um padre espanhol, uma faca chinesa e um baiano morto
Malu Fontes*
Um baiano de 22 anos, chamado Odycleidson Moraes do Nascimento, foi assassinado na Espanha, há duas semanas, pelo filipino Eulogio Lumalang, 44 anos, com uma faca chinesa comprada numa loja de xing ling, na casa do padre Jaume Reixach, num vilarejo onde quase toda a população é de idosos. Com tantos detalhes que dão uma conotação praticamente globalizada ao crime, os espanhóis acrescentaram ao choque os detalhes sórdidos que vieram à tona no depoimento do assassino confesso: depois de fazer questão de declarar-se heterossexual convicto, com mulher e filhos que lhes seriam a prova desta condição sexual, revelou que cometeu o crime porque há 18 anos mantinha relações sexuais com o padre em troca de dinheiro e drogas. O dinheiro o sustentava e à família. Já as drogas seriam um combustível sem o qual já não conseguia, segundo disse, prestar os serviços sexuais ao padre.
O homicídio, segundo o depoimento do acusado, fartamente circulado na imprensa espanhola, teria sido motivado por ciúmes de Kekeo. O rapaz baiano vinha fazendo o filipino sentir-se inseguro quanto à promessa feita pelo padre quando o levou das Filipinas para a Espanha: deixar-lhe a herança quando morresse. Os detalhes sórdidos não param aí. Consta do depoimento do acusado que a vítima o enfurecera ao contar-lhe que o padre costumava levar a mulher e uma das filhas (do filipino) para as orgias na casa quando este não estava por perto. Possesso, Lumalango desceu, comprou a faca xing ling e subiu ao apartamento para tirar satisfações com o padre. Kekeo foi interferir, o padre escapuliu para pedir socorro aos vizinhos e quando voltou a tragédia estava consumada. Eis a versão do depoimento do assassino circulando na imprensa espanhola, contradita pela família do rapaz morto, negada veementemente pelo padre, mas que deixa a Igreja Católica numa batina justa sem tamanho na Europa.
O caso representa um escândalo e tanto a mais no colo da Igreja, já que contra o padre pesam dois fatos concretos de difícil justificativa. Em sua casa, cenário do crime, a polícia encontrou a droga que o acusado diz ser fornecida aos poucos em troca dos favores sexuais e um acervo robusto de filmes pornográficos gays. Só mesmo num filme de Pedro Almodóvar, o enfant terrible do cinema contemporâneo espanhol, um roteiro tão complexo poderia ser crível, dada a semelhança dos personagens e dos elementos com os de sua obra.
O caso representa um escândalo e tanto a mais no colo da Igreja, já que contra o padre pesam dois fatos concretos de difícil justificativa. Em sua casa, cenário do crime, a polícia encontrou a droga que o acusado diz ser fornecida aos poucos em troca dos favores sexuais e um acervo robusto de filmes pornográficos gays. Só mesmo num filme de Pedro Almodóvar, o enfant terrible do cinema contemporâneo espanhol, um roteiro tão complexo poderia ser crível, dada a semelhança dos personagens e dos elementos com os de sua obra.
Em comum, vítima e assassino têm a trajetória que os levou à Espanha: ambos eram muito jovens e pobres quando foram levados de seus países pelo padre bondoso que prometia oportunidades de emprego e escondia sua condição religiosa. Imagina só que conversa fácil de engolir, relacionada a um padre que se diz inocente, vítima e difamado: há quatro anos, foi em pleno Carnaval de Salvador que essa bondosa ovelha do rebanho de Cristo conheceu Kekeo. Apresentou-se como casado, pai de família e acenou com a possibilidade de levar o garoto para ajudá-lo na Espanha. Lá, conseguiria o visto para um emprego formal. A história é contada pela mãe da vítima à imprensa espanhola e brasileira. Acrescentando-se um detalhe: ela conta agora que o filho fez, durante todo esse tempo, trabalho escravo. Limpava, cozinhava e realizava todas as tarefas na casa do padre apenas em troca de comida e dormida. A versão do filipino, também levado muito jovem pelo padre, é de que tudo não passaria de trabalhos sexuais, razão central do homicídio. Agora, a família de Kekeo precisa de ajuda e de cerca de R$ 23 mil para trazer o corpo para Salvador. A mãe está na Espanha e o Itamaraty diz que não pode fazer nada.* Malu Fontes é jornalista e professora de Jornalismo da Ufba
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