sábado, 23 de fevereiro de 2013

O COMÉRCIO DOS NEGROS



Imagine o leitor, por um instante, que Cláudia Leitte, ou Bel Marques, declare publicamente que os blocos carnavalescos negros deveriam desfilar a parte, num bairro diferente, longe dos circuitos Campo Grande, Barra e Ondina. Não será difícil adivinhar a reação escandalizada dos “politicamente corretos” E haja chuva de tomates, xingamentos e pedradas! Racista! Nazista! Boicote nela(e)! Ministério Público! Fora!  Paredão nela(e)!
Mas quando um negro – irrequieto músico e compositor - ousa proferir tamanha besteira, a maioria da opinião pública e imprensa acha bacana e logo vai saindo por aí a bater palmas. Já estamos todos acostumados às excentricidades e excessos do Carlito Marron (51), como dizem os espanhóis. Barulhento era no Candeal, barulhento continua no Mercado do Ouro, ainda sem o isolamento acústico prometido há um tempão. A obsessiva necessidade do autor de Dandalunda aparecer em qualquer mídia - televisão, jornal ou mera propaganda - passando por descabida exibição do pinto, o talentoso, mas dispersivo baiano acaba falando o que não devia.
O projeto do Afródromo é, no mínimo, um total equívoco. Numa terra caracterizada por sua diversidade étnica e cultural, a simples alusão a uma divisão, seja ela somente cultural, é afronta aos esforços de todos aqueles que trabalham para a erradicação dos preconceitos.  Os blocos negros devem brigar para serem tratados no mesmo nível que os outros, nos mesmos espaços. Sem esta vitória nunca haverá igualdade. Ou então, já agora, vamos obrigar os índios a desfilarem no Cabula, os japoneses na Ribeira etc.
Resta o fato de que o atual modelo de carnaval chegou à exaustão. O gigantismo da maioria dos blocos contém o germe de sua própria decadência, gerando mercantilismo desenfreado e mediocridade cultural. Nem sul-coreano salva. É interessante constatar que, em sadia reação, estão surgindo pequenos blocos em diversos bairros da capital, sem cordas nem carros de som, mais humanos, como no Santo Antônio, o mais recente sendo uma feliz iniciativa do bar D´Mente. Talvez seja esta a salvação do carnaval.

COMENTÁRIO DE UMA LEITORA:


