sábado, 25 de setembro de 2010

RETALHOS 21


Anônimos
Desde que inaugurei este blog, impressionam os leitores desabafando mesquinhez na secção “Comentários”. Nunca assinando com o próprio nome, evidente... Anonimato é primordial. Mas é bom ficar sempre com o desconfiómetro ligado. Entre outros, meu velho amigo Jacques de Beauvoir, desmentiu qualquer retaliação por publicar no seu blog alguns escritos meus, corrosivos como quase sempre. Aliás, você queria o quê? Que escrevesse sobre o lindo pôr-de-sol no farol, quanto é gostosa a canja de galinha que tomei na casa de Dona Biju ou que recitasse uma ladainha? Me poupe, viu?!

Freqüenta?
Já tivemos na Bahia a estrela cadente de Daniel Dantas. Agora é a vez de Nelson Tanure. Tudo gente muito fina “que freqüenta” e manda fazer suas camisas sob medida.

Ego
O próximo programa de TV apresentado pela falsa loira Lilian Reis já tem nome: “Eu +eu”. Sua ambição? Tomar o lugar da Ana-Maria Brega, como a Galisteu sonha ser uma nova Hebe Camargo. Ambas precisando encomendar carisma ao Papai Noel.

Medo
Estou numa situação muito inquietante. Depois de ler as duas páginas do jornal A Tarde denunciando as ligações perigosas entre o superintendente do Iphan, Carlos Amorim (leitor deste blog) e o Paulo Damasceno, de repente me vejo na iminência de ser preso por cumplicidade, já que, por indicação do super, vendi, há aproximados dois meses, um filhote de buldogue francês ao secretário municipal de Planejamento. E vocês sabem muito bem que quem paga o pato é sempre o elo mais fraco, a secretária, o jardineiro ou o vendedor de cachorros, sejam eles quentes ou não. Mas, mesmo sob tortura, nunca direi quanto recebi! Botei na conta de uma laranja-lima. Devolver a grana, jamais. Já gastei.
  Melba de Saint Antoine, aos dois meses, envolvida no escándalo!


PT já era!
Há muito tempo que o Partido dos Trabalhadores deixou de ser de esquerda, apesar das olhadas para os lados do Hugo e do Fidel. A única janela por onde entra um ar puro é o PSOL. As declarações do Marcos Mendes me deixaram aliviado: Ainda tem vida inteligente possível nas cavernas da política. Talvez porque ainda não tenha chegado lá. Basta de raposas velhas. Nunca tive a mínima simpatia pelo PFL nem pelo agonizante Dem. Mas a oposição é a essência de qualquer democracia que não seja venezuelana. Todos os países desenvolvidos ostentam uma oposição forte e articulada. E total liberdade de expressão. São fatos que convêm não esquecer e lutar por estes princípios, qualquer que seja a ideologia. E mais: democracia não existe com voto obrigatório. O dia que o voto for facultativo será um desastre para os armengueiros de plantão.

Novos tempos
O boxeador Popopopô para deputado federal? Por que não? E o craque Kakakakakaká para presidente da república, já! Pelo menos teremos força, beleza e juventude. E a burrice também, como oferta exclusiva das Casas Brasilienses. Chega de vozes embargadas pela cachaça e primeiras damas tão cheias de botox que nem conseguem abrir a boca. Ou você prefere olhar para o Paulo Maluflufluf - este cara não desgruda mesmo - arrotando ousadia no seu rosto por mais alguns vinte anos?

Ridículo!
Constrangedora, esta promessa de Serra levar o salário mínimo para R$600 reais e, agora, dar 13° para o bolsa família se for eleito. Parece estar comprando votos. Já que está perdendo, que, pelo menos, seja com classe. Totalmente desacreditado.   

Saúde municipal
Os funcionários do posto de saúde do Santo Antônio afirmam que atendem pacientes de hepatites virais, tuberculose, hiperdia, trabalham com puericultura, planejamento familiar, pré-natal e mais, muito mais problemas. Só que quem for lá para um simples curativo encontra as salas vazias na maior parte do dia e os oito funcionários sentados esperando o trem passar. A sala de odontologia, com material novo, não pode atender pelas mesmas razões que o curativo não será feito, obrigando o paciente a andar até o Barbalho.  Falta a autoclave, instrumento indispensável para esterilização dos instrumentos. E mesmo se tiver, não poderá ser utilizada porque a rede elétrica não agüenta a carga. Este estado de carência existe e persiste há mais de quatro anos! O secretário municipal de Saúde foi solicitado por várias vezes e não dá a honra de uma solução. O contribuinte que se f ...dane. Nem o ex-ministro e ex-futuro governador Geddel Vieira Lima conseguiu sensibilizar o doutô. Mesmo que assistam a Copa do Mundo sentadinhos lado a lado.

