sábado, 26 de julho de 2014

"A LUZ QUE BRILHOU SOBRE O MUNDO"

(Dante)


O medievalista francês Jacques Le Goff faleceu este ano, aos 90 anos. Vale a pena ler seu compêndio “São Francisco de Assis”, soma de muitas décadas de pesquisa. Deste santo chegou-se a acreditar que era o Cristo ressuscitado. Fundador da Ordem Medicante, andava pelas estradas pregando o Evangelho. No fim da vida escolheu o modesto retiro de Porciúncula. 
Quatro anos após a sua morte, o Papa iria construir uma magnífica basílica para receber seus restos mortais. Francisco não teria gostado de tamanha ostentação. Sua vida e escritos falam pelas escolhas. Pregava uma vida despojada de todo supérfluo, irmão dos leprosos e dos miseráveis. 
Até dos eruditos ele desconfiava, preferindo os iletrados.

Mas hoje um monge, desprezando as chamas do inferno, ousa transgredir qualquer parâmetro de ética para ver seus escritos publicados e temos em Salvador um dos templos franciscanos mais luxuosos da América Latina, classificada até como uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo. E haja maiúsculas!


Será uma súbita volta aos preceitos de Francisco o Estado, o IPHAN e a Igreja Católica se unirem para esquecer que a Golden Church está prestes a arruinar? 
O pátio mal consegue se manter em pé, arcadas apoiadas em precárias alvenarias, esmalte dos azulejos caindo em escamas pelo chão, teto decorado de pinturas barrocas da nave central transformado em peneira ao menor aguaceiro. 


Até o espaço sagrado “um dos mais interessantes espaços urbanos de Salvador” (IPAC dixit- 1975) entre a igreja e o belo cruzeiro, quando não serve de estacionamento para os carros da polícia, abriga eventos cuja maior evidência é a catarata predadora de decibéis, com a bênção dos doutores e excelências. 

Ah! Esqueci: de noite a fachada é muito bem iluminada, se a gente esquecer os parafusos na pedra calcária, e os turistas gostam. 
Então quem é você para reclamar?

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