(Dante)
O
medievalista francês Jacques Le Goff faleceu este ano, aos 90 anos. Vale a pena
ler seu compêndio “São Francisco de Assis”, soma de muitas décadas de pesquisa.
Deste santo chegou-se a acreditar que era o Cristo ressuscitado. Fundador da
Ordem Medicante, andava pelas estradas pregando o Evangelho. No fim da vida
escolheu o modesto retiro de Porciúncula.
Quatro anos após a sua morte, o Papa
iria construir uma magnífica basílica para receber seus restos mortais. Francisco
não teria gostado de tamanha ostentação. Sua vida e escritos falam pelas escolhas.
Pregava uma vida despojada de todo supérfluo, irmão dos leprosos e dos
miseráveis.
Até dos eruditos ele desconfiava, preferindo os iletrados.
Mas hoje um
monge, desprezando as chamas do inferno, ousa transgredir qualquer parâmetro de
ética para ver seus escritos publicados e temos em Salvador um dos templos
franciscanos mais luxuosos da América Latina, classificada até como uma das
Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo. E haja maiúsculas!
Será uma
súbita volta aos preceitos de Francisco o Estado, o IPHAN e a Igreja Católica se
unirem para esquecer que a Golden Church
está prestes a arruinar?
O pátio mal consegue se manter em pé, arcadas apoiadas
em precárias alvenarias, esmalte dos azulejos caindo em escamas pelo chão, teto
decorado de pinturas barrocas da nave central transformado em peneira ao menor
aguaceiro.
Até o espaço sagrado “um dos mais interessantes espaços urbanos de
Salvador” (IPAC dixit- 1975) entre a igreja e o belo cruzeiro, quando não serve
de estacionamento para os carros da polícia, abriga eventos cuja maior
evidência é a catarata predadora de decibéis, com a bênção dos doutores e
excelências.
Ah! Esqueci: de noite a fachada é muito bem iluminada, se a gente
esquecer os parafusos na pedra calcária, e os turistas gostam.
Então quem é
você para reclamar?
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