Sankai Juku
Meu primeiro contato foi em Paris, no princípio dos anos 90. Nu, a não ser um minúsculo tapa-sexo, coberto de cinzas, da mesma exata cor do asfalto, um homem forte e careca, deitado, se arrastava no passeio da esquina do Café “Les deux magots” em pleno coração de Saint-Germain. O estranho movimento ondulatório do corpo lembrava ondas marítimas. Não me lembro de tê-lo visto se levantar nem para sentar. O espetáculo me perturbou muito. Nunca ouvira falar em butô, mas as imagens ficaram gravadas na memória.
Vários anos passaram até o Sankai Juku aparecer no palco do TCA, ainda na gestão do Teodomiro Queiroz. Quem assistiu não pode ter esquecido o espelho d´água e os figurinos brancos molhados, colados ao corpo dos dançarinos.
Quando soube que o grupo voltava a Salvador, correndo o risco de me tornar pesado, pedi insistentemente a administração do teatro para me reservar, com exagerada antecedência, dois bons lugares.
O jornal A Tarde publicou uma página inteira no mesmo dia. Avisei repetidamente meus leitores para não perder o espetáculo. Mas qual a minha surpresa, entrando no recinto, ao constatar que um bom terço das poltronas permaneceria vazio! Se a classe A baiana nunca brilhou pela sua cultura, devemos admitir que a média tem pouca curiosidade além do Bolshoi e Gilberto Gil. Precisam saber o que vai ser servido, como se fosse uma moqueca.
Para ser honesto, talvez por não mais existir o impacto da descoberta, esta nova apresentação me deixou menos empolgado, notando certa redundância na segunda parte. Colocada esta ressalva, foi um momento de rara intensidade.


por razao desconhecida, nao consigo anexar o youtube do balé


Da mesma forma que o silêncio também é música, a imobilidade pode ser dança. Despojamento, economia de gestos até chegar ao mais puro minimalismo, o butô, que nasceu no Japão pouco após a segunda guerra mundial, seria a dança da escuridão. Cobertos por inteiro de pó de arroz, oito homens, cabeça e corpo raspados, parecem não conseguir se arrancar do chão. Afirma seu fundador que o conceito repousa sobre o princípio da gravidade. Ela é sempre presente como um ímã prendendo o homem à terra. Raramente os dançarinos serão vistos eretos e leves ou pulando como na tradicional dança acadêmica européia cujo princípio e justamente a negação do peso. De Nijinsky à mais nova bailarina de Deborah Colker, a força contribui para abolir a gravidade. No butô, qualquer gesto das mãos, dos pés ou da boca reveste a solenidade de um ato ritual. Tanto o disco colocado tal uma ilha no meio do palco como a constelação do pano de fundo, são elementos que situam no tempo e no espaço a seqüência da coreografia. A iluminação – excelente, quem não notou a luz azulada caindo do céu? - imprime um ritmo definido ao espetáculo. A música nunca se impõe, servindo de suporte, ao contrário de muitas coreografias ocidentais que parecem meras ilustrações da obra musical. Enfim, resta falar dos surpreendentes figurinos cuja autoria não é mencionada no programa, mas deve ser, como da primeira vez, do genial costureiro Issey Miyake*. Quem perdeu a apresentação do Sankai Juku perdeu a oportunidade de modular sua sensibilidade para outras culturas.

*Sugiro abrir o Google para ver o trabalho deste artista. São verdadeiras esculturas

Última hora.
Autor de cinco títulos publicados, o antropólogo Vivaldo Costa Lima faleceu esta semana aos 85 anos. Como diretor geral do IPAC, foi responsável pelas mudanças sociais do Pelourinho, debaixo das orientações do então governador Antônio Carlos Magalhães.
                                                                                                   Salvador, 24 de setembro de 2010

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