Neste 13 de julho, os nove vereadores de Santo Antônio da Platina, interior do Paraná, só precisaram de meia hora de sussurros para decidir que quem cuida do presente de um município inteiro não merece perder o sono no futuro com carências financeiras. Indiferentes às palavras de protesto berradas por uma mulher na plateia, os atores de quinta categoria aprovaram por unanimidade o projeto que duplicou o salário mensal da turma no palco ─ e, de quebra, premiou o prefeito com um aumento de bom tamanho.
Descobriram em poucas horas que a manifestante solitária vocalizara a indignação dos 47 mil moradores escalados, sem consultas nem aviso prévio, para financiar a safadeza perdulária. Estimulada pela divulgação do vídeo que registra o duelo desigual entre uma brasileira valente e um bando de malandros insolentes, a impressionante mobilização dos lesados aguçou o instinto de sobrevivência política dos parteiros da gastança. E o que ainda resta de juízo recomendou-lhes que contivessem a cobiça.
Bater em retirada é sempre constrangedor, mas seria perigoso demais aguardar no cenário do crime o transbordamento do pote até aqui de cólera. Bem pensado, constatou-se nesta quarta-feira. Antes que o plenário superlotado começasse a exigir em coro a ressurreição da vergonha assassinada, os vereadores aprovaram uma emenda que transformou aumento em redução. Dois dias depois de subirem para R$ 7.500 por mês, os R$ 3.745 que os integrantes da Câmara recebem despencará para R$ 970 em janeiro de 2016.
Sobrou também para o prefeito, o ordenado de R$ 14.760 permaneceu estacionado em R$ 22 mil por apenas 48 horas. Vai baixar para R$ 12 mil por decisão de sete dos oito vereadores que formalizaram a capitulação. Outro 7 a 1 inesquecível. A reportagem do Jornal Hoje, da TV Globo, resume o triunfo da sensatez sobre a pouca vergonha. O que se vê e ouve informa que o que houve no município paranaense vaçe para todo o território nacional. O que pode parecer uma extravagância localizada é a contundente reafirmação de verdades antigas como o mundo.
A cidade é o país em miniatura. O povo é o protagonista da História, e tem força de sobra para forjar o próprio destino. Homens providenciais são uma velharia só desejada por primitivos sem cura. Nem o mais soberbo dos tiranos resiste à voz das multidões afrontadas por embusteiros no poder há mais de 12 anos. Neste 16 de agosto, os brasileiros que nunca se renderam prometem voltar às ruas. Que a imensidão de democratas se mire no exemplo de Santo Antônio da Platina.
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