1. Na semana que antecede o carnaval, notei um aumento da permissividade sexual: um gay deitado no colo do outro, no Porto da Barra; duas mulheres se beijando numa mesa, na calçada de um bar; um casal transando no mar, a cinco metros da praia, com movimentos ostensivos, óbvios; uma mulher felando um homem com boné, entre as pedras, ao lado do Farol.
As pessoas completamente indiferentes.
2. No último dia de carnaval, desci a Ladeira da Barra ao entardecer, passei pelo Porto da Barra, e cheguei quase ao Farol.
Os trios elétricos – grandes monstros sonoros - estavam estacionados em fila, aguardando o momento de entrarem no circuito.
Ao lado dos trios, jaziam, descansando, dormindo, os cordeiros, todos negros ou quase negros, homens, mulheres, alguns de meia-idade; pareciam prisioneiros num campo de concentração. As expressões eram de ódio raivoso, ressentimento, desesperança e tédio. Haviam tirado os tênis rotos para aliviar os pés.
Lembraram-me as fotografias que Marc Ferrez (1843-1928) tirou dos escravos negros, nas últimas décadas do século 19.
Marcos A. P. Ribeiro
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