Quase todo mês de outubro, escrevo algo sobre a nossa profissão. Isso porque me parece fundamental trazer para os leitores uma compreensão maior sobre o nosso papel. Somos uma categoria muito desprestigiada. Pesquisa realizada pela OCDE (2014) em 44 países, indicava estar o Brasil nas piores colocações em termos de salário dos professores. Enquanto que em Luxemburgo o salário anual de um professor girava em torno de 60 mil dólares, no Brasil, era de 10 mil e poucos dólares. A média, nos países pesquisados, era de 30 mil dólares anuais (R$12.500,00/mês).
NELSON PRETTO
Vida de professor é assim, cheia de alegrias e lutas. Lutas e alegrias que vivi ao longo dos mais de 40 anos atuando nesse campo. Minha saga em defesa do professor e da profissão não para. Comecei a vida de professor muito novo, algumas vezes com alunos mais velhos. Comecei como professor de Geografia, no antigo Supletivo, no Vieira, com meus 16/17 anos, ao tempo em que também participava de uma experiência de educação de adultos em um centro comunitário, em Cosme de Farias, utilizando o método Paulo Freire. Vivi a riqueza de dar aulas para pessoas de mais de 60 anos, num rico processo formativo. Após as aulas, nós, os jovens professores, íamos até a casa do padre que coordenava o projeto, e lá papeávamos até tarde tomando uma boa cachacinha. Eram conversas sobre o projeto e a realidade brasileira. Começava assim minha formação política e peregrinação para a construção de uma sociedade justa. Nada fácil, até os dias de hoje.
Defendo, desde muito, que não basta ao professor ser um provedor de conteúdos. Ele tem que atuar politicamente, o que inclui uma forte presença na mídia. Sempre insisto nessa dimensão comunicativa, já considerada por Paulo Freire desde 1960. Mas ocupar os espaços da mídia não era - e não é! - fácil. Desde meus primeiros anos como professor e sindicalista, escrevia artigos sobre educação e fazia visitas ao Dr. Jorge Calmon - e à zelosa D. Zélia - para apresentar meus textos, na época ainda datilografados, na expectativa de, passando pelo seu crivo, vê-los aqui em A Tarde. Meu primeiro artigo, aqui, tratava do tema das mensalidades das escolas particulares.
O piso salarial foi uma grande vitória, mas diversos Estados não o respeitam e seguem pagando salários menores. A jornada de trabalho de professor é exaustiva, com muitas horas em sala de aula e, muitas vezes, por conta dos baixos salários, pulando de colégio em colégio.
Nesse contexto, a nossa formação e articulação política não pode ser negligenciada, sendo fundamental a atuação sindical. Lutamos muito para retomar o SINPRO, nos anos de 1970. Fiz parte dessa luta, com orgulho. O sindicato, desde aquela época, passou a ser, de fato, nosso. Mas precisamos estar lá, no SINPRO e na APLB, presentes de forma cotidiana. Há poucos dias, se encerrou a Jornada Pedagógica do SINPRO. Foram poucos os professores participantes, se considerarmos o tamanho de nossa classe.
Como mencionei, nesses mais de 40 anos de vida como professor, fui acumulando experiências vividas aqui e acolá. Algumas dessas histórias estão no livro “Uma dobra no tempo - um memorial (quase) acadêmico”, que lanço hoje à noite no Palacete das Artes (Salvador), e, dia 26, na Feira do Livro da UESC. Esse livro é publicado pela Editus, da UESC, que vem fazendo, junto com a Edufba, um belo trabalho com uma política de Acesso Aberto. Alguns dos livros dessas duas editoras estarão hoje à noitinha no lançamento e, com o apoio do SINPRO, vamos celebrar o dia do professor, o nosso dia. Afinal, no nosso cotidiano laboral, sabemos muito bem lutar, mas também festejar. E uma boa luta é aquela que fazemos com alegria, mesmo porque trabalhamos para a construção de um mundo justo, solidário e também feliz. Salve o dia do professor.
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