sábado, 17 de maio de 2014

É ARTE MESMO?

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15/05/2014
 às 18:28 \ Cultura

Arte moderna ou um bando de porcaria?

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Barquinhos no teto: arte?
Dia chuvoso, resolvo visitar o Pérez Art Museum Miami(PAMM), para ver se mudo meu preconceito contra certas tendências da “arte” moderna. Não sou conhecedor de arte, diga-se de passagem, mas sei quando estou diante de lixo pretensioso que se passa por arte. Não deu outra. Aquilo tudo reforçou meu preconceito, e saí mais convencido ainda de que se tudo é arte, então nada é arte. E de que é preciso traçar a linha divisória.
Vamos pelo começo. Fui almoçar no restaurante do museu antes de fazer o tour. Seu nome? Verde. No cardápio, quase tudo orgânico. Até o prosecco! O preço é salgado. Ou seja, o lugar perfeito para a beautiful people, a esquerda caviar que adora modismos e costuma coçar o queixo perplexa diante de qualquer porcaria “profunda”, mas que não passa de porcaria.
Adiante: US$ 12 para ver as obras de “arte”. Lá vou eu, ossos do ofício (ou masoquismo mesmo). Deparo-me logo na entrada com barquinhos pendurados no teto. Visão familiar: em Angra dos Reis há vários vendedores desses barquinhos, ou coisa muito similar. As pessoas compram e colocam para decorar suas casas de praia. Mas ali, pendurados no teto, por algum motivo devem ser vistos como um grande toque artístico.
Depois, coisas inexplicáveis, esquisitas, fálicas, feias, mas cujas descrições invocam “inconsciente”, “profundidade”, “nebulosidade”, e qualquer outro adjetivo para incognoscível, indizível, etc. Ou seja, não diz absolutamente nada, não toca na alma (ao menos não na minha, ou talvez eu seja um desalmado), mas deve ser visto como bastante profundo de qualquer maneira, justamente por ser incompreensível. Duas amigas viam as baboseiras com uma lupa, e suspiravam: “Amazing!”
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Caixas de papelão: arte?
Subo um andar, e a coisa só piora. O sensacionalismo exala por cada parede. Imagens e vídeos com aleijados, com gente feia, com miséria. Penso em Roger Scruton e na importância da beleza. Tudo ali remete à culpa, uma forte culpa das elites, lembrando que quem banca mesmo tais obras de “arte” são os ricos, não os pobres. Seria uma forma de expiar tal culpa?
Além dela, há também o proselitismo ideológico por todo canto. É uma “arte” feita não para retratar sentimentos universais e atemporais, ou mesmo momentos históricos marcantes, e sim para vender ideologia, enfiar política goela abaixo das pessoas, fazer proselitismo. Claro, a mensagem predominante é antiamericana, anticapitalista, anticonsumista, etc.
Estou lendo Sangue nas Veias, o novo livro de Tom Wolfe, autor de vários livros que desnudam essa esquerda festiva, inclusive no campo das artes. Como este se passa em Miami, é claro que o autor não perderia a oportunidade de alfinetar a patetice feita em nome da arte moderna.
O Miami Beach Art Basel, que reúne bilionários do mundo todo desesperados para torrar milhões com as novidades do mercado artístico, merece um capítulo inteiro no livro, chamado de “O super bowl do mundo da arte”. O retrato que Wolfe faz é cruel, mas verdadeiro. Afinal, ele é mestre em capturar o zeitgeist e os motivadores psicológicos dessas pessoas, ávidas por estar onde as coisas estão acontecendo. A analogia que faz é a mais dura possível:
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Coca-Cola com mensagem “Yankees go home”: arte?
Mais pareciam vermes… eram curtos, moles, mortalmente pálidos, e não formavam algo ordenado como uma colmeia. Aquilo era um enxame serpeante, deslizante, coleante e conflitante de vermes, passando por cima ou por baixo uns dos outros, em um frenesi sem pé nem cabeça, literalmente sem cabeça, para chegar à carne morta.
Ou seja, os ricaços em busca da nova sensação, da mais quente arte de vanguarda, dispostos a gastar milhões com porcaria pornográfica só porque “especialistas” garantem que aquilo é incrível, seriam como as larvas descefalizadas que atacam bichos mortos, sem cabeça, só com frenesi, com um único sentido: o ímpeto. Absolutamente cegas, movidas apenas por esse ímpeto.
A necessidade de se sentir cool, por dentro, parte do jetset, um VIP que frequenta os mesmos lugares badalados das celebridades, de estar onde as coisas estão acontecendo, é isso que move tanta gente na mesma direção. Quem vai ter coragem de gritar que o rei está nu? Quem vai querer demonstrar ser um pequeno-burguês insensível e sem cultura que não se emociona diante de esculturas horrendas, pinturas grotescas e colagens estúpidas, mas que os “entendidos” juram de pé junto se tratar de algo sensacional e profundo?
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Pergaminho retirado da vagina em ato performático: arte?
Wolfe narra no livro um ato “performático” de uma mulher que deixa uma pesada beca cair e se mostra totalmente nua, apenas para começar a retirar em seguida várias salsichas de sua vagina, recitando um “poema” em que afirma ser, agora, uma “desfodida”. Uma das primeiras coisas que vi no PAMM foi um desenho ridículo de uma mulher que fez algo similar, retirando da vagina um pergaminho enorme com um “poema” escrito. O pergaminho está lá, dentro de um vidro, para quem quiser ver esta grande obra de “arte”.
Ah, a arte moderna é um bálsamo para inúmeros oportunistas de plantão, para embusteiros de todos os tipos, para malandros sem habilidade e vocação verdadeiros. Afinal, se tudo é arte, então nada é arte. E se vale tudo, então por que não posso realizar um ato “performático” e me tornar também o mais novo representante “icônico” da vanguarda?
Basta um milionário inseguro e desesperado para mergulhar no mundo onde as coisas estão acontecendo decidir pagar uma fortuna por minha “obra”, assessorado por um “especialista” qualquer que lhe garante se tratar da mais impactante demonstração artística dos últimos tempos, e voilà: tem-se um novo artista no pedaço, que todos os ricaços precisam ter, para não ficar para trás na corrida dos vermes. O oligarca russo e o gestor de fundos de Connecticut estarão dispostos a “investir” somas imensas para proteger seu status frente à concorrência…
Rodrigo Constantino

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