sábado, 17 de outubro de 2015

VOCÊ CONHECE SUA MÃO DIREITA?

TADEU ARAÚJO 

Gente,
Hoje vou iniciar meu trololó fazendo uma brincadeirinha; um pouco ridícula, talvez, mas cujo desmembramento, espero, justifique-a. É assim: você conhece sua mão direita? Ela é grande ou pequena? A pele é clara ou escura? De olhos fechados, consegue visualizá-la mentalmente? Acho que até aqui todos vocês devem ter respondido sim, o que nos faz deduzir que cada um conhece a própria mão direita, certo? Depende. Para checar seu real conhecimento sobre sua mão direita, vamos a perguntas um pouco mais, digamos, abrangentes e profundas: você sabe o tamanho exato de sua mão direita? Quanto ela pesa? De quantas células é constituída? Ao longo de sua vida, até agora, quantas delas morreram? Qual o índice de tensão e relaxamento de seus ossos, nervos e músculos? Quantos microvasos sanguíneos a percorrem? Bem, acho que agora a coisa mudou de figura. Embora as perguntas refiram-se a uma pequena parte de seu próprio corpo, que cada um de nós imagina conhecer bem, e de certa forma conhece, como demonstrado aqui esse conhecimento é apenas parcial e se atém basicamente aos dados observados pela visão, que nos permite sondar apenas sua superfície. Com base nesse raciocínio podemos afirmar, então, que o conhecimento que temos de nossa própria mão direita é de certa forma superficial.

Mas aonde eu quero chegar com todo esse lero-lero? Na verdade o que faço aqui é compartilhar com vocês um questionamento que vai e vem está em minha mente: o que é verdade? O que é ilusão? Qual a amplitude e limitação do que a gente conhece? E que dizer do que a gente desconhece? Obviamente, essas perguntas não são só minhas, muita gente se debruça sobre elas, talvez desde que o mundo pensante exista. Apesar disso, ainda não há respostas conclusivas.

Recentemente, citei a frase de Shakespeare de que gosto tanto, trazida ao mundo via Hamlet: "Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que imagina nossa vã filosofia". Em outra fonte literária, o Soneto do baiano Gregório de Matos, toca-se, embora em tom mais prosaico, sarcástico e restrito, no mesmo ponto: "A cada canto um grande conselheiro,/Que nos quer governar cabana, e vinha,/Não sabem governar sua cozinha,/E podem governar o mundo inteiro." Ora, se o ser humano, com todo seu desenvolvimento intelectual, tecnológico, científico não é capaz de responder a questões ordinárias sobre sua própria mão direita, como pode se arvorar a dizer que detém o domínio do mundo? Essa é uma questão crucial que fricciona e faz vibrar a corda bamba em que erguemos nossas certezas e traz à baila uma constatação: o certo é incerto, o completo é incompleto, o concluído é inconcluso, o fechado é aberto, o conhecido é desconhecido, a ciência é uma partícula, um átomo, diante da vastidão incomensurável do Universo. Já podemos observar que nossa mão direita é um pequeno e desconhecido universo, que dizer do grande? E se pensarmos que o Universo, embora permanente, está em constante transformação, a coisa fica mais complexa ainda. Mesmo a vida de cada um de nós se reconfigura a cada instante e a gente se perde dentro do próprio caminho. Como conhecer o que nunca está completo, que está em permanente transformação, em eterno devir? É difiícil, não?
Pois bem, como não poderia deixar de ser, encerro aqui minha rápida investigação, deixando as perguntas, já que as respostas não as tenho, e não é proposta minha escrever um tratado de ciência ou filosofia... Fui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails