MARCELO TORRES
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Capital que talvez não tivesse tal batismo, pois chegaram a ser ventilados nomes como Nova Lisboa, Imperatória, Cabrália, Petrópolis,
Tiradentes e Planaltina ("De Nova Lisboa a Brasília: a invenção de uma capital", de Laurent Vidal).
Mas Brasília, senhores, é antes de tudo - antes de JK, de Lucio e Niemeyer, antes mesmo de Dom Bosco -, é Brasil em latim. Brasílio e Brasília são adjetivos relativos a Brasil, masculino e feminino.
Nos tempos em que o Brasil começou a se livrar de Portugal, parte da população passou a recusar nomes europeus e registrar nomes e sobrenomes "patrióticos", ligados às coisas nativas.
Frederico G. Edelweiss, no livro "A antroponímia patriótica da independência", revela centenas de nomes e sobrenomes desse fenômeno, como Jurema, Brasilino, Amazonas, Guanabara, Buriti, Cajueiro, Mangabeira, Jambeiro, Paraguaçu e outros.
De adjetivo-pátrio Brasília virou nome feminino, substantivo próprio. A mãe do poeta Castro Alves, por exemplo, era Clélia Brasília. E o primeiro amor do moço Rui Barbosa foi uma senhorinha chamada Brasília.
Na biografia do "Águia de Haia", publicada pela Fundação Casa de Rui Barbosa, e disponível na Internet, extraímos o seguinte trecho:
"...Em 1872 iniciou-se no jornalismo, no Diário da Bahia, e viveu a sua primeira crise amorosa. Brasília era o nome da senhorinha e morava no bairro de Itapajipe [Salvador, Bahia]."
Então, senhores, vejam como é interessante a história das palavras. Brasília, essa palavra mal falada por muitos compatriotas, estigmatizada como sinônimo de corrupção, é, antes de tudo, um adjetivo-pátrio.
É, também, nome de mulher: a mãe do poeta condoreiro e o primeiro amor do "Águia de Haia". Brasília, Brasil em latim, nome de mulher e de cidade - esta cidade de asas. Como a águia, o condor e o avião.
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