta.

A tigresa de unhas negras e íris cor de mel tem traços de Zezé. Há, porém, quem diga que a música é homenagem a Sônia Braga, musa do Brasil à época - por falar de uma deusa de pêlos (cabelos) que tremiam ao vento.

Para Nelson, contudo, Sônia teria inspirado outra canção, "Trem das Cores", também de Caetano Veloso. O fato é que, na sua coluna de hoje (11/01) no jornal O Globo, Ancelmo Gois traz essas versões e a palavra do próprio Caetano Veloso.

- Faz tempo me fizeram essa pergunta e eu disse que era Zezé e Sônia, mas também muitas outras mulheres - disse Caetano. - A Tigresa sou eu – arrematou o baiano, parafraseando Flaubert ("Madame Bovary sou eu"),

Tempos atrás, o cantor e compositor havia registrado em seu site que, à época em que compôs a letra, não sabia que "tigre" era um substantivo epiceno, ou seja, não sabia que o feminino de "tigre" era "tigre fêmea".

Coloquei de propósito o verbo "ser" no pretérito imperfeito ("era") porque "era" assim - não é mais. Depois da música, a palavra "Tigresa" passou a ser o feminino de tigre, que, assim, deixou de ser substantivo epiceno.

Inclusive, em Portugal - e no Brasil - muitos puristas da língua até hoje não aceitam, não usam essa forma (tigresa), apesar de já estar dicionarizada, consagrada pelo uso.

Vê-se que Caetano não usou aí a chamada “licença poética”, que é a violação consciente da norma culta da linguagem. Ele usou "tigresa" pensando que era certo, mas não era. No entanto, passou a ser.

Hoje, quase quatro décadas cantada e decantada, a palavra tigresa soa como música e poesia aos nossos ouvidos. Terá sido apenas por causa de sua sonoridade? Ou é porque foi Caetano que a "inventou"?

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