Saímos
emocionados. Nó na garganta. Já no carro, meu irmão confessou: “A gente se
sente tão orgulhoso de falar português!”. O Museu da Língua Portuguesa em São
Paulo é um dos espaços mais belos, instigantes e dignos que conheço.
Aprendi a
língua de Eça em Lisboa, durante quinze anos de prática, dentro do relativo academismo
que até as varinas e os saloios dominam desde o Minho ao Algarve. Lembro de meu
espanto ao ouvir “Me dê dois pão!”pela primeira vez, na soteropolitana padaria A
Favorita.
Até escrever n´A Tarde, o caminho foi longo, minha língua materna
sendo o francês apimentado com expressões do árabe dialetal marroquino. No
liceu Gouraud de Rabat, latim, inglês como segunda língua e espanhol como
terceira. Em todas, admito, péssimo aluno.
Mas, querendo ou não, algo ficará
para sempre na memória do irrequieto ex-adolescente.
Foi aqui, na
Bahia, que mergulhei com intensa volúpia na tentativa de dominar o português. Dois
dedos no teclado da Olivetti. Modestamente, publicando no Shopping News. Mais
tarde na Gula, gulosa revista paulista. No suplemento chefiado por Patinhas na
Tribuna da Bahia. Aterrissando – agora mal equilibrado no computador cheio de
armadilhas - por uns anos na Gazeta Mercantil e finalmente, desde 2010, neste
centenário quotidiano que hoje me abriga.
Não sei o que pode sentir alguém que
nasceu na língua de Fernando Pessoa e Euclides da Cunha ao escrever, mas para
mim, educado entre Molière e Balzac, poder me expressar lusitanamente – apesar
de limitações mil – tem o sabor de uma constante vitória. É como se conseguisse
andar em campos floridos, mas movediços.
Descobrir uma nova palavra, encantamento.
Abro o dicionário – sou fã de dicionários – e encontro: Esfolhear, Remeloso,
Comutar, Ofegoso... Não parece música de Bartok ou Boulez? Gostaria de usar
estas palavras, mas como, sem dar uma de sabichão novo-rico?
Pois é... Assumo.
Adoro minha língua portuguesa!
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