Mas quando um negro – irrequieto
músico e compositor - ousa proferir tamanha besteira, a maioria da opinião
pública e imprensa acha bacana e logo vai saindo por aí a bater palmas. Já
estamos todos acostumados às excentricidades e excessos do Carlito Marron (51), como dizem os espanhóis. Barulhento era no Candeal,
barulhento continua no Mercado do Ouro, ainda sem o isolamento acústico
prometido há um tempão. A obsessiva necessidade do autor de Dandalunda aparecer em qualquer mídia -
televisão, jornal ou mera propaganda - passando por descabida exibição do pinto,
o talentoso, mas dispersivo baiano acaba falando o que não devia.
O projeto do Afródromo é, no
mínimo, um total equívoco. Numa terra caracterizada por sua diversidade étnica
e cultural, a simples alusão a uma divisão, seja ela somente cultural, é afronta
aos esforços de todos aqueles que trabalham para a erradicação dos
preconceitos. Os blocos negros devem
brigar para serem tratados no mesmo nível que os outros, nos mesmos espaços.
Sem esta vitória nunca haverá igualdade. Ou então, já agora, vamos obrigar os
índios a desfilarem no Cabula, os japoneses na Ribeira etc.
Resta o fato de que o atual
modelo de carnaval chegou à exaustão. O gigantismo da maioria dos blocos contém
o germe de sua própria decadência, gerando mercantilismo desenfreado e
mediocridade cultural. Nem sul-coreano salva. É interessante constatar que, em
sadia reação, estão surgindo pequenos blocos em diversos bairros da capital,
sem cordas nem carros de som, mais humanos, como no Santo Antônio, o mais
recente sendo uma feliz iniciativa do bar D´Mente. Talvez seja esta a salvação
do carnaval.
COMENTÁRIO DE UMA LEITORA:
OUTRO COMENTÁRIO
COMENTÁRIO DE UMA LEITORA:
Senhor Dimitri,
Gostaria de parabenizá-lo pelo texto COMÉRCIO DOS
NEGROS, abordando a proposta de criação do Afródromo, que transfere o
desfile dos blocos afros para o bairro do Comércio.
Concordo plenamente que essa medida, absurdamente
defendida por Carlinhos Brown, é um deslavado ato de discriminação social e
racial.
Considero inconcebível essa divisão, pois, como o
senhor disse, a Bahia é a terra da diversidade, e a maior atração do nosso
carnaval é justamente essa mistura de ritmos, de cores, de etnias, que tanto
atrai os visitantes do mundo inteiro, porquanto reúne a RAÇA HUMANA.
Concordo que "os negros devem brigar para
serem tratados no mesmo nível que os outros, nos mesmos espaços."
Mas a tão defendida igualdade não tem lugar nem
mesmo dentro dos blocos afros, que tratam com discriminação os seus integrantes
"não negros", principalmente aquele que levantou a bandeira contra o
apartheid na África do Sul, que entoava na letra da canção o grito
de guerra" LIBERTEM MANDELA,NOSSO GRANDE IRMÃO.".
Peço licença ao senhor para manifestar aqui o meu
desabafo, não apenas de cidadã hispano-brasileira, mas, sobretudo, de Mãe
indignada que sofre ao ver o seu filho desrespeitado e humilhado, anos
seguidos, antes, durante e depois do carnaval, pela entidade que ele idolatra
desde criança, o OLODUM, onde, depois de mais de 15 anos tocando como
percussionista, conseguiu por mérito próprio, sem pedir ajuda a ninguém,
tornar-se cantor da banda principal. Seu nome é Mateus Vidal,
e é o exemplo da discriminação racial que impera
nessa instituição de fama internacional, que "luta pela igualdade dos
povos".
Apesar da aparente "igualdade", na
prática a discriminação é acintosa.
Imagine o senhor, o ocorrido neste carnaval:
o cantor Mateus (não negro, na definição do
presidente do Olodum) está no trio, na Barra, junto com os cantores negros,
e, quando a cantora Daniela Mercury sobre ao palco do trio, para cantar
com a banda, a PRODUÇÃO ORDENA ao seu CANTOR "NÃO NEGRO" que
desça do palco, pois não pode cantar junto com os cantores negros e a musa
Daniela Mercury.
Ele, Mateus, cabisbaixo, obedece e desce do palco.
A seguir, em dado momento, a cantora Daniela vem cumprimentá-lo e ele se
desculpa por não estar prestigiando-a no palco, e explica que foi por ordem da
produção. Daniela, então, pega-o pelo braço e vai com ele para o palco, onde
canta junto com ele.!!!!!!!!!
