São Félix: Abandonada, Estação Ferroviária é ocupada por estudantes da UFRB
O movimento Ocupação Criativa diz que, no espaço, serão oferecidas oficinas de artes para a comunidade.
REPORTAGEM EXCLUSIVA l Primogênio Notícias l redacao@primogenio.com.br l Fotos e texto: Edgard Abbehusen
A Estação Ferroviária Central da Bahia foi inaugurada em 23 de dezembro de 1881, na cidade de São Félix, recôncavo baiano. Ela era a ligação entre a capital e as cidades da região, além de passagem de trens para Minas Gerais, Piauí e outros estados do nordeste. Com estilo neoclássico, a sua fachada ainda é, com o seu grande relógio que marcava as horas do trem, uma das características preservadas que chamam a atenção de quem passa.
O prédio, que é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (IPHAN) desde novembro de 2010, teve seu ultimo reparo feito no ano 2000. O espaço chegou a ser sede da Fundação Luiz Ademir de Cultura e, segundo informações, atualmente é disputado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (DNIT) e Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
Em ruínas, a estação ferroviária foi ocupada na madrugada dessa segunda-feira, 02, por estudantes do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), da UFRB de Cachoeira.
O Primogênio Notícias esteve na estação e conversou com Helder Santos Souza, militante do Movimento Sem Teto, estudante do curso de História do CAHL e responsável pela comunicação do movimento. Segundo ele, a ocupação estava sendo planejada há três meses. “Fizemos um levantamento de dados, documentação, de como se encontra o espaço, com quem esteve, com quem está e quem quer. Agora ele é nosso.”, declarou.
O movimento, intitulado “Ocupação Criativa da Estação”, pretende dar uma função social ao espaço, com oficinas de teatro, dança, serigrafia e exibição de filmes. De acordo com os estudantes, toda a comunidade pode participar e trazer a sua arte para dentro da estação. “Queremos desenvolver um centro cultural, onde a gente não entra propondo, mas sim executando o que estamos dispostos a fazer.”, diz Helder.
Na ocupação, os estudantes encontraram uma biblioteca com um grande acervo de livros de literatura, matemática, geografia, física, artes e história. “Esse material está sendo limpo e colocando em estantes para ficar à disposição da comunidade”, informou.
Ainda de acordo com Helder, o movimento pretende participar de futuras decisões dos órgãos competentes na revitalização da Estação. “Nós somos protagonistas e propositores dessa revitalização. Queremos que todos os órgãos do governo e responsáveis pelos patrimônios de identidade e cultura se debrucem nisso e dê uma resposta à comunidade, e que essa resposta seja consoante ao que estamos propondo porque, até então, ninguém fez nada.”, disse.
O movimento declara ainda que vai oficializar aos poderes públicos a ocupação. “Não queremos transformar a imagem da ocupação em algo subversivo a ordem. Estamos ali cumprindo uma função social enquanto cidadãos de direito.”, esclarece Helder.
Os ocupantes também reconhecem os riscos do prédio. “O risco existe. Estamos cientes disso. O risco é tanto pra quem está aqui dentro como pra quem passa do lado de fora. Já isolamos algumas áreas para ninguém ter acesso.”, finalizou.
No Facebook, o movimento criou uma página que até o momento já tem pouco mais de 100 curtidas. (Clique aqui) Nela, são postados detalhes e fotos do dia a dia da ocupação, prometendo fazer um barulho enorme nos ouvidos da sociedade e do poder público, que anulam diariamente as riquezas arquitetônicas e históricas do seu patrimônio.
A iniciativa da ocupação criativa é uma resposta ao descaso e a inoperância do Estado e da União, não só em relação à Estação Ferroviária da cidade de São Félix. Uma alternativa viável e revolucionária para outras dezenas de espaços em ruínas que existem nas cidades do recôncavo baiano, aguardando uma solução.
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