Petrobras é a 2ª pior
em ranking global
GLOBO
- Entre 50 petroleiras, estatal só supera russa Gazprom.
- Com dividendo menor, ação ON da empresa atrai menos
RIO — A Petrobras tornou-se na semana passada a segunda petroleira mais desvalorizada do mundo, numa lista que inclui as 50 maiores empresas de petróleo e gás integrados. A estatal brasileira aparece nesse ranking à frente apenas da russa Gazprom, que enfrentou uma série de crises por corrupção nos últimos anos. O critério de desvalorização, neste caso, significa que o valor de mercado é inferior ao valor patrimonial da empresa. Ou seja, os investidores estão dispostos a pagar pelas ações da Petrobras um preço menor que o total de ativos da companhia — como reservas de petróleo, dinheiro em caixa, refinarias e plataformas. Esse “desconto” exigido pelo mercado era de 34% na sexta-feira, segundo dados da Bloomberg News. Para analistas, o número revela a desconfiança com o futuro da empresa, após decepções com o reajuste de preços dos combustíveis, a queda da sua lucratividade e as mudanças na política de dividendos (os lucros pagos aos acionistas).
— O desconto mostra que o mercado não acredita que as operações da Petrobras serão suficientes para gerar um resultado capaz de manter o atual patrimônio da empresa — diz Hersz Ferman, gestor de renda variável da Yield Capital. — Essa diferença poderia ser reduzida se a empresa conseguisse novos reajustes de combustíveis, o que dependeria de uma trégua da inflação. Mas apostar nisso é futurologia.
Na segunda-feira passada, a Petrobras divulgou um lucro líquido de R$ 21,18 bilhões em 2012, queda de 33% em relação ao ano anterior. Com isso, as ações ordinárias (ON, com voto) da Petrobras passaram a acumular uma perda de 16,16% no ano, e as preferenciais (PN, sem voto), de 9,84%.
Dividendos caem pela metade
E como se não bastassem as fortes quedas das ações da Petrobras, a empresa anunciou na última terça-feira uma polêmica mudança na forma como distribui os lucros aos seus acionistas, os chamados dividendos. Quem tem papéis ordinários vai receber apenas R$ 0,47 por ação referente ao exercício de 2012, o menor valor em pelo menos oito anos, e bem abaixo dos R$ 0,92 pagos de 2011. Isso equivale a um retorno anual dos dividendos de 2,8%, ante 3,75% no ano passado. Essa perda de rentabilidade representa dois meses de ganhos da caderneta de poupança. Segundo especialistas, para quem busca nos dividendos uma renda periódica, os papéis ordinários da Petrobras ficaram pouco atraentes.
Simulações feitas por especialistas mostram que um pequeno investidor que tenha 500 ações ordinárias da petroleira em carteira, o equivalente a R$ 8.500 pelo atual preço do papel na Bolsa, vai receber neste ano R$ 141 em dividendos, uma queda de 48,9% em relação aos R$ 276 do ano passado. Esses são valores brutos, antes do desconto de 15% do Imposto de Renda (IR).
— Para quem busca o rendimento periódico, a Petrobras ficou menos atraente se comparada a outras empresas, como Ambev, CCR e Souza Cruz por exemplo. As ações dessas empresas se valorizaram mais no período e tiveram taxas de dividendos maiores — diz Flavio Lemos, da Trader Brasil.
Nas ações preferenciais, uma classe predileta entre as pessoas físicas porque têm preferência no recebimento dos lucros, os dividendos foram preservados. A Petrobras vai pagar R$ 0,96 por cada papel, o que representa um retorno de 5,3%, taxa ainda maior que a da caderneta de poupança.
Baratas, mas arriscadas
Segundo a Petrobras, os dividendos serão desiguais porque o critério escolhido para calcular a remuneração será diferente este ano. Os papéis PN vão receber o equivalente a 3% do patrimônio líquido da empresa. Há pelo menos oito anos esse critério teria sido estendido para as ações ordinárias. Neste ano, porém, os papéis ON vão receber o equivalente a 25% do lucro líquido da empresa no exercício de 2012. O objetivo da Petrobras é poupar seu caixa em cerca de R$ 3,5 bilhões — os dividendos distribuídos serão de R$ 8,8 bilhões, ante R$ 12,3 bilhões se o mesmo critério fosse adotado para as duas classes de ações.
Segundo Lucas Brendler, analista de petróleo da Geração Futuro, o estatuto da Petrobras previa uma distribuição desigual dos dividendos e, portanto, quem comprou as ações deveria conhecer os riscos de uma mudança.
— Não é necessariamente uma mudança definitiva. E isso vai ter um benefício, já que o dinheiro economizado vai ser investido e vai gerar caixa para a empresa — avalia Brendler.
Segundo Francisco Cataldo, analista da Ágora Corretoras, apesar das quedas recentes e do menor dividendos, os investidores devem manter as ações e aguardar a recuperação de preços, o que deve ocorrer nos próximos quatro anos.
Para as analistas do BB Investimentos Andréa Aznar, apesar de tecnicamente baratas, as ações da Petrobras tendem a seguir instáveis. Isso significa que o pequeno investidor que comprar ações agora precisa ter consciência dos riscos de perdas a curto prazo:
— O que sempre falamos é que renda variável é um investimento de longo prazo. E a Petrobras é neste momento um caso bem especial disso. Não adianta comprar a ação hoje para vendê-la na primeira queda de 3% que ocorrer.
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