VIXE, A MEMBRANA LASCOU.
Por André Carvalho, em 10 de junho de 2013
Com propriedade, apurado senso de humor e respeito às peculiaridades do vocabulário soteropolitano, o jornal Correio* estampou, em sua manchete principal – edição nº 11.178, salvo engano - um irresistível “Vixe, lascou!” a propósito do desabamento da cobertura da Fonte Nova.
Recém-inaugurada com um pontapé da presidente Dilma, sob aplausos da claque política, a Arena Itaipava Fonte Nova, ex-Estádio Otávio Mangabeira, não resistiu às águas de maio e desabou à semelhança do seu maior usuário, o Esporte Clube Bahia.
Burocratas do consórcio que administra a vantajosa PPP - Parceria Público Privada – atribuíram o acidente a uma (sic) falha humana específica, sem, contudo, apontar o responsável. Para eles, uma lona dobrada e lá esquecida, juntamente com as chuvas que caíram sobre a cidade, causou o desabamento do que chamam, bestamente, de membrana. Trataram a questão de maneira superficial esquecendo que o acontecido poderia causar uma tragédia
Para o Consórcio Fonte Nova Negócios e Participações a membrana cedeu. Mais honesto seria admitir que a cobertura do estádio desabou, desmoronou, caiu, ruiu. Ceder (segundo o Aurélio) implica em anuir, condescender, transferir direitos, assentir em alguma coisa, o que uma membrana, por mais leve, transparente e avançada que seja, é incapaz de fazer.
Se o desastre ocorresse em dia de Ba x Vi ou em um dos jogos da Copa das Confederações, o país estaria enlutado como esteve por ocasião do incêndio da boate kiss no Rio Grande do Sul. Estaríamos, nós baianos, computando uma terceira tragédia no local.
A primeira delas, em 1971, ocorreu quando da inauguração do anel superior da arquibancada do estádio, ocasião em que mais de dois mil torcedores ficaram feridos em virtude do pânico causado pela explosão de um refletor. Outros morreram sem que o verdadeiro número de óbitos fosse divulgado. Eu estava lá e tenho aterradoras imagens registradas na memória.
Recentemente, em 25 de novembro de 2007, o desmoronamento de parte da arquibancada matou sete torcedores. Desta vez, já não estava por lá, até porque a tragédia era anunciada, na medida em que o espaço havia sido interditado e, sem qualquer manutenção, liberado popularescamente pelo governo que assumiu o Estado naquele ano. Até hoje, os verdadeiros culpados por tamanha irresponsabilidade estão aí, lépidos e fagueiros, desfilando suas valiosas imunidades.
Cresci ouvindo que é melhor prevenir do que remediar. Mesmo sem qualquer tendência para conselheiro sugiro à torcida tricolor, à torcida rubro-negra e aos possuidores de ingressos para jogos da Copa das Confederações que escutem o saudoso Dorival Caymmi.
“Se fizer bom tempo amanhã,
Se fizer bom tempo amanhã, eu vou,
Mas se por exemplo chover,
Mas se por exemplo chover,
Não vou...
Diga a Maricotinha
Que eu mandei dizer que não tô,
Não vou, nem tô”...
No recado a Maricotinha, Caymmi estabeleceu uma condição meteorológica singular como determinante da sua presença. Quem vive por aqui sabe que nesta época do ano as chuvas são torrenciais e constantes e nada mais sensato do que respeitar os fatos, as evidências e os fenômenos naturais.
Aos que não seguirem Caymmi outro conselho: levem capas, guarda chuvas e galochas, pois que as goteiras e os alagamentos são muitos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário