quinta-feira, 22 de outubro de 2015

A TARDE, UTOPIA E REALIDADE

MALU FONTES

Quem mora em Salvador e entende ou se interessa minimamente por jornalismo, imprensa e mercado dos meios de comunicação está careca de saber da extensão e da profundidade da crise econômica do jornal A Tarde. Há anos que o mais tradicional jornal baiano não (já) havia sido vendido por falta de gente interessada e com muito dinheiro. Muito dinheiro, sim, mesmo que, matematicamente, o preço anunciado para a compra/venda seja considerado relativamente uma pechincha. Mas bota relativismo nessa pechincha, pois o grande valor em dinheiro a ser desembolsado por quem está disposto a comprar A Tarde não se refere ao valor em si do negócio, mas à monstruosidade dos passivos financeiros que o jornal dos Simões acumulou ao longo dos últimos anos. O tamanho das dívidas é assombroso. 

Aí... especula-se nomes da operação de venda (que, dizem, já estaria concretizada) e o que se vê é um lamento quase coletivo de viúvos e viúvas nas redes sociais por conta dos nomes dos supostos novos donos. Oi? A opção era: ou os Simões vendiam A Tarde ou o jornal se dissolveria literalmente em dividas, na insolvência absoluta. Já falta dinheiro para tudo há tempos! Ok. Negocia-se daqui, negocia-se dali e parece que agora a mudança de donos deslanchará. E por que esse choro medonho das pessoas. 


Só vejo duas hipóteses para tanto luto. A primeira: torciam para a falência definitiva, o fechamento das portas, a descompressão do jornal e pela sua desaparição e morte nas bancas e na web? 


A segunda: alguém que já passou da adolescência esperava que, num contexto desses, de crise no país (e crise mais velha e maior ainda no mundo da imprensa e sobretudo nos jornalões impressos) que um santo rico e desinteressado se interessasse por uma operação de risco de lucro como essa, em nome de altíssimos princípios ideológicos no que se refere à informação noticiosa necessária para acordar o mundo da alienação? Lendo determinados posts em redes sociais, suponho que algumas pessoas estavam certas de que os compradores d´A Tarde seriam Frei Beto, as Obras Sociais de Irmã Dulce e o Papa Chico. 


Daí a minha fé inabalável em água, jegue, revólver e dinheiro.

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