José Queiroz*
O Centro Histórico de Salvador foi loteado por partidos políticos nos últimos anos e dividido em 280 instituições, entre associações, fundações, ong’s, centros, sindicatos, etc. Da mais famosa, Fundação Casa de Jorge Amado, ao recente e desconhecido DIRCAS, antigo ERCAS, Escritório de Referência do Centro Antigo de Salvador, criado em 2007 para administrar a execução do Plano de Reabilitação do Centro Antigo de Salvador, elaborado e não concretizado pelo governo atual. E todos recebem alguma verba pública, incluindo a Prefeitura, Câmara de Vereadores e várias secretarias!
Um vespeiro! Ninguém ousa meter a mão, denunciar, averiguar o desempenho delas, eliminar a maioria, uma auditoria, nada. O que faria sobrar muito dinheiro que, junto com aluguéis cobrados pelo IPAC, impostos arrecadados, menos shows inúteis para a maioria dos ramos de negócio, e apenas um (01) carnaval em 2014, daria para a recuperação total do Centro da cidade, o que traria muitos mais e duradouros benefícios para Salvador, sua economia e sua cultura. Está em vigor o entendimento que a miséria é necessária para gerar dinheiro e votos, por isto tanta ojeriza a qualquer tentativa de conclusão da obra.
São milhares de gestores em 7 km² que não conseguem se entender e admitir a necessidade da recuperação do lugar, principalmente pelo fato de ser Patrimônio da Humanidade, apesar da responsabilidade que assumiram e dos recursos que dispõem. Nesse sentido a própria UNESCO tem responsabilidade na perda de vários casarões, e o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – esteve omisso todo esse tempo, e deveria ser responsabilizado judicialmente. O recente anúncio de reforma não convence, já que não há diálogo efetivo com quem conhece a realidade do lugar, e que não são os políticos ou militantes que ocupam cargos comissionados, que não entendem nada de cultura, patrimônios históricos e turismo. E nem o Pelourinho nem Salvador querem mais taxas futuras, impostos ou dívidas que os sacrifiquem mais!
A ruína e a indigência do Centro Histórico de Salvador já são conhecidas dentro e fora do Brasil, pois foi agravada terrivelmente nos últimos anos pelo descaso com os casarões, pelo uso do crack, e pela política assistencialista em andamento no país. Os edifícios que estavam sendo desocupados e recuperados foram abandonados com a suspensão da reforma em 2007, foram invadidos outra vez, e mais de 100 deles estão em situação de risco - muitos estão escorados com barras de ferro - e vários já desmoronaram. Desde 2007 que o governo alimenta a mentira da reforma da 7ª etapa, da Vila Nova Esperança e, recentemente, do Palco Móvel. E nenhuma instituição de defesa da sociedade é capaz de averiguar. A Procuradoria do município não funciona!
O Pelourinho recebeu a visita da ONG World Fund Monuments em setembro de 2012 e foi considerado o centro histórico do Brasil em pior situação de risco, por falta de investimento público e ação da natureza. A elite econômica, acadêmica e cultural de Salvador tem grande responsabilidade na perda desse patrimônio também! Até hoje ainda é comum escutar gestores maus intencionados, ou despreparados mesmo, acusarem gestões antigas de prejudicar negros e pobres, o que não é verdade, pois esta população está em situação muito pior sem os negócios e a presença de baianos e turistas. Qualquer centro histórico do mundo bem administrado gera riquezas e cultura!
A situação é ainda mais preocupante porque não há um debate mais amplo sobre o Pelourinho, os interlocutores do governo não são os mais indicados e ele avalia e decide na maioria das vezes pelo que não interessa ao Centro Histórico, como o excesso de festas. E a ausência de oposição efetiva na política e na imprensa agrava a situação. Há dois meses os comerciantes esperam o chefe do executivo, o prefeito ACM Neto, conforme ele havia prometido, para conversar sobre seus problemas. E nada até agora!
Pelourinho não é um bairro comum! Não é um lugar para um líder comunitário qualquer, tem problemas, necessidades e prioridades que requerem conhecimentos específicos, para isto ele tem acesso a um volume de recursos maior que o de pequenas cidades do Brasil. Ele é um centro gerador de aprendizado, cultura, negócios e rendas, sua vocação é cultural, e o turismo é uma conseqüência natural e enriquecedora. Porém, para isto, precisa de administração adequada, culta, técnica e honesta.
*José Queiroz é guia de turismo e agente de viagem especializado em Turismo Receptivo
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