segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O TRIUNFO DA MEDIOCRIDADE


Na quinta-feira 19 de dezembro, o governador Jaques Wagner inaugurou a iluminação “cênica” de três igrejas no bairro de Santo Antônio, fechando assim, na área cultural, o sétimo ano de seu mandato.
Cada um poderá encontrar nesta cerimônia o simbolismo que lhe convier, conforme humor ou ideologia. Quanto a mim velho –velhíssimo – morador desta parte de Salvador, só consigo imaginar um play-boy que escolhe com cuidado seu calçado, mas teve a preguiça de lavar os pés.

Durante sete anos e dois secretários – o primeiro, umbigista, só pensava em espelhos, enquanto o segundo brilha pela ausência, a não ser nos aviões oficiais – uma fabriqueta estatal produziu dúzias de projetos para o centro histórico, projetos que, após breve aparição nos meios de comunicação, desapareceram para sempre na escuridão do esquecimento. Isso é após ter devorado boa fatia de nossos impostos.  Não vou entrar agora na listagem das obras anunciadas e nunca acabadas nem mesmo começadas. Cansei de reclamar. Esta gente é cega e surda.  Só sabe gastar nossos milhões em viagens, discursos, obras tão faraônicas quanto inúteis e propaganda. Ah! A propaganda!... Como ironizou um vídeo, seria tão bom se vivêssemos numa propaganda do governo! Lá a vida é azul e rosa. Hospitais são fábricas de saúde e sorrisos e escolas produzem pelo menos um Albert Einstein e três Bill Gates por ano letivo.

Por falar em milhões, Brasília acaba de anunciar uma generosa cornucópia de centenas de milhões para a recuperação do centro histórico de Salvador e outros penduricalhos. E como não podia deixar de acontecer, com a grana chegou a discórdia. Em vez de canalizar uma boa fatia para o Ipac, o governo estadual achou preferível entregar o ouro a Conder, da qual, no mínimo, só podemos evidenciar que não entende nada de restauração de centros históricos, nem que seja de Feira de Santana. O primeiro resultado é o pedido de demissão do Frederico Mendonça, diretor geral do Ipac. Com justíssima razão, pois o governo se comporta como se este arquiteto não tivesse competência para administrar as verbas. Ou pior... Resta saber se esta dinheirama irá realmente para o centro histórico ou sofrerá os costumeiros desvios. Em véspera de eleições, tudo é possível.

Voltemos a meu bairro de Santo Antônio pretensamente tombado pela Unesco. Tinham anunciado uma ampla e irrestrita reforma de toda a infra-estrutura, começando pelo mais urgente: o enterro de toda a fiação – eletricidade, telefone etc. - sob a pavimentação, e retirada do asfalte da Rua Direita. Tinham projetado a recuperação paisagística do Largo de Santo Antônio. Tinham prometido alargar um passeio para enfim respeitar os pedestres.                                                                                         Promessas, promessas e mais promessas...

O pouco que os moradores conseguiram, após muita reclamação, foi retirar o famigerado “Ponto de Encontro” dos problemáticos narco-dependentes, idéia certa no lugar errado, lamentável iniciativa, dizem,  de Madame Fátima.
De resto, os mesmos moradores sofrem com a permanente e insuportável barulheira dos guindastes - este bip-bip-bip dá comichões de Columbine - quando são pintadas fachadas com a desenvoltura e falta de conceito de crianças na idade da creche. Infelizmente, o resultado não é ingênuo: é somente desastroso. Feito nas coxas, sem a mínima pesquisa sobre as cores originais – não é muito complicado: basta raspar a superfície para chegar à primeira camada – o conjunto é grotesco e só pode satisfazer os que vivem numa novela da Globo. A Bahia continua refém do Ô pai, Ô. Será que a cornucópia vai mudar nossa desconfiança?

Durante algum tempo o Secretário de Cultura II divagou sobre a idéia de um Museu do Carnaval, recusando o óbvio: O carnaval é parte inseparável de uma mais ampla concepção de cultura popular, sendo portanto essencial, urgente e incontornável, a implantação de um museu ou centro das culturas populares baianas. É escandaloso que nenhum dos inúmeros governantes que a Bahia teve nestes últimos cinqüenta anos, tenha entendido a importância de se preservar a memória da cultura popular baiana.
Já escrevi, mas acho essencial insistir: somos a última grande capital brasileira que continua desprezando sua cultura popular. E se não se respeita a cultura popular, como iremos sedimentar expressões artísticas contemporâneas que não sejam tristes plágios de obras pongadas em revistas importadas?

Durante sete anos vivemos num banho tépido de provinciana mediocridade. Qual a atividade teatral, coreográfica, audiovisual, musical, museológica, literária de peso teve o real e decisivo apoio do governo?
Nossos governantes passam a vida arrotando satisfação ufanista sem nada ter de consistente e palpável para mostrar aos contribuintes. Contentam-se em oferecer bilhões a empreiteiros gananciosos. Aqui uma ponte, lá uma transposição fluvial, acolá um viaduto ou um estádio, divagações que serão prontamente questionados pelos especialistas – engenheiros, arquitetos, sociólogos etc.
Infelizmente o quadro de pretendentes a sucessão no palácio de Ondina conscientes da importância da cultura, não é nada animador.                                                          Será que os baianos têm os políticos que merecem?


2 comentários:

  1. Os baianos decididamente têm os governantes que merecem porque são os únicos políticos que conseguem fabricar, incensar e eleger.
    A questão não é somente histórica.É antropológica.

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  2. Primeiramente gostaria de parabenizar o texto. Em relação à sucessão de Ondina é importante desviar os olhos dos partidos da ordem, os tradicionais, e observar mais as novidades, nesse aspecto vale dar uma oportunidade ao PSOL.

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