... e a cárie das criancinhas
MALU FONTES
Eis a polêmica da vez: Caetano e Gil vão receber, cada um, R$ 600 mil de cachê para cantar no Réveillon de Salvador. A divulgação do valor deixou de ser apenas um dado da festa, já que a opinião pública obedece, previsivelmente, a um roteiro bifurcado. Parte dela vê em tudo uma comédia, parte vê uma tragédia. Quando Salvador tem um Réveillon sem atrações musicais de peso nacional, é um chororô geral. O complexo de vira-lata aflora e em qualquer buteco o que nunca falta é gente desolada comparando a decadência da cidade com as festanças do Rio, de São Paulo, de Fortaleza.
Aí, quando se anuncia vários artistas e entre eles os diletos filhos da terra cantando na cidade, é um deus nos acuda pelo avesso. Como pode um cachê de 600 mil? Pelas críticas, não se sabe direito quem até agora está encarnando melhor o papel de diabo nas redes sociais: se os próprios artistas, esses desalmados que não cantam de graça para o seu povo; se a iniciativa privada, que patrocina cachês milionários para fazer o povo beber cerveja até não diferenciar se quem tá no palco é Caetano ou Pablo, do Arrocha, em vez de patrocinar projetos sociais; se o poder público, que deveria investir no bem-estar do povo e, no Réveillon, num estalar de dedos, transformar Salvador em Celebration, a cidade perfeitinha da Flórida (EUA), onde Silvio Santos mora quando não está no Brasil e onde, of course, não há problema de saúde, educação, segurança e infraestrutura. Ou se o diabo é mesmo é o povo, pois, como diria certo comentarista esportivo, “haja o que hajar”, nunca tá satisfeito.
A notícia sobre o valor do cachê de Gil e Caetano transformou-se num fla-flu. E olha que ainda não se falou no de Gal, Daniela, etc. Para apimentar mais a história, há os detalhes. Flora, mulher de Gil, é a organizadora oficial da festa, e Roberto Carlos, o rei, enfezado com o desgaste em sua imagem por ter aparecido associado aos dois baianos na natimorta Procure Saber (entidade criada para impedir que biografias fossem publicadas sem autorização prévia do biografado), fez mimimi e desistiu de integrar o elenco de estrelas na virada de ano em Salvador. A imprensa carioca anunciou que ele não viria porque, para além do clima de poucos amigos com a turma de Caetano e Gil, também não queria arranhar sua fama de moço íntegro participando de evento em cujo financiamento houvesse recursos públicos. Foi a deixa. Enquanto trocentos berram nas time lines que os patrocinadores estão pagando tudo, outros citam o argumento de Roberto para dizer que, fosse assim, o rei teria aceitado o convite. Segundo a imprensa, esses são os valores das quatro noites de festa: R$ 6,4 milhões, sendo R$ 2,2 para cachês, tudo pago pelos patrocinadores. A prefeitura e o estado entrariam com R$ 1,5 milhão, cada, em estrutura.
No confronto de torcidas de ataque e louvação aos dois baianos, há os aspectos ignorados quando se trata de festas populares patrocinadas, no todo ou em parte, por empresas privadas e estreladas por ídolos nacionais ou internacionais. O Réveillon do Rio é tão lindo quanto milionário, incluindo cachês. Quem canta lá de graça? Insinua-se aqui e ali que Gil e Caetano cobram para cantar aqui porque não amam suficientemente a Bahia. De amor alheio entendo lhufas. Já da indústria do entretenimento, o suficiente. Já a segunda falação não convence nem anencéfalo: esse dinheiro deveria ir para a população, saúde, educação. Então tá.
Aí, quando se anuncia vários artistas e entre eles os diletos filhos da terra cantando na cidade, é um deus nos acuda pelo avesso. Como pode um cachê de 600 mil? Pelas críticas, não se sabe direito quem até agora está encarnando melhor o papel de diabo nas redes sociais: se os próprios artistas, esses desalmados que não cantam de graça para o seu povo; se a iniciativa privada, que patrocina cachês milionários para fazer o povo beber cerveja até não diferenciar se quem tá no palco é Caetano ou Pablo, do Arrocha, em vez de patrocinar projetos sociais; se o poder público, que deveria investir no bem-estar do povo e, no Réveillon, num estalar de dedos, transformar Salvador em Celebration, a cidade perfeitinha da Flórida (EUA), onde Silvio Santos mora quando não está no Brasil e onde, of course, não há problema de saúde, educação, segurança e infraestrutura. Ou se o diabo é mesmo é o povo, pois, como diria certo comentarista esportivo, “haja o que hajar”, nunca tá satisfeito.
A notícia sobre o valor do cachê de Gil e Caetano transformou-se num fla-flu. E olha que ainda não se falou no de Gal, Daniela, etc. Para apimentar mais a história, há os detalhes. Flora, mulher de Gil, é a organizadora oficial da festa, e Roberto Carlos, o rei, enfezado com o desgaste em sua imagem por ter aparecido associado aos dois baianos na natimorta Procure Saber (entidade criada para impedir que biografias fossem publicadas sem autorização prévia do biografado), fez mimimi e desistiu de integrar o elenco de estrelas na virada de ano em Salvador. A imprensa carioca anunciou que ele não viria porque, para além do clima de poucos amigos com a turma de Caetano e Gil, também não queria arranhar sua fama de moço íntegro participando de evento em cujo financiamento houvesse recursos públicos. Foi a deixa. Enquanto trocentos berram nas time lines que os patrocinadores estão pagando tudo, outros citam o argumento de Roberto para dizer que, fosse assim, o rei teria aceitado o convite. Segundo a imprensa, esses são os valores das quatro noites de festa: R$ 6,4 milhões, sendo R$ 2,2 para cachês, tudo pago pelos patrocinadores. A prefeitura e o estado entrariam com R$ 1,5 milhão, cada, em estrutura.
No confronto de torcidas de ataque e louvação aos dois baianos, há os aspectos ignorados quando se trata de festas populares patrocinadas, no todo ou em parte, por empresas privadas e estreladas por ídolos nacionais ou internacionais. O Réveillon do Rio é tão lindo quanto milionário, incluindo cachês. Quem canta lá de graça? Insinua-se aqui e ali que Gil e Caetano cobram para cantar aqui porque não amam suficientemente a Bahia. De amor alheio entendo lhufas. Já da indústria do entretenimento, o suficiente. Já a segunda falação não convence nem anencéfalo: esse dinheiro deveria ir para a população, saúde, educação. Então tá.
Alguém aí acredita mesmo que, em algum tempo, em algum lugar, empresas que patrocinam artistas para que, assim, suas marcas sejam consumidas pelo povo, vão deixar de contratá-los para investir no tratamento da cárie das criancinhas?
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