domingo, 3 de abril de 2016

CADÊ A TRANSPARÊNCIA?

Movimentos antigoverno não revelam origem e volume de suas receitas


As finanças dos principais movimentos pró-impeachment, responsáveis por mobilizar milhares de pessoas em protestos contra a presidente Dilma Rousseff, são uma caixa preta. Nenhum dos três principais grupos que convocaram os grandes protestos antigoverno divulga a origem e a quantidade de dinheiro usado para custear suas ações políticas.

Apesar de exigir transparência do governo, os movimentos informam apenas que o dinheiro entra através de doações de pessoas físicas e da venda de produtos. Não se sabe o número de doadores ou o valor da colaboração média. Há casos de recebimento de doações em conta de pessoa física e de coleta informal de dinheiro vivo.

Folha buscou detalhes das finanças dos três grupos mais influentes nas redes sociais: Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra Rua e Revoltados Online.
O MBL, único que enviou dados à reportagem, divulgou despesas no último protesto em São Paulo, que reuniu 500 mil na avenida Paulista, sem indicar origem dos recursos. Foram gastos R$ 28 mil com caminhão, seguranças e publicidade no Facebook, entre outras despesas.
O montante, porém, não refere-se ao total usado nas atividades do movimento, que incluem viagens a Brasília. Os fornecedores não são divulgados e as notas não foram enviadas até a conclusão desta edição.
O Vem Pra Rua se negou a abrir detalhes dos doadores. Segundo o porta-voz do movimento, Rogério Chequer, contribuições nem sequer passam por conta bancária. A orientação aos colaboradores, diz, é que paguem diretamente aos fornecedores.

O Revoltados não respondeu aos contatos da Folha.
Sem prestação de contas não é possível verificar, por exemplo, se os doadores são apartidários e se não há dinheiro público, como alegam os movimentos.
O MBL é o único que tem cadastro de pessoa jurídica para receber doações, mas ele está registrado no nome de Stephanie Santos, irmã de Renan Santos, um dos líderes. Ela é proprietária do Movimento Renovação Liberal, uma associação privada.

Outro líder do grupo, Kim Kataguiri, colunista da Folha, chegou a pedir doações para sua conta bancária.
A última informação sobre valores arrecadados foi divulgada em agosto de 2015 referente ao protesto daquele mês: R$ 17,7 mil em doações via Paypal, R$ 10 mil em doações diretas e R$ 9 mil com a venda de camisetas.
Com bom relacionamento com o empresariado paulistano, o Vem Pra Rua recebe contribuições de envolvidos, mas diz não as contabilizar.

Em Brasília, o grupo fechou contrato com um carro de som para quatro dias ao custo de R$ 40 mil, segundo o empresário que forneceu o equipamento, Rubens Dornelas, 48. "Temos um relacionamento que vem desde o ano passado. Como é um pacote, cobrei R$ 10 mil por dia. Para pagar, eles fazem uma vaquinha e coletam doações no próprio carro", diz.

O Revoltados Online, liderado por Marcelo Reis, alcançou 1,5 milhão de seguidores no Facebook e usa essa influência para obter recursos.
Em seu site, bonecos Pixuleko, que chegam a custar R$ 5 na rua 25 de Março, em São Paulo, saem por R$ 20. O dinheiro vai diretamente para sua conta bancária pessoal.

OUTRO LADO

O Vem Pra Rua e o MBL argumentaram que não estão sujeitos às mesmas exigências de transparência do governo pois não recebem dinheiro público.
"Não recebemos de partidos políticos nem da Fiesp", afirma Rogério Chequer.
O MBL ressaltou que faz tudo dentro da lei. "Valores que foram eventualmente creditados em conta corrente de membros do MBL constituem exceção", informou.

O grupo, que divulgou gastos do último ato apenas em São Paulo, disse que o caixa não é centralizado e que cada núcleo financia o protesto em sua cidade.
O movimentou citou o caso da marcha a Brasília, que usou financiamento coletivo para arrecadar R$ 59 mil reais de uma meta de R$ 20 mil. A plataforma usada discrimina quantos apoiadores pagaram cada uma das cotas.

O MBL diz não nomear fornecedores para evitar que sofram retaliação.
Marcelo Reis, do Revoltados Online, não atendeu aos pedidos de entrevista. 

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