Extrato do relato de viagem do príncipe real Maximiliano de Habsburgo. Parte do relato foi editado pela Ufba em 1982, sob a responsabilidade de Kátia Mattoso e Moema Parente Augel. “Bahia 1860” é um livro fascinante, apesar das irritantes e freqüentes declarações preconceituosas sobre os negros, sem porem compactuar, de forma alguma, com o princípio da escravidão.
Interrogado sobre o livro, Pierre Verger declarou certa vez que o texto não era relevante. Permito-me discordar do ilustre antropólogo e fotógrafo. Muito pelo contrário, a alteza nos revela, pela primeira vez acho eu, uma Bahia, capital e Recôncavo, impregnada de sensualidade e magia, além de fornecer preciosas notas sobre os hábitos da época e a natureza exuberante. Sem nunca perder uma discreta e saudável ironia. Terei oportunidade de publicar outros trechos deste livro, do qual tenho dois exemplares, hoje considerados raridade.
“(...) Uma mulher, em especial, despertou-nos a atenção, por sua figura incomum. Vestia o traje típico e admirável das negras brasileiras, o qual possui reminiscências da longínqua pátria oriental. Uma saia de chita estampada com flores vivas cai, folgada e descuidadamente, em volta das ancas, que balançam suavemente. Uma bata branca, sem manga, esvoaça, como peça casual, na parte superior do corpo. Ao andar pela cidade, um xale colorido, com bordado aberto e pregas graciosas, cobre-lhe os ombros. Contas de vidro com amuletos profanos pendem em longas voltas sobre o peito. Um torço de tecido leve, branco ou azul-claro envolve-lhe a cabeça. As cores vivas e claras assentam muito bem com o tom bronzeado do corpo, se ele ainda é jovem e roliço e, também nesse sentido e nesse nível, o coquetismo é possível. A mulher de quem acabei de falar reinava, vaidosamente no grupo, tinha um pescoço e umas costas que honraria o imperador Vitélio. O busto bem desnudo encontrava-se em perfeita harmonia com todo o conjunto exuberante. Toda a figura exótica era, contudo, sob certo aspecto, esplendida, devido ao brilho aveludado e a cor bronzeada da pele. A mulher expressava a própria convicção disso, através de um sorriso de muita satisfação.”
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