Poucos conhecem a rua do Pilar que, na parte baixa da encosta do mesmo nome, corre do Taboão à Igreja de Santa Luzia. Esta, pérola da arquitetura religiosa baiana, com seu imponente cemitério de inspiração romana na lateral, é remanescente de um tempo em que belos templos eram edificados para celebrar a espiritualidade.
Novas religiões investem menos e lucram mais, alugando, simbolicamente, depósitos, cinemas e supermercados falidos, investindo o mínimo em infra-estrutura, mesmo sob risco de o telhado desabar. Passo por esta rua com freqüência, usando o Plano Inclinado, perto de minha casa, a caminho do Comércio. Aproveito as sombras do Trapiche Barnabé e do Mercado do Ouro para me abrigar do sol. Para o apressado, pouco tem para alimentar a imaginação; mas para o curioso impenitente, sempre um detalhe, como, por exemplo o pequeno painel, não mais de uma dúzia de azulejos, homenageando a vizinha Santa Luzia, protetora dos olhos. Não se trata de obra muito antiga. Talvez uns trinta ou quarenta anos, mas alegra a sisudez do lugar, esquecido, como tantos outros, por uma prefeitura mais preocupada em entregar nossas matas às construtoras predadoras.
Quando escrevo “alegra”, melhor seria colocar: “alegrava”. Pois, passando hoje de manhã, notei que os azulejos tinham sido arrancados. Perguntando ao dono da oficina o porquê da retirada, com ínfima convicção, ele me respondeu “Porque sou de outra religião”. Nem precisou entrar em detalhes, já adivinhara qual. Com reforço de refrigerantes e hot-dogs, somos obrigados a constatar mais uma nefasta influência da terra dos new born christians, que acabaram gerando guerras tão intermináveis quanto vergonhosas.
Como aceitar que, neste terceiro milênio, ainda estejamos vivendo numa sociedade de trevas onde a intolerância religiosa invade igrejas católicas para agredir santos, apedreja terreiros de candomblé e até vandaliza humildes azulejos? Qual a diferença entre estes fanáticos e os muçulmanos afegãos destruindo estatuas de Budas consideradas Patrimônio da Humanidade?
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