Mal saiu um
administrador que administrava mal nossa memória, entra um engenheiro - por
motivos que nada têm a ver com cultura – a ocupar a presidencial poltrona do
IPHAN na sórdida ladeira do Berquô. Nada de pre-conceito. Podemos até ter uma
boa surpresa.
Mas cá entre nós, saberá ele recusar as tentações do mercado
imobiliário e as verdes seduções das grandes empreiteiras? Não será hipnotizado
por uma mansão com iluminação hollywoodiana em condomínio de luxo? Terá suficiente
competência, permeada de sensibilidade, para impedir agressões como, por
exemplo, o abominável edifício La Vue que em breve acabará com o feitiço do
Porto da Barra? Saberá da importância das pedras portuguesas que tanto
contribuíram a lusitanidade da primeira capital do Brasil? Ousará negar os dez
milhões de reais para o salão de festas do homofóbico padre da Igreja da
Conceição da Praia? Afinal, se é importante investir na preservação dos
monumentos que pontuam nossa história, não seria esta obra, como o arcebispado
da Praça da Sé, do único domínio da igreja católica?
Você acha certo, amigo
leitor, este gasto enquanto o estado deve 15 milhões ao hospital da Irma Dulce?
Ou, para ficar no mesmo contexto, que o pátio do convento de São Francisco está
a desmoronar, perdendo um tão rico quanto raro patrimônio de azulejos barrocos?
Onde está o dinheiro do Banco do Vaticano? Afinal, este fechou 2014 com um
lucro confessado – sem falar dos desvios - de uns 70 milhões de euros! ...
Que o competente
baiano ministro da Cultura Juca Ferreira tenha sido atropelado na nomeação do
engenheiro, não deixou dúvida na boataria dos corredores do poder. Porque não foi
indicado um arquiteto ou um historiador? O IPHAN é hoje uma velha senhora, nem
sempre tão digna, que precisa de muita, muita cirurgia estética, ética e
estrutural.
Assim vão
nossa cultura e nossa memória, levianamente consideradas pelos governantes como
descartáveis enfeites de carnaval.
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