quarta-feira, 12 de março de 2014

AGRESSÕES VIA TWITTER

Na noite de sexta-feira (28/9) estava na redação, fechando uma das últimas páginas do caderno de esporte que viria a rodar no domingo seguinte, quando começo a receber mensagens na conta que mantenho no Twitter. A primeira delas veio do sr. Bruno Brizeno, funcionário do Departamento de Futebol do Esporte Clube Bahia, mandando eu tirar “a cara de viado”.Outras foram se sucedendo em um curto espaço de tempo. Uma delas, sem me citar diretamente na rede social, do sr. Sérgio Queiroz Bezerra, conhecido como Kabrocha, braço direito do presidente do Bahia, Marcelo Guimarães Filho (ex-deputado federal pelo PMDB), e espécie de “faz tudo” dentro do clube, que me xingava de “maconheiro mirim”.O irmão do presidente, sr. Marcos Guimarães, que, entre íntimos, também atende pelo apelido de Telefunken, escreveu que eu fumava maconha para curar o “corno da namorada”.
Neste ínterim, entre absorver as agressões virtuais e indagar, também via Twitter, aos meus detratores se aquilo seria uma ameaça, criaram um perfil falso com meu nome, no qual continuaram a atacar minha honra. Na própria definição do perfil falso isso já ficava bem claro: “Fake do jornalista do A Tarde. Usuario de entorpecentes. Fã da erva. E não apenas mais um rostinho bonito! Um usuario felizz! legalize jaaaa!”
As ofensas passaram então a ser encaminhadas para meu perfil falso. Com o sr. Brizeno dizendo até que “o doce dele ta guardado. Vai cair no meu colo. Essa boneca” e mesmo que “Ousadia, o viadinho tem muita, eu quero vê é depois, qdo tiver largado. O q é q vai fazer”.
Matérias de bastidores
O que mais me espantou na história, porém, partiu de dois outros personagens que preferi guardar para este momento do relato. Participou também das agressões verbais o sr. José Eduardo, conhecido como Bocão, radialista da Itapoan FM e apresentador do programa policial Se Liga, Bocão!,na TV Itapoan(afiliada da Record na Bahia). Assim escreveu ele, ainda naquela longa noite de sexta-feira, sem direcionar a mensagem: “Odeio jornalista esportivo vagabundo! Esse mané vai aparecer na minha e vai levar piau”. Depois lançou um trocadilho barato com meu sobrenome (Uzêda): “O que fazer com jornalista maconheiro? Prende ou deixa Azedar?”Mais alguns segundos e o sr. Luis Gustavo Alves, irmão de José Eduardo e um dos diretores do site de notícias Bocão News, também passou a dirigir palavras pouco simpáticas a meu respeito: “Só anda no Rio Vermelho queimado fumo”, disse ele.
Achei logo estranho que um profissional da imprensa participasse de um conluio para prejudicar outro colega que milita na mesma profissão. Há alguns meses venho publicando matérias que trazem à tona os bastidores do Esporte Clube Bahia. Em junho deste ano, o jornal A Tarde divulgou, em matéria assinada em parceria minha com o jornalista Daniel Dórea, uma reportagem investigativa levantando pontos na negociação de um jogador da base do clube, que teve, de forma pouco transparente, 20% do seu passe destinado a um empresário que recentemente entrou para o mundo do futebol. Com a transferência deste jogador para Portugal, o empresário recebeu mais de R$ 1 milhão pela transação.
Uma semana antes de começarem as agressões, tive acesso às contas do clube, referentes ao ano de 2011, e veiculei uma notícia revelando que o Bahia tinha fechado a temporada com débito de R$ 18 milhões no caixa, o que depois foi confirmado pela própria diretoria em seu site oficial. Fui autor também de matérias, ano passado, que mostravam problemas na formação do conselho que reelegeu Marcelo Guimarães – apontando a escolha de conselheiros irregulares, de acordo com o próprio estatuto do clube, e substituição de 58 outros nomes por suposta preferência política.
Dúvidas não respondidas
Isso talvez explique a fúria dos funcionários do Bahia que atacaram minha honra, embora não justifique a ação. O que não se entende e nem se compreende é a cólera de dois profissionais da imprensa neste mesmo caso. Naquela mesma sexta, consegui o celular do radialista José Eduardo e liguei para ele, a fim de que respondesse à mesma pergunta levantada aqui neste texto. A conversa foi nervosa, recheada de palavrões por parte do radialista, que afirmou que “resolvia as coisas pessoalmente e se quisesse poderíamos nos encontrar naquele exato momento para nos entender”. Quando rebati dizendo que só uso dos meios legais para solucionar qualquer tipo de pendência, ele debochou: “Tenho mais de 180 processos. Um a mais não fará a diferença.”
O ponto mais importante da conversa – qual seria a razão de um profissional da imprensa ofender um colega que publica informações que envolvem diretamente a vida de clube de massa – não chegou a ser respondido. O radialista limitou-se a dizer que eu “estava me achando muito estrelinha”... Não, não acho que a imprensa deva ser corporativista e apoiar qualquer material publicado por outro veículo, até por questão de concorrência e diferentes ideologias do campo jornalístico, mas entendo que existem formas de se fazer qualquer tipo de contestação. Apresentar uma matéria levantando outro enquadramento, outro ponto de vista, cobrir eventuais buracos deixados na apuração da empresa concorrente, enfim... Ofender a honra e atacar covardemente um colega, em conchavo com funcionários de um clube, não parece ser a opção mais ética, além de levantar dúvidas sobre a estreita proximidade que um profissional da imprensa pode vir a manter com um cartola e seus asseclas.
No intuito de ter alguma de minhas dúvidas respondidas, seja pelo presidente do Bahia, pelos funcionários detratores ou mesmo pelo radialista e seu irmão, aqui escrevo ocupando este nobre espaço.
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[André Uzêda é jornalista]

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