LÚCIO FLÁVIO PINTO
Quantos brasileiros se dispõem a comprometer cinco dias da sua vida numa viagem de ônibus por 2.100 quilômetros da empoeirada BR-364, de Cuiabá a Rio Branco, passando por Porto Velho, numa das mais dinâmicas e violentas frentes pioneiras do
país?
Na segunda semana de junho, foi o programa escolhido por 30 integrantes da
diplomacia chinesa no Brasil e executivos de empresas da China com negócios locais. Dentre eles, três presidentes de bancos chineses no Brasil, comandados por Zhao Guicai, que comanda a unidade local do Banco Comercial & Industrial da China, a maior instituição financeira do país e a maior do mundo, com ativos de mais de três
trilhões de dólares, com subsidiárias e agências em 43 países.
Eles foram conhecer a região na qual os chineses pretendem construir a ferrovia
transoceânica para ligar a região produtora de grãos do Centro-Oeste brasileiro ao Pacífico. Segundo a edição de hoje do Valor, o único órgão da grande imprensa que se interessou pelo assunto, o grupo, depois de conversar com os governadores e empresários de Mato Grosso, Rondônia e Acre, “ficou impressionado com o potencial do projeto e o interesse que desperta nas localidades a serem
impactadas”. O ICBC, o banco de Zhao, decidiu acompanhar os próximos passos do projeto e pode financiá-lo.
O volume de crédito concedido pelo ICBC no Brasil ainda é pequeno, apenas superior a US$ 100 milhões para clientes locais. Mas através de outra empresa, o ICBC Leasing, forneceu à Embraer e a outros clientes serviços financeiros em valor total de US$ 3 bilhões. Seu maior interesse é em grandes volumes de commodities, especialmente exportação de produtos agrícolas. Os principais clientes são empresas líderes do segmento agrícola do comércio bilateral sino-brasileiro nos ramos de soja, café, frigoríficos, entre outros, disse Zhao Guicai em entrevista ao Valor.
Ele informou que atualmente, há quatro bancos chineses no Brasil: BOC (Banco da China), ICBC (Banco Industrial e Comercial da China), CCB (China Construction Bank), e um escritório de representação doBanco de Desenvolvimento da China (banco de política).
Lembrou que durante a visita doprimeiro ministro chinês ao Brasil, no mês passado, o governo chinês, o governo brasileiro e empresas chinesas e brasileiras firmaram um total de 35 acordos de cooperação. Dentre estes, cinco foram firmados pelo ICBC. O banqueiro espera que estes acordos “sejam implementados o mais breve
possível, e acreditamos que o comércio e o investimento entre o Brasil e a China irão se ampliar ainda mais após a implementação de tais acordos”.
A viagem de junho, à qual ele se referiu como coisa certa, foi realizada “para discutir o caminho da ferrovia transoceânica que será construída”, com cinco mil quilômetros de extensão, passando pelos três Estados que visitaram, “o celeiro do Brasil”, ocupados por pastoreios e fazendas. Atualmente a rodovia está “em condições precárias, o engarrafamento é grave, e devido a restrições de tráfego, a produção é limitada”.
Os benefícios econômicos e financeiros, porém, “serão ilimitados uma vez a ferrovia
esteja construída. O primeiro passo será um estudo deviabilidade feito pelos chineses, fazendo uma avaliação ambiental simultânea do Brasil e Peru. O ICBC irá
acompanhar os próximos passos do projeto”, garantiu Zhao. Disse que o projeto “foi bem recebido e apoiado pela população local”.
Quem, agora, dará o próximo passo? Dentre as possibilidades, não há uma que envolva o Pará, à margem dessa história, embora ela o atinja.
COMENTÁRIO DO BLOGUEIRO
A colonização do Brasil pela China será muito mais dura que a portuguesa.
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