quinta-feira, 4 de outubro de 2012

SOBRE O FILME "A COLEÇÃO INVISÍVEL"


CRÍTICA DO JORNAL O GLOBO

                

... Uma surpresa da Bahia, que bate prego com o martelo do exotismo. O concorrente baiano se chama "A coleção invisível" e é dirigido por um francês radicado no Brasil, chamado Bernard Attal, que aqui rodou o documentário "Os magníficos" (2010).
Attal foi ainda um dos produtores do curta-metragem "O príncipe encantado", de Sérgio Machado ("Cidade Baixa"), que lhe auxiliou no roteiro do drama apresentado a um Odeon gorducho de espectadores.

 Dele, saltam duas virtudes: a) uma trilha sonora composta na veia do equilíbrio com miados de Tiê na canção final; b) a chance de provar para os cineastas que Vladimir Brichta veio do mesmo leito (a peça "A máquina") que revelou um certo Wagner e um certo Lázaro. Attal tratou o moço como um intérprete dado a desafios e não como um galã.
Defendido como discurso sobre o poder redentor da invenção na montagem de Karen Harley,

 "A coleção invisível" põe Brichta como Beto, um sujeito devastado pela perda de seus amigos. Eles morreram num desastre rodoviário, após uma balada. Afogando-se em vodka e cigarros, Beto recebe uma proposta capaz de resolver suas dificuldades financeiras e de satisfazer sua mãe. Filho de um negociante de antiguidades, ele é escalado para reaver gravuras raras, atribuídas ao pintor pernambucano Cícero Dias, de um acervo no sul da Bahia, pertencente a um latifundiário do cacau derrotado por uma peste agrária. Cheio de mágoas, Beto se embrenha estado adentro, numa jornada que delimita bem as diferenças entre o polo rural e o urbano da geografia baiana sem jamais resvalar na caricatura. O senhor de terras que ele é busca foi atribuído ao ator Walmor Chagas, sempre vigoroso em suas aparições (cada vez mais raras).

Na tela, a viagem de Beto só perde musculatura conforme vai se atendo a regrinhas de redenção dos road movies. Mas é um pecado venial, que não esmorece a sobriedade com que os personagens vão sendo construídos e desnudados. É o melhor desempenho de Brichita até aqui (sem contar suas aparições recentes no teatro, como "Arte") e é um olhar sem vícios sobre um pedaço do Brasil que já revelou dragões como Glauber e Edgard Navarro.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/um-acaraje-na-dose-certa-de-dende-surpreende-premiere-brasil-6265507#ixzz28NJ5BGhd
© 1996 - 2012. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails