Levantei,
como a cada dia, antes das seis horas da manhã. A dificuldade que era, quando
adolescente, de me arrancar da cama... Gosto de sentir o ar ainda infantil.
O amplo manto da noite enfim se recolheu pelos lados de Salinas das Margaridas. Vou até a varanda de meu quarto onde crescem rúcula, tomates e morangos. Plantando tudo dá. Da raquítica parreira, nunca colhi um grão de uva sequer. Os pássaros chegam sempre primeiro. Molho os canteiros, tiro uma plantinha invasora ou uma pedra, colho os primeiros frutos, quase maduros.
O amplo manto da noite enfim se recolheu pelos lados de Salinas das Margaridas. Vou até a varanda de meu quarto onde crescem rúcula, tomates e morangos. Plantando tudo dá. Da raquítica parreira, nunca colhi um grão de uva sequer. Os pássaros chegam sempre primeiro. Molho os canteiros, tiro uma plantinha invasora ou uma pedra, colho os primeiros frutos, quase maduros.
Pretextos
para tocar a terra. Quotidiano ritual de comunhão com a natureza.
Troquei
a água dos pássaros. Chega um bem-te-vi. Vaidoso, com sua enorme barriga cujo
amarelo que, de tão óbvio, parece propaganda das tintas Suvinil, olhos
escandalosamente maquiados de preto. Metido, este bicho!... Recebe sem tardar o
apelido de Pavarotti. Bebe dois goles rápidos e, após sonoro grito, voa em
direção á palmeira rabo-de-peixe. Esta, plantei há pouco mais de cinco anos e é
a estrela de meu jardim. Nunca vi palmeira tão bela. Estou loucamente
apaixonado por ela.
Sento
na velha cadeira de vime. A brisa que vem da baia depositou umas folhas secas
aos meus pés. A mesma brisa faz dançar uma pequena semente negra com touca de
pelos dourados. Uma semente de opereta. Pronto chegam três outras, idênticas,
também minúsculas, empenhadas em celebrar a primavera ainda longuinha, já que
estamos apenas no primeiro dia de setembro. Rodopiam numa valsa incerta, raveliana. De onde vieram? Do quintal vizinho, da ilha
do Frade? E quando, finalmente, se fixarem num pedaço desta imensidão que é o
mundo, após mergulharem com louvável paciência suas microscópicas raízes no
solo, em que irão se transformar?
Todo
o profundo mistério do universo está diante de meus olhos, dançando, dançando,
por horas, até um vento mais forte ou uma boa vassourada acabar com a farra.
Deveria
falar para a Marta deixar de limpar hoje a varanda.
Mas,
se ela perguntar porquê, será que terei coragem de confessar tão boba razão?
Por
causa de quatro sementinhas que mal se vêem a olho nu?
Ora,
ora!...
Dimitri
Ganzelevitch
Salvador, 3
de setembro de 2008.
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