sábado, 7 de novembro de 2015

O PALÁCIO DAS MARAVILHAS

Desapropriação vai resgatar papel cultural do cine Jandaia

Anderson Sotero
O Palácio das Maravilhas já foi o mais luxuoso cineteatro da cidade - Foto: Lúcio Távora | Ag. A TARDE
O Palácio das Maravilhas já foi o mais luxuoso cineteatro da cidade
As ruínas do Cineteatro Jandaia, na Baixa dos Sapateiros, não são apenas impressionantes. Entre cadeiras quebradas, pedaços de madeira pendurados e parte do teto desabando, dão mostras do que foi uma das mais importantes casas de espetáculo de Salvador, o chamado "Palácio das Maravilhas".
Mas, no lugar da vegetação que surgiu sobre escombros e avança pelo espaço, pode surgir outro cenário. Nesta sexta-feira, 6, o governo do estado anunciou que um novo equipamento cultural pode ser construído no local, onde já se apresentaram nomes como Carmem Miranda, Bidu Sião e Dalva de Oliveira.
Como primeira etapa, o governador Rui Costa determinou que o Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia (Ipac) realize obras emergenciais de conservação do cineteatro - como o escoramento de toda a estrutura do imóvel, tombado como patrimônio cultural desde 2010.

Saiba mais

Em seguida, o governador anunciará, na próxima semana, a desapropriação do Cine Jandaia. Segundo o Ipac, o imóvel pertence, atualmente, a Carlos Valensi, um descendente de franceses que mora no Rio de Janeiro.
Ele é herdeiro de um complexo de cinemas em várias cidades brasileiras, totalizando cerca de 60 imóveis, dentre eles o Jandaia. A TARDE tentou localizá-lo, mas não obteve êxito.
O imóvel já foi alvo de um decreto de utilidade pública do estado, em 21 de dezembro de 2014. Consiste, segundo a assessoria do governo baiano, na primeira fase de um processo administrativo para promover a transferência da propriedade privada para a administração pública.
"A Bahia precisa de equipamentos culturais que aproximem a população da arte, por isso não podemos deixar um ícone para a nossa cultura, como foi o Cine Jandaia, ser destruído. Nosso objetivo é que o novo centro seja voltado para a promoção de artistas locais", ressaltou Rui Costa.
Projeto
Por fim, o governador determinou que, após  a desapropriação, o Ipac apresente proposta de uso para o espaço. As determinações do governo ocorrem na mesma semana em que está prevista uma manifestação no local. Neste sábado, será dado um abraço simbólico no cine.
De acordo com o diretor- -geral do Ipac, João Carlos de Oliveira, a situação se arrasta desde 2008, quando foi dada a notificação para abertura de processo de tombamento da edificação, solicitada por integrante de um curso de história da Universidade Católica (Ucsal).
Havia um projeto do Ipac para escoramento desde 2010, mas  não foi posto em prática. Nesta sexta, uma equipe do órgão esteve no local para fazer vistoria. "Desde 2009, não foram feitas (pelo dono) ações de conservação do bem. O Ipac vem executando ações como a remoção dos vitrais art déco que compõem as fachadas e estão guardados no nosso acervo técnico", destacou.
A intervenção para escorar o mezanino, forro, cobertura e trechos da fachada terá um custo de R$ 3 milhões e levará cerca de 90 dias. Segundo Oliveira, o instituto ajuizará o caso para que o valor gasto seja ressarcido ao estado pelo proprietário.
Oliveira adiantou que a ideia, ainda não finalizada, é que seja implantado, no Jandaia,  um equipamento cultural multiúso. "Queremos uma proposta clara para ser apresentada à sociedade no primeiro semestre de 2016. A ideia é que seja um espaço para  artistas baianos, onde possa ser realizado um pocket show, uma peça de teatro e um festival de cinema, por exemplo", afirmou.
Histórico
Ainda conforme o Ipac, o proprietário do Jandaia  foi denunciado ao Ministério Público estadual (MP-BA). Procurado por A TARDE, o órgão respondeu que não  localizou o caso. O Ipac informou que, desde 2008, houve reuniões com o dono e  representantes dele para apresentar linhas de financiamento estaduais, mas  ele não teria se interessado.
O instituto passou, então, a notificá-lo por tratar-se de um patrimônio cuja estrutura está deteriorada e não houve qualquer  intervenção. No último dia 15, segundo Oliveira, o órgão emitiu um documento para o MP-BA, informando que o proprietário não  cumpriu acordo firmado em audiência pública para apresentar  projeto de recuperação do espaço.

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