sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

SECRETÁRIO HOMOFÓBICO

Secretário de Direitos Humanos do Rio diz acreditar na cura gay

Pastor afirma ser contra união homoafetiva e ataca uma das bandeiras da própria pasta

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RIO - Em meio à crise financeira que atinge o estado, o secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, pastor Ezequiel Teixeira, abre o verbo para atacar uma das principais bandeiras da própria pasta. Em entrevista para explicar as razões do fechamento de quatro centros de assistência à população LGBT e da suspensão do serviço de teleatendimento, ele discorre sobre sua posição contra o casamento homoafetivo. Afirma ainda acreditar na cura gay — o pastor compara a homossexualidade a doenças como Aids e câncer. E fala de suas posições como se respondesse à surpresa que elas causam nas pessoas pelo fato de ele ocupar o cargo de secretário da área. Considerado um sucesso desde que foi desenvolvido a partir de 2007, o projeto Rio Sem Homofobia, que está praticamente sem funcionar e já demitiu 78 pessoas desde janeiro, é subordinado à sua pasta.
— Poxa, o senhor crê na cura? Eu creio, plenamente. Eu não creio só na cura gay, não. Creio na cura do câncer, na cura da Aids... Sabe por quê? Porque eu sou fruto de um milagre de Deus também — compara o secretário, para depois de ser questionado, rechaçar que considera a homossexualidade uma doença:
— Mas creio que todo mundo pode receber uma transformação, uma mudança.


'OS INCOMODADOS QUE SE MUDEM'

Apesar da forma contundente com que fala sobre o assunto, ele nega que o fato de ser um dos fundadores da igreja evangélica Projeto Nova Vida e que seus valores religiosos influenciem suas ações na pasta. Deputado federal filiado ao Partido da Mulher Brasileira (PMB), Ezequiel garante não ter a intenção de adotar na secretaria qualquer tipo de programa para a “cura gay”. Afirma que dará continuidade ao Rio Sem Homofobia e que tomará decisões de acordo com as orientações do governo estadual. Para ele, não há qualquer constrangimento pelo fato de ocupar a secretaria que tem, em seu guarda-chuva, a principal política LGBT do estado. Mas, ao responder a críticas feitas anteontem pelo coordenador do Rio Sem Homofobia, Claudio Nascimento, sobe o tom.
— Os incomodados que se mudem. Eu estou aqui e bem. Quem é o secretário? Se está desconforme com o secretário, o que vou fazer? Eu não o poderia ter exonerado? Eu exonerei várias pessoas... Estou tentando caminhar — afirma, antes de destacar que, ao ser escolhido para o cargo, suas posições pessoais já eram conhecidas. — Fui eleito com essas convicções. Fui convidado para estar aqui. E todos que me chamaram sabiam das minhas convicções. Até porque eu tenho convicção, mas respeito todos os outros que não têm a mesma que a minha.
O secretário diz também se sentir vítima de intolerância, por ser identificado apenas por sua trajetória como pastor. Ele chega a lembrar que “intolerância é crime no Brasil”. Anteontem, diante do fechamento dos quatro centros de Cidadania LGBT do estado e da interrupção do Disque Cidadania LGBT, Claudio Nascimento tinha apontado uma incompatibilidade política e ideológica entre o secretário e os objetivos do Rio Sem Homofobia.


Segundo ele, são cerca de 230 funcionários terceirizados da secretaria com salários atrasados, 78 deles do Rio Sem Homofobia, que ainda não receberam os pagamentos de setembro a dezembro, além do 13º. De acordo com o pastor, a situação deve começar a se regularizar a partir do fim deste mês.
Ainda não há prazo, porém, para a renovação do contrato com a Uerj pelo qual era feito, até o fim do ano passado, o pagamento dos técnicos do programa de combate à homofobia. O secretário afirma que um parecer da Procuradoria Geral do Estado apontou erros no documento, que foi reformulado e enviado para avaliação da reitoria da universidade.
Para 2016, Ezequiel prevê um cenário de dificuldades na secretaria, com redução do orçamento (de R$ 625 milhões ano passado para R$ 466 milhões). O Rio Sem Homofobia, porém, diz Ezequiel, terá mais recursos (de R$ 2,4 milhões para R$ 4,38 milhões). Ele ainda levanta suspeitas de mau gerenciamento do dinheiro público no programa. E questiona, por exemplo, gastos de R$ 228 mil, ano passado, para a realização de uma cerimônia coletiva de casamento homoafetivo.
Declarações que provocaram a reação de Nascimento. Segundo o coordenador, ele segue no programa por um compromisso assumido com o governador Luiz Fernando Pezão. E diz que “os incomodados nem sempre devem se mudar, porque é necessário ficar para que algo mude”.
— A frase (do secretário) só mostra a dificuldade dele de lidar com as diferenças e contradições — afirma, rebatendo também a acusação de má gestão. — A cortina caiu. Isso só demonstra que, na verdade, ele estava esperando o momento para fazer esse tipo de luta política com golpe abaixo da cintura. Ao fazer esse ataque, o leão mostra os dentes.
Ao justificar suas ressalvas a Ezequiel na secretaria, Nascimento diz que leva em conta suas posições enquanto deputado.
— Ele se utilizou da atuação legislