quinta-feira, 31 de julho de 2014

SOBRE CORONEIS

No tempo dos coronéis

SAMUEL CELESTINO

Não é para menos a dor de cabeça que o candidato tucano à presidência,  Aécio Neves, experimenta com esta história da construção de um campo de pouso no município de Cláudio, nas proximidades de Belo Horizonte, ao custo de 13 milhões e picos, no segundo mandato dele na governança mineira. Um aeroporto que abençoou as terras de propriedade um tio-avô. Quando governou Minas, o grande símbolo da nova democracia brasileira, Tancredo Neves, também construiu algo semelhante nas terras da família Neves. De outra época mais austera, o duende mineiro ficou na terra batida e correu do asfalto para gastar menos. Saiu por algo em torno (atualizado) de R$500 mil.
O campo de pouso estocou o fígado de Aécio, que está um pouco encolhido na sua campanha, certamente esperando a tempestade passar, até porque se aconselha a não levantar pouso quando o céu não está para brigadeiro. Sua sorte é que o TCU (Tribunal de Contas da União) para tirar Dilma Rousseff do imbróglio da refinaria de Pasadena – segundo consta e se fala -  livrou os integrantes Conselho Administrativo que à época da compra ela o presidia, e  colocou a responsabilidade do ocorrido, com os prejuízos decorrentes,  nas costas dos diretores da Petrobrás. Foram então  denunciados, como é sabido, 11 deles, além de colocar em indisponibilidade os bens de três, a partir do ex-presidente da estatal, o baiano José Sérgio Gabrielli. Eles terão que pagar o prejuízo da petroleira brasileira, isso se não se der um jeitinho bem à brasileira no decorrer do tempo.
Entre Pasadena e o campo de pouso mineiríssimo, balança a corrida presidencial verde-amarela. Sem esquecer os mares bravios recifenses onde os tubarões fazem a festa na praia da Boa Viagem. E como tem tubarão nestes trópicos...

O senador José Sarney prepara-se para cumprir os seus últimos cinco meses da longa vida política em que fez de tudo e mandou em tudo nesta república tropical. Confirmou que está mesmo disposto a abandonar o seu companheiro de caminhada que lhe deu tudo – e possivelmente mais do que esperava: o Poder. É probabilíssimo que o oligarca nordestino, o último de uma longa época de coronéis e poderosos, não esteja deixando os corredores e salões do Poder, embora diga que sim, porque cansou. Sarney sai na medida em que os estados do Maranhão (um dos mais atrasados do Nordeste) e o Amapá cansaram da sua velha política. No Amapá, tem contra ele até o PT. Dificilmente teria mais uma eleição ao Senado. No Maranhão, de igual maneira. Sai, ao mesmo tempo, ele e a filha, a governadora Roseana Sarney, que diz estar também se aposentando. Não sai reconhecendo o cansaço da própria política com a sua dinastia, mas tão só, como diz, porque “a vida está me pedindo um tempo”. Que ameaça. É só um tempo. O tempo dos coronéis.

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