quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O MONET SOCADO

Como um Monet de 12 milhões de dólares foi restaurado depois de levar um soco

Como um Monet de 12 milhões de dólares foi restaurado depois de levar um soco


Há quase três anos, um irlandês chamado Andrew Shannon deu um soco num quadro de Monet de 141 anos que estava exposto na Galeria Nacional da Irlanda. A pintura Bacia de Argenteuil com um único veleiro foi gravemente danificada, ou pelo menos era o que parecia.

A pintura apresentava três rasgos irregulares no meio, torcidos para fora de onde o punho de Shannon bateu na tela. Shannon, por sua vez, está agora a cumprir uma pena de cinco anos pelo seu crime, que o Metro UK explica como «uma tentativa de voltar para o estado normal». Mas a restauração meticulosa tomou quase tanto tempo quanto o período dele na prisão.
Embora parecesse impossível de ser restaurado, especialistas da Galeria Nacional da Irlanda publicaram um relato detalhado do que foi feito, e o processo parece-se muito com uma cirurgia angustiante.
Primeiro, conferiram se tinham todas as peças. Esta é uma pintura de 130 anos de idade, e quando foi perfurada, diz a galeria, «minúsculos fragmentos de pintura e terra soltaram-se e depositaram-se na superfície da pintura ou no chão nas proximidades». Eles tiveram que escolher com cuidado e classificar todas essas migalhas e flocos de tinta para que pudessem ser restaurados.

Mesmo assim, algumas das partes eram demasiado pequenas para se descobrir de onde eram. «Sete por centro dos fragmentos perdidos durante os danos eram tão pequenos que, mesmo com um poderoso microscópio, era impossível realocá-los de volta na pintura», afirmou a galeria. Porém, acabaram por ter um papel útil na restauração; o laboratório foi capaz de analisá-los quimicamente para descobrir a composição da tinta usada por Monet.
Sabendo mais sobre a procedência da tinta, era chegada a hora de começar. Para reparar a pintura, seria necessário virá-la de cabeça para baixo - foi posta num «colchão almofadado» - e, para «estabilizar» o quadro, a equipa cobriu o lado pintado com «uma baixa concentração de cola animal à base de água». A ideia era fortalecer a pintura ao mesmo tempo em que muita coisa estava a acontecer do outro lado da tela.
Com o auxílio de um microscópio de alta potência e pequenas ferramentas de formato apropriado, as bordas do rasgo foram cuidadosamente alinhadas fio-a-fio. A reunião das fibras realinhadas e quebradas da tela envolveu a aplicação de um adesivo formulado especialmente para conseguir uma ligação forte, mas reversível entre os finais das linhas. Este material adesivo foi utilizado e desenvolvido pelos restauradores de pinturas na Alemanha nos últimos 40 anos.
O processo incluiu pequenos instrumentos cirúrgicos de aço para trabalhar em pequenas áreas, usando um microscópio; mini-espátulas quentes para aplicar calor controlado e localizado na pintura; placa de aquecimento e recipientes de vidro para manter o adesivo a uma temperatura constante. O adesivo de colagénio hidratado foi feito em estúdio.
Pode parecer uma cirurgia, e é de facto bastante semelhante. Os fios frágeis e envelhecidos são quase como vasos sanguíneos, que precisam de ser cuidadosa e delicadamente amarrados ou religados. Qualquer erro e toda a pintura poderia ter sido perdida.
Mas ainda havia uma enorme cicatriz no meio da pintura. Então, como se estivessem montando um quebra-cabeças, a equipa colocou os fragmentos de pintura recolhidos de volta a onde pertenciam usando um microscópio - depois, usaram gesso e aquarela para retocar as linhas restantes.

Uma das coisas mais interessantes sobre o relato detalhado do restauro é que, ao longo do caminho, cada uma das técnicas foi projectada para ser reversível. Esta é uma ideia que percorre todo o restauro de arte e até mesmo a arqueologia: embora possamos pensar que estamos a melhorar ou a estudar um pedaço da história da forma menos prejudicial possível, é provável que os restauradores do futuro terão melhores tecnologias e técnicas para o trabalho que estamos a fazer agora.
Por isso, é necessário garantir que se deixe um caminho bem claro de migalhas de pão. Pistas que, daqui a algumas décadas, possam ajudar os futuros técnicos a entender qual a melhor forma de consertar as pinturas.

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