terça-feira, 19 de março de 2013

SOBRE IMÓVEIS TOMBADOS


Imóveis tombados, como Hotel da Bahia, podem ser reformados


Hotel Bahia tombado IPAC2.jpg


Ícone da arquitetura moderna baiana e tombado como Bem Cultural do Estado desde 2010 pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC) da Secretaria Estadual da Cultura (Secult), o Hotel da Bahia foi reformado e reaberto no início deste mês de março (2013), demonstrando que imóveis protegidos pelos poderes públicos podem ser reformados.

“Recebemos demandas de pessoas querendo conhecer os procedimentos legais para imóveis tombados pelo Estado. Esses imóveis podem sofrer reformas, desde que sob a supervisão técnica e liberação do IPAC”, explica o diretor geral do Instituto, Frederico Mendonça. Foi o caso do Hotel da Bahia, localizado no Campo Grande, em Salvador, que foi reformado pelo Grupo GJP Hotels & Resorts com investimento de R$ 101 milhões. Cerca de R$ 31 milhões para compra do prédio e R$ 70 milhões para a reforma.

O Edifício A Tarde, localizado na Praça Castro Alves, originário do início do século XX e importante exemplar do estilo arquitetônico art déco em Salvador, que está tombado provisoriamente pelo IPAC, também passa por reformas para abrigar um hotel seis estrelas Fasano. “Os projetos de reformas são submetidos a equipe técnica especializada e as empresas sempre acatam as orientações do IPAC”, diz Mendonça. O dirigente estadual alerta para que os interessados consultem o sitewww.ipac.ba.gov.br para verificar se o imóvel que ocupam é tombado pelo Estado.



Além do governo estadual, as prefeituras e o governo federal – via Ministério da Cultura – também têm imóveis tombados e protegidos legalmente na Bahia. “A consulta prévia é fundamental para evitar problemas futuros”, comenta Mendonça. Foi o caso das Lojas Insinuante que destruíram um mural do artista baiano Carlos Bastos (1925-2004) no Edifício Argentina, no Comércio, tombado desde 2002 pelo IPAC, e foram obrigadas a restaurá-lo pelo Ministério Público da Bahia. O Hotel da Bahia também tem um mural do artista Genaro de Carvalho (1926-1971) tombado individualmente desde 1981.

DIFERENCIAL – Para o diretor do Hotel da Bahia, Paulo Gaudenzi, é fundamental que prédios tombados tenham proprietários que entendam a importância do patrimônio e conservem esses imóveis. “Ganhamos com retorno de imagem e com apelo mercadológico que os consumidores avaliam positivamente, já que hospedar-se em prédio tombado tem valor e charme diferenciados”, ressalta Gaudenzi.

O diretor lembra que o Hotel da Bahia dispõe de outros painéis, além do de Genaro. “Temos três obras de Carybé, uma de Julio Spinosa, outro de Fernando Duarte e a azulejaria externa de Paulo Antunes na fachada”, relata Gaudenzi. Nessas restaurações foram investidos R$ 150 mil. “A nossa relação com o IPAC foi a melhor possível. Tivemos apoio nas alterações sugeridas e toda orientação técnica necessária”, finaliza Gaudenzi.

Box opcional 01: HISTÓRICO - Primeiro hotel cinco estrelas do Estado, o Hotel da Bahia foi Construído no final de 1951, no Governo de Octavio Mangabeira, mas só começou a funcionar no ano seguinte. O anteprojeto original do hotel foi elaborado em 1947 pelo engenheiro agrônomo e artista plástico baiano Diógenes Rebouças, que convidou o arquiteto carioca Paulo Antunes Ribeiro para desenvolver com ele o projeto executivo. A relevância do projeto é ressaltada em dupla publicação da L’Architecture d’Aujourd’hui, nas revistas especializadas Arquitetura e Engenharia, e inclusão no livro Modern Architecture in Brazil, de Henrique Mindlin, publicado simultaneamente em inglês, francês e alemão em 1956 e em português em 2000. O hotel se consolidou como o espaço de encontro da highsociety baiana e vips de passagem por Salvador e como cenário de importantes acontecimentos na afirmação da arte moderna baiana. Foi a residência, entre 1950 e 1960, de ilustres personagens da nossa história. Na década de 1970 foi executado primeiro projeto de reforma, de autoria desconhecida que incluiu duas piscinas e renovou a decoração. A reforma não evitou o processo de decadência do hotel, que terminou fechado em 1978. Em 1980, Diógenes Rebouças foi contratado pela Companhia Tropical de Hotéis, que administrava o hotel desde 1963 para elaborar novo projeto de reforma e ampliação. Foram convidados os arquitetos Lourenço e Luiza do Prado Valladares. Reinaugurado em dezembro de 1984, o imóvel foi duplicado (área construída de 13.000m² para 24.000m²), com total de 278 apartamentos.  O bloco de quartos recebeu um “pavimento de cobertura” recuado com relação aos demais, destinado aos serviços e espaços de lazer para os funcionários. O bloco da base, acrescido horizontalmente, teve sua área duplicada, perdendo a forma orgânica original e ampliando-se sobre o terreno a sudeste do edifício, do lado oposto ao acesso principal na Avenida Sete de Setembro. Nesta reforma, três ambientes receberam painéis em alto e baixo relevo, de concreto aparente, de autoria do artista plástico Carybé , que foram tombados igualmente pelo IPAC neste decreto. Passados 30 anos desde a reforma, em fevereiro deste ano (2010) a Rede Tropical de Hotéis anunciou sua saída e em 07 de março o hotel foi fechado. Como previsto, no dia 15 do mês de abril o Hotel da Bahia foi a leilão, tendo sido arrematado pelo grupo GJP, empresa do ramo hoteleiro do fundador da CVC, Guilherme Paulus.

Box opcional: ARQUITETURA MODERNA - O Modernismo foi um movimento artístico e cultural que se iniciou na Europa e começou a ter seus ideais difundidos no Brasil a partir da primeira década do século XX, através de manifestos de vanguarda, principalmente em São Paulo, e da Semana da Arte Moderna, realizada em 1922. O movimento deu início a uma nova fase estética na qual ocorreu a integração de tendências que já vinham surgindo, fundamentadas na valorização da realidade nacional, e propondo o abandono das tradições que vinham sendo seguidas até então, tanto na literatura quanto nas artes. Apesar da grande repercussão que a arquitetura e Arte Moderna obtiveram, vale ressaltar que o Movimento Moderno não se limitou a essas duas áreas. Foi um movimento cultural global que envolvia vários aspectos, entre eles sociais, tecnológicos, econômicos e artísticos. O Modernismo arquitetônico surgiu na Europa devido à necessidade de se encontrar soluções para os problemas que vinham sendo gerados pelas mudanças sociais e econômicas que a Revolução Industrial causou. Já no Brasil, as primeiras obras Modernistas surgem quando apenas se iniciava o processo de industrialização, portanto não se habilitava a solucionar necessidades sociais. No entanto, segundo Lúcio Costa, o Modernismo brasileiro justifica-se como estilo, afirmando a identidade de nossa cultura e representando o "espírito da época". No campo da arquitetura, o Modernismo foi introduzido no Brasil através da atuação e influência de arquitetos estrangeiros adeptos do movimento, embora tenham sido arquitetos brasileiros, como Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, que mais tarde tornaram este estilo conhecido e aceito.

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