...NO CENTRO HISTÓRICO
Na década de 90 discordei do espírito que liderou a
restauração do centro histórico de Salvador.
Continuo discordando do aproveitamento
leviano que ainda vitimiza este pedaço de cultura e história, ora confundido
com um banal Wet´n Wild, ora palco de folclorizaçoes para turismo de massa.
Não
me conformo com as “baianas de receptivo”, suas roupas e torços, verdadeira
traição a elegância das vestimentas tradicionais. Você conhece cariocas, sevilhanas
ou cusquenhas de receptivo? Não me conformo com um monte de erros de como se
deve usar este bairro. Há uns dois anos
mandei pela internet uma sugestão de centro de convenções no Pelourinho. Receptividade
excelente. De que se trata? Simplesmente de mapear e usar as possibilidades
- e são numerosas - para atrair um
público variado de profissionais oriundos de todas as partes do mundo. Temos
salas de reunião e auditórios suficientes, hotéis e pousadas para todos os
bolsos, restaurantes, bares, sorveterias e teatros para o laser. E mais: não
será preciso construir um monstrengo de ferro e concreto para abrigar
seminários e congressos. Por que concentrar todos os serviços no mesmo espaço? Em
1999, fui convidado pela Unesco a um congresso sobre Turismo Cultural em Puebla,
no México, cidade tombada como patrimônio mundial. O centro de convenções fica
a cinco minutos a pé do Zócalo,
coração da cidade. Adaptaram, com desmedido talento, um conjunto de antigas
usinas, respeitando os edifícios originais e até as ruínas, levando os participantes
a andar de uma sala a outra por jardins, áreas descobertas e velhos depósitos.
Passeios para ninguém criticar ou achar penoso. Muito pelo contrário, todos apreciam
o aproveitamento da memória material e cultural da região. Para mudar o perfil do
mal-uso de nosso centro histórico, basta fazer um levantamento exaustivo de
suas possibilidades. Senac, Teixeira Leal, Faculdade de Medicina, Ipac,
igrejas... E assim poderia também se programar a reabilitação dos cinemas
Excelsior, Jandaia e Pax, espaços ideais para grandes audiências e exposições.
Não, instrumentos de trabalho e bons operários não faltam. O que falta são bons
empreiteiros.
Salvador, 29 de março
de 2010.
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