Senhor Dimitri,

Gostaria de parabenizá-lo pelo texto COMÉRCIO DOS NEGROS,  abordando a proposta de criação do Afródromo, que transfere o desfile dos blocos afros para o bairro do Comércio.
Concordo plenamente que essa medida, absurdamente defendida por Carlinhos Brown, é um deslavado ato de discriminação social e racial.  
Considero inconcebível essa divisão, pois, como o senhor disse, a Bahia é a terra da diversidade, e a  maior atração do nosso carnaval é justamente essa mistura de ritmos, de cores, de etnias, que tanto atrai os visitantes do mundo inteiro, porquanto reúne a RAÇA HUMANA. 
Concordo que "os negros devem brigar para serem tratados no mesmo nível que os outros, nos mesmos espaços."
Mas a tão defendida igualdade não tem lugar nem mesmo dentro dos blocos afros, que tratam com discriminação os seus integrantes "não negros", principalmente aquele que levantou a bandeira contra o apartheid na África do Sul, que entoava na  letra da canção o grito de guerra" LIBERTEM MANDELA,NOSSO GRANDE IRMÃO.". 
Peço licença ao senhor para manifestar aqui o meu desabafo, não apenas de cidadã  hispano-brasileira, mas, sobretudo, de Mãe indignada que sofre ao ver o seu filho desrespeitado e humilhado, anos seguidos, antes, durante e depois do carnaval, pela entidade que ele idolatra desde criança, o OLODUM, onde, depois de mais de 15 anos tocando como percussionista, conseguiu por mérito próprio, sem pedir ajuda a ninguém, tornar-se cantor da banda principal. Seu nome é Mateus Vidal, 
e é o exemplo da discriminação racial que impera nessa instituição de fama internacional, que "luta pela igualdade dos povos". 
Apesar da aparente "igualdade", na prática a discriminação é acintosa.
 Imagine o senhor, o ocorrido neste carnaval:
o cantor  Mateus (não negro, na definição do presidente do Olodum) está no trio, na Barra, junto com os cantores negros, e, quando a cantora Daniela Mercury sobre ao palco do trio, para cantar com a banda, a PRODUÇÃO ORDENA ao seu CANTOR "NÃO NEGRO" que desça do palco, pois não pode cantar junto com os cantores negros e a musa Daniela Mercury.
Ele, Mateus, cabisbaixo, obedece e desce do palco. A seguir, em dado momento, a cantora Daniela vem cumprimentá-lo e ele se desculpa por não estar prestigiando-a no palco, e explica que foi por ordem da produção. Daniela, então, pega-o pelo braço e vai com ele para o palco, onde canta junto com ele.!!!!!!!!!
Essa informação me foi passada por uma fã, Maria Lúcia Santos Dórea, que estava no bloco e viu toda a cena acontecendo. O senhor pode confirmar com a própria cantora.
 Mateus evita me contar essas barbaridades, pois sabe que me causam tristeza, pois sei o quanto ele batalhou para ser aceito nesse grupo tão fechado, pelo imenso amor que ele tem ao "SOM DO OLODUM".
Outro fato no mínimo "estranho" foi Mateus ter sido vetado de participar de um show em São Paulo, comemorando o Dia da Consciência Negra, do qual o OLODUM participou. Somente ele não participou, e, coincidentemente, só ele é CANTOR NÃO NEGRO. Acredito que CONSCIÊNCIA NEGRA refere-se à consciência do valor do negro, e não à cor da pele.E isso Mateus defende na prática! Por que, então, ele foi impedido de participar?
Afinal, Mateus Vidal representa o OLODUM cantando no FEMADUM, nas terças feiras da bênção no PELOURINHO, nos shows pelo Brasil, nas viagens internacionais
onde encanta os fãs do mundo inteiro. Por que não pode cantar no Show da Consciência Negra se ele FAZ PARTE da BANDA OLODUM!!!!???????
Aliás, justiça seja feita, representa muito bem, pois é uma pessoa carismática, simpática, sabe se expressar bem em qualquer entrevista, é sociólogo por formação e vocação, e , indiscutivelmente, CANTA MUITO. Talvez por isso mesmo incomode tanto os NÃO BRANCOS,( parafraseando João Jorge, presidente do OLODUM).
Esses são apenas alguns fatos isolados, mas todos que assistiram o OLODUM neste e noutros carnavais, certamente percebem quando o cantor Mateus é boicotado pelos outros cantores (ordem da produção), que usam quase todo o tempo  do desfile em frente às emissoras de TV ,sem deixar que ele cante nesses momentos.
Como uma produção de uma banda que tem quatro vocalistas não divide equitativamente o tempo de apresentação de seus cantores?
Peço desculpas por meu desabafo, mas o seu texto me motivou a expressar a  minha indignação CONTRA o RACISMO E O PRECONCEITO,
 que é bandeira do OLODUM apenas no discurso ideológico.  Em entrevista ao jornal A Folha de são Paulo, durante o carnaval,o  presidente do OLODUM critica a discriminação  dos blocos negros, mas, na prática, comete tais barbaridades discriminatórias com seu próprio cantor "não negro", no mínimo, contraditórias!!!
 Aliás, essa gritante discriminação do cantor Não Branco agride a inteligência, pois, acredito que seria um merchandising positivo a presença de brancos e negros no OLODUM, EM IGUALDADE DE CONDIÇÕES E OPORTUNIDADES, não acha?
Quero agradecer esse espaço para me pronunciar, para expressar esse indignado desabafo de mãe e cidadã, e assumo a responsabilidade  exclusiva pelas minhas declarações. E, para ser bem sincera, meu desejo é que o meu filho alce seu vôo solo, para bem longe dessa hipocrisia disfarçada de "Luta pela igualdade social" que se chama OLODUM! Porque talento e carisma ele tem de sobra, e não precisa sofrer tanta humilhação!
Muito grata por sua atenção.

Maria Rita Conceição Vidal
Assistente Social e Mãe

OUTRO COMENTÁRIO


Em primeiro lugar, quero parabenizá-lo por este magnífico trabalho. Concordo com tudo o que você afirmou e a opinião da Sra. Maria Rita Conceição Vidal foi importante, pois bem demonstrou como os negros são discriminativos, coisa que ninguém combate porque ficam com medo de passar por racistas. Esse Brow já se portou de forma desrespeitosa publicamente sem que nenhuma autoridade lhe desse um corretivo, por ser tido como uma estrela do carnaval. Há alguns anos, em dia de eleições, minha filha foi votar no Engenho Velho de Brotas e ao passar por um grupo de negros e mulatos esses lhe dirigiram piadas indecentes, tendo alguém perguntado em quem ela ia votar. Como ela não lhes deu confiança, um deles bradou: “Além de branca é ignorante!”
  Noto que nos blocos negros não há brancos e, se os há, deve ser em pequena quantidade, pois não dá para perceber quando vejo a TV. Muitos deles pensam que o crime de racismo é só para brancos e o filho da Sra. Maria Rita já deveria ter deixado o bloco discriminatório há tempos e procurado outro que não o discriminasse.
Parabéns,
Gilberto Santos

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