Amanhã termina o evento cultural mais polêmico destas últimas
décadas na Bahia. Odiado ou elogiado por uns, ignorado por outros, a III Bienal
teve, no mínimo, o raro talento de sacudir uma área para lá de conformista e
provinciana que recusa o menor crédito a quem não usar de cavalete e pinceis.
Qual teria sido minha reação se não tivesse sido envolvido
desde o início nesta empreitada? Provavelmente teria passado bem longe, sem
entender a importância do sismo anunciado. Conhecer de perto alguns dos atores
e entender a seriedade de suas preocupações me ajudou a perder preconceitos e a
confirmar restrições, longe dos golpes de marketing a la Vik Muniz: lixo
higienizado, garis perfumados e carnes sangrentas. Constatei a importância invasora
dos curadores, lamentei o desperdício de papel para mapas que nem sempre ajudaram
o visitante disposto a atravessar o espelho.
Gostei das denúncias implícitas ao
escolher a escuridão dos Arquivos Públicos e o maltratado Solar do Unhão. Me
emocionei com a fé na cultura do pessoal da Laje de Plataforma.
Duas pessoas foram importantes na minha nova caminhada: o
próprio responsável, Marcelo Rezende, remando a contra-corrente e a contra-vento,
pulverizando espaços e despertando valores adormecidos, e a paulista Camila Sposati,
ao enfrentar com bíblica determinação um projeto no qual ninguém acreditava, a
começar por sua curadora (R$106 mil?) que escolheu viajar para Europa durante
boa parte da Bienal.
Aos poucos um
teatro anatômico vai cavando sua rota rumo ao centro da terra num terreno
baldio da velha Itaparica. Intrigas, sussurros, boatos tecem um véu de lendas e
mistérios, suscitam outras inquietações.
Início de um projeto ambicioso – encruzilhada
de memória, química, geologia e física - que poderá pontuar quatro continentes.
As galerias que representam a artista em São Paulo e Nova-Iorque aguardam.
Como nós aguardamos as polêmicas da próxima bienal.
Como nós aguardamos as polêmicas da próxima bienal.
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