sexta-feira, 17 de julho de 2015

COLLOR E OS VEÍCULOS DA DESTRUIÇÃO


A busca policial em quatro endereços do senador Fernando Collor, com a apreensão de três carros de luxo (incluindo um Porsche, uma Ferrari e um Lamborghini Aventador que pode valer mais de dois milhões) na famigerada “casa da Dinda” é cheia de simbolismo. Empossado presidente em 1990, Collor era um machão e um playboy. Notabilizou-se por frases como a de que tinha nascido com o saco roxo, e a de que os carros brasileiros eram carroças.
O impeachment de Collor, após três anos de governo e um ano e meio de progressivas denúncias de corrupção, marcou o início de um ciclo virtuoso para o Brasil. Seu vice Itamar, que assumiu; Fernando Henrique Cardoso (que foi ministro de Itamar) e Lula foram presidentes que construíram uma história de avanços sociais, éticos e econômicos, na qual a vitória do candidato do PT nas eleições de 2002 foi um ápice, pelo seu significado psicossocial.

Evidentemente esse processo se deu com contradições e contrapassos, mas o país que parecia ter emergido do processo era mais justo e estável. Foi então que duas escolhas de Lula e do PT começaram a cobrar seu preço. A primeira foi a definição do PMDB, e dos pequenos partidos “de aluguel”, como aliados preferenciais para sua base, desde 2002. Esse modo de governar consolidou o início da fase de rivalidade acirrada com o PSDB (que havia se aproximado da direita do DEM para eleger Fernando Henrique em 1994) e está na origem do mensalão: o fluxo de dinheiro necessário para “comprar” essa base fisiológica.

A outra escolha de Lula foi “inventar” Dilma, egressa do PDT de Brizola e sem uma história consistente de ativismo, a não ser sua controversa passagem pela guerrilha. A escolha de Dilma em detrimento de outros sucessores possíveis, como Marina Silva, hoje sabemos, tem a ver com o dinheiro da corrupção. O principal embate que tirou Marina do ministério de Lula foi em torno da construção da usina de Belo Monte (defendida por Dilma e atacada por Marina), fonte de uma propina de 100 milhões, divididos entre PT e PMDB.

Quanto a Collor, depois de cumprir seus 8 anos de cassação de direitos políticos, retornou à política e, surpreendentemente (mas não) foi parar exatamente na base de apoio do PT. Eleito senador por Alagoas em 2007, virou lulista de infância. Pago com o dinheiro desviado da Petrobrás. Como bom playboy, a vida de Collor tem muito a ver com carros. Desde a humilde Fiat Elba comprada com dinheiro de seu tesoureiro e testa-de-ferro P.C. Farias, que foi uma das peças-chave de seu processo de impeachment (numa queima de arquivo, P.C. foi assassinado em Alagoas, em 1996). Passando pela Ferrari, a Maserati, a BMW e o Citroën da sua declaração de bens de 2010. E chegando ao Lamborghini dos sonhos apreendido (por suspeita de ter sido comprado com dinheiro de propina).

Para Collor, é um ciclo irônico que se fecha. Mas a ironia também espirra em Lula e no PT, que tiveram o mais aguerrido debate eleitoral com Collor em 1989 (quando o candidato, entre outros golpes baixos, arrastou uma ex-namorada de Lula e sua filha Lurian às “acusações”), e que foram essenciais à queda de Collor em 1992. É triste que, depois de quase ter sido varrido da política nacional, Collor tenha voltado para fazer parte da história da decadência, corrupção e destruição do PT.


Alex Antunes é jornalista, escritor e produtor cultural e, perguntado se era um músico frustrado, respondeu que música é a única coisa que nunca o frustrou. Foi editor das revistas Bizz e Set, e escreveu para publicações como Rolling Stone, Folha Ilustrada, Animal, General, e aquela cujo nome hoje não se ousa dizer. Tem uma visão experimental da política, uma visão política do xamanismo, e uma visão xamânica do cinema.


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