Ricardo Noblat
Uma vez que o senador Delcídio Amaral (PT-MS) delatou Dilma, Lula e companhia ilimitada, sinto-me liberado para contar o que ouvi dele no primeiro semestre de 2006, a poucos meses da reeleição do então presidente Lula.
Delcídio era o presidente da CPI dos Correios que investigava o mensalão. Eu nunca havia conversado com ele antes. Jantamos no Restaurante Alice, no Lago Norte. E, ali, ele me disse o que segue.
Algumas semanas antes, se reunira em Belo Horizonte com Marcos Valério, o publicitário mineiro que operara o esquema do mensalão junto ao tesoureiro do PT Delúbio Soares. Valério estava aflito e furioso. Tivera dinheiro bloqueado por ordem judicial.
Precisava de ajuda para fazer face às suas despesas. Ameaçava contar o que sabia sobre o pagamento de propinas a deputados e senadores para que votassem no Congresso como mandava o governo.
Depois de ouvir o desabafo de Valério, disse-me Delcídio que havia pedido uma audiência a Lula. Fora recebido por ele no gabinete presidencial do terceiro andar do Palácio do Planalto. Delcídio transmitiu a Lula o que ouvira de Valério. E a primeira reação de Lula foi se calar.
Por alguns segundos, narrou Delcídio, Lula olhou parte da vegetação do cerrado que se descortinava a partir da janela envidraçada do seu gabinete. Parecia tenso. Voltou-se então para Delcídio e perguntou: “Você já procurou Okamotto?”
Delcídio respondeu que não. E Lula mais não disse e nem lhe foi perguntado. Seria desnecessário, observou Delcídio entre uma taça e outra de vinho chileno. Estava sóbrio, registre-se.
Paulo Okamotto era uma espécie de tesoureiro informal da família Lula. Ganhara o emprego de presidente do Sebrae. Hoje, é presidente do Instituto Lula, local de despacho do ex-presidente em São Paulo.
Delcídio procurou Okamotto. E logo depois foi procurado por Antonio Palocci, ministro da Fazenda, que fora acionado para garantir o silêncio de Valério.
Em sua delação, ainda não homologada, mas publicada pela revista IstoÉ, Delcídio detalha o que me revelara antes de maneira mais econômica. Valério não recebeu os R$ 220 milhões que pediu, só parte deles. O suficiente para permanecer calado.
No dia seguinte ao encontro com Lula, Delcídio afirma que recebeu uma ligação do então ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos. “Parece que sua reunião com o Lula foi muito boa, né?”, perguntou o ministro.
A resposta de Delcídio foi a seguinte: “Não sei se foi boa para ele”. Na sequência, Palocci ligou para Delcidio dizendo que Lula estava “injuriado” com ele em razão do teor da conversa.
O que Palocci disse faz bem o estilo de Lula. O ex-presidente, desde os seus tempos de líder sindical, sempre soube de tudo o que acontecia ao seu redor. Tudo controlava. Mas se irritava quando ficava claro que ele sabia.
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