Essa informação me foi passada por uma fã, Maria
Lúcia Santos Dórea, que estava no bloco e viu toda a cena acontecendo. O senhor
pode confirmar com a própria cantora.
Mateus evita me contar essas barbaridades,
pois sabe que me causam tristeza, pois sei o quanto ele batalhou para ser
aceito nesse grupo tão fechado, pelo imenso amor que ele tem ao "SOM DO
OLODUM".
Outro fato no mínimo "estranho" foi
Mateus ter sido vetado de participar de um show em São Paulo, comemorando o Dia
da Consciência Negra, do qual o OLODUM participou. Somente ele não participou,
e, coincidentemente, só ele é CANTOR NÃO NEGRO. Acredito que CONSCIÊNCIA
NEGRA refere-se à consciência do valor do negro, e não à cor da pele.E isso
Mateus defende na prática! Por que, então, ele foi impedido de participar?
Afinal, Mateus Vidal representa o OLODUM cantando
no FEMADUM, nas terças feiras da bênção no PELOURINHO, nos shows pelo Brasil,
nas viagens internacionais
onde encanta os fãs do mundo inteiro. Por que não
pode cantar no Show da Consciência Negra se ele FAZ PARTE da BANDA OLODUM!!!!???????
Aliás, justiça seja feita, representa muito bem,
pois é uma pessoa carismática, simpática, sabe se expressar bem em qualquer
entrevista, é sociólogo por formação e vocação, e , indiscutivelmente,
CANTA MUITO. Talvez por isso mesmo incomode tanto os NÃO BRANCOS,(
parafraseando João Jorge, presidente do OLODUM).
Esses são apenas alguns fatos isolados, mas todos
que assistiram o OLODUM neste e noutros carnavais, certamente percebem quando o
cantor Mateus é boicotado pelos outros cantores (ordem da produção), que usam
quase todo o tempo do desfile em frente às emissoras de TV ,sem deixar
que ele cante nesses momentos.
Como uma produção de uma banda que tem quatro
vocalistas não divide equitativamente o tempo de apresentação de seus cantores?
Peço desculpas por meu desabafo, mas o seu texto me
motivou a expressar a minha indignação CONTRA o RACISMO E O PRECONCEITO,
que é bandeira do OLODUM apenas no discurso
ideológico. Em entrevista ao jornal A Folha de são Paulo, durante o
carnaval,o presidente do OLODUM critica a discriminação dos blocos
negros, mas, na prática, comete tais barbaridades discriminatórias com seu
próprio cantor "não negro", no mínimo, contraditórias!!!
Aliás, essa gritante discriminação do cantor
Não Branco agride a inteligência, pois, acredito que seria um merchandising
positivo a presença de brancos e negros no OLODUM, EM IGUALDADE DE CONDIÇÕES E
OPORTUNIDADES, não acha?
Quero agradecer esse espaço para me pronunciar,
para expressar esse indignado desabafo de mãe e cidadã, e assumo a
responsabilidade exclusiva pelas minhas declarações. E, para ser bem
sincera, meu desejo é que o meu filho alce seu vôo solo, para bem longe dessa
hipocrisia disfarçada de "Luta pela igualdade social" que se chama
OLODUM! Porque talento e carisma ele tem de sobra, e não precisa sofrer tanta
humilhação!
Muito grata por sua atenção.
Maria Rita Conceição Vidal
Assistente Social e Mãe
OUTRO COMENTÁRIO
Em primeiro lugar, quero
parabenizá-lo por este magnífico trabalho. Concordo com tudo o que você afirmou
e a opinião da Sra. Maria Rita Conceição Vidal foi importante, pois bem
demonstrou como os negros são discriminativos, coisa que ninguém combate porque
ficam com medo de passar por racistas. Esse Brow já se portou de forma desrespeitosa
publicamente sem que nenhuma autoridade lhe desse um corretivo, por ser tido
como uma estrela do carnaval. Há alguns anos, em dia de eleições, minha filha
foi votar no Engenho Velho de Brotas e ao passar por um grupo de negros e
mulatos esses lhe dirigiram piadas indecentes, tendo alguém perguntado em quem
ela ia votar. Como ela não lhes deu confiança, um deles bradou: “Além de branca
é ignorante!”
Noto
que nos blocos negros não há brancos e, se os há, deve ser em pequena
quantidade, pois não dá para perceber quando vejo a TV. Muitos deles pensam que
o crime de racismo é só para brancos e o filho da Sra. Maria Rita já deveria
ter deixado o bloco discriminatório há tempos e procurado outro que não o
discriminasse.
Parabéns,
Gilberto Santos
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