quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

NO LABIRINTO DOS EDITAIS

Nunca tive a menor afinidade com burocracia e papelada. Assim que nunca consegui entender  com clareza como funcionam os editais. Hoje você tropeça nesta palavra a cada instante, especialmente nos meios ligados a cultura.
O que é um edital? Oficialmente, uma forma democrática de realizar projetos. Para outros uma excelente forma dos responsáveis pela cultura empurrar com a barriga e nunca enfrentar polémicas.
Eu entendo que o edital  representa uma ferramenta necessária para descobrir artistas sem acesso direto ao patrocínio das grandes empresas,  ou para apoiar projetos que não se adequam aos padrões dessas empresas. 
Tudo bem. Mas o edital não pode ser o começo e o final da politica cultural. Se for o caso, não precisamos de Secretária de Cultura. Só necessitamos de um simples escritório competente para administrar os editais e de um punhado de jurados para avaliar os projetos apresentados.
Como funciona este belo exemplo de democracia? O secretário escolhe meia dúzia de “especialistas” para analisar os projetos, dentro dos magros orçamentos previstos, dá um prazo para a seleção dos contemplados e, depois de algum tempo, publica os resultados, aguardando aplausos. 
Outra coisa: alguem falou em sigilo?
Ano passado, um grupo de postulantes tomava cerveja batendo papo. Os resultados ainda não tinham sido publicados. Ainda faltava uma semana, mas todos já sabiam. Menos um. E aí?
O problema, quando é assunto estadual ou municipal, reside na escolha dos jurados. Anônimos ou não, numa boa terrinha como a nossa, sempre acaba filtrando informações de fora para dentro e vice-versa. Primo, madrinha, cunhado, colega, cada um tem lá seus porquês que a ética oficial desconhece. A carne é fraca e ninguém é de ferro.
Posso dar um exemplo.
Em fins de Agosto fui até o atelier do Murilo, lá na rua do Carmo, falar de uma ideia que ocupava minha cuca durante minhas insônias. Tratava-se de usar as paredes dos dois imóveis do Plano Inclinado do Pilar para retratar os dois maiores eventos do bairro de Santo Antônio: O desfile do 2 de Julho na parte de cima, junto a Cruz do Pascoal, e, na parte inferior, a procissão de Santa Luzia.


Exibindo NA MINHA TERRA O CARROSSEL ERA BRINQUEDO DE GENTE GRANDE   50 x 40 cm.jpg

Vários argumentos a favor deste projeto:
* Murilo é o único artista que usa, na Bahia, uma linguagem figurativa, despojada de artifícios, para retratar o povo baiano. É um contador de histórias que podemos colocar algures entre os gravadores de literatura de cordel nordestinos e os muralistas mexicanos como Diego Rivera ou David Siqueiros.
* O bairro de Santo Antônio está evoluindo de referência turística para reduto da boemia soteropolitana. Cada semana, mais artistas, jornalistas, poetas, atores e cineastas vêm morar, abrir uma galeria ou um espaço cultural.
* O Plano Inclinado pode ser muito mais que um bondinho. Pode se transformar em obrigatório ponto de convergência popular e turístico.
O Santo Antônio pode ser nosso Bairro Alto, Marais, ou San Telmo.
Pois é... O Murilo gostou do desafio. Colocou o projeto no primeiro edital da nova gestão municipal para conseguir os modestos R$30 mil que seriam investidos no aluguel dos andaimes e compra dos pinceis, tintas etc. Retribuição pessoal? Nenhuma. Trabalharia de graça. Você acha pouco?
Se fosse uma encomenda, para realizar tal obra numa superfície superior á 120 m2, nenhum artista no auge de sua profissão aceitaria menos de R$300.000,00.
Mas os tais jurados acharam a proposta de pouco interesse para a comunidade. Não sei quem são nem quero saber. 
Mais uma vez deram aqui uma prova do provincianismo vigente na primeira capital do Brasil e a cidade perdeu uma bela oportunidade de enriquecer seu patrimônio artístico.
Sorria...

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