sábado, 20 de outubro de 2012

OS ARMAZÉNS DA UTOPIA



O Rio de Janeiro continua lindo, afirmou Caetano.
 Lindo? Não. Deslumbrante. Em 1936 - por coincidência ano de meu nascimento - Stephan Sweig, chegando de navio, declarou “Esta cidade, realmente, tem magia”. Convidado, neste princípio de outubro, pela produção do filme “A coleção invisível” de Bernard Attal, onde contraceno por dois curtos momentos com o Wladimir Brichta, aqui estou, hospedado numa casa amiga do Jardim Botânico. 
De minha janela, a floresta, o Corcovado e as costas do Cristo Redentor. Logo na manhã seguinte ao meu desembarque, a primeira visita é para o quartel geral do Festival de Cinema, no porto. 
Os longos galpões foram reabilitados e um deles abriga, com espaço, conforto e contemporaneidade, o cérebro e o coração do evento. Salas de convívio, de games, auditório, telas projetando documentários. Um cineasta americano dá uma entrevista concorrida sobre fundo azul da Guanabara. Bar, sofás e poltronas, tapetes, arranjos florais, informações, entrega de credenciais. 
Tudo respira competência e profissionalismo. 
Durante duas semanas o festival movimentará mais de cem mil espectadores em várias salas. 
Em quatro armazéns e um anexo do Píer Mauá, setembro foi o mês da Feira Internacional de Arte Contemporânea, num total de 13mil metros quadrados. Apresentou mais de cem galerias nacionais e estrangeiras.
Para tanto dinamismo cultural – e evidentes conseqüências para o turismo – não foi preciso derrubar nada, nem um só tijolo. Como em Lisboa. 
Toda a estrutura metálica foi deixada à mostra. Como em Belém do Pará. 
Nossos edis, que tanto gostam de viajar, ainda não notaram que os conceitos mais atuais de urbanismo se afastaram da derrubada, sempre nociva, preferindo a adaptação?
No Rio de Janeiro a lição foi colocada em prática e toda a área portuária esta sendo revitalizada com criatividade, inserindo-a com sensibilidade na dinâmica desta parte da cidade.
 A natureza agradece as toneladas de entulho evitadas.
Só tem um defeito: é menos oneroso, portanto menos intermediários metem a mão no bolso do contribuinte.


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