Estes últimos dias têm sido invadidos
na imprensa escrita, nos canais de televisão e nas redes sociais – blogs e
facebook – por um tsunami de declarações contra e a favor de nosso movimento “Aqui
podia morar gente” exigindo a adequação dos 1500 imóveis abandonados para
receber moradores, laser, comércio e outros meios de sustentação.
A senhora declarou nas entrevistas um
número de obras que deveria entusiasmar os leitores e quem se interessa pelo
centro histórico de Salvador, caso fosse esta a realidade.
Em 2009 a senhora já falava nos 200
milhões investidos neste bairro considerado pela Unesco como Patrimônio da
Humanidade. Neste fim de governo estadual a Conder recebe mais 135 milhões para
a mesma proposta.
Vamos admitir que é muito dinheiro para pouco resultado.
Vamos admitir que é muito dinheiro para pouco resultado.
Nas gavetas de seu Escritório de Referências
jaz uma montanha de projetos não realizados.
O palco móvel no Largo do Pelourinho,
projeto singular do arquiteto modernista Pasqualino Magnavita. Para tanto foi destruída
a Praça do Reggae. Hoje cresce capim e mamoeiros.
A Vila Nova Esperança, antiga Rocinha
da Rua Alfredo Brito. Vocês desalojaram 60 famílias, logo a seguir a tomada de
posse do Secretário de Cultura em 2006. Quase oito anos... Alguma coisa foi
feita além do projeto do arquiteto Marcelo Ferraz? Nada!
A República de Estudantes após dois anos de obras
A república de estudantes andaluzes,
na Rua do Tesouro. Lugar inóspito, deserto e perigoso após as 18:00. Lá estão
os tapumes, os escoramentos – a propósito, quanto custa o aluguel destas vigas
de ferro? Alguns estão corroídos após mais de vinte anos de uso – mas a
Andaluzia, onde a senhora viajou em 2011 (?) expressamente para este propósito,
deve manter seus 71 festivos estudantes aguardando com imensa paciência na fila
do check-in.
Os turistas adoram fotografar a fiação elétrica
A colocação da fiação elétrica e
outras debaixo da Rua Direita de Santo Antônio, velha promessa nunca comprida de
políticos sempre empolgados antes das eleições. Por enquanto moradores têm que
conviver com estes perigosos cabos emaranhados a poucos centímetros de suas
fachadas, que os turistas, divertidos, adoram fotografar. Vocês tiveram várias
reuniões de trabalho para discutir problemas do bairro. Um arquiteto catalão
trabalhou de graça por algumas semanas, mas os passeios continuam estreitos e
invadidos pelos carros e o Largo não recebeu o mínimo tratamento paisagístico.
As três praças do Pelourinho foram
contempladas com um concurso a nível nacional para reabilitação. Dizem que é
excelente o projeto vencedor de um talentoso arquiteto paulista. Mas cadê a
concretização? Já lá vão alguns anos e as ditas praças cada mês mais
decadentes.
A lista dos projetos anunciados não
acaba aqui, mas minha paciência, sim.
A cem metros do hotel de luxo Convento do Carmo
admirem o estado de conservação de nosso centro histórico
Estes milhões, que só pagaram
duzentos ou trezentos metros de calçada mais ampla no Pelourinho, já invadidos
pelos ambulantes, uma deprimente montanha de concreto servindo de escadaria frente
a Casa de Jorge Amado e a pintura
ridícula, agressiva e leviana das fachadas – até roxo, lilás e bordô! – estes milhões
sumiram no ralo da mais total incompetência.
A poucos meses de nova governadoria,
está na hora de prestar contas, Dra Beatriz. Como foram e estão sendo usados
estes 335 milhões (e muito mais!) que o contribuinte confiou a seus administradores?
Sim, porque o que foi feito nestes
quase oito anos não satisfaz nem os moradores, nem os comerciantes e muito
menos os turistas mais avisados.
Está na hora de dialogar de igual
para igual, sem condescendência nem paternalismo, com quem entende, usa, trabalha e vive no centro histórico. Aliás,
esta é a principal pedra no nosso caminho: nenhum de vocês, senhores
administradores, vive no centro histórico de Salvador.
É tempo de acordar para a realidade e
não ficar entulhando projetos, Dra. Beatriz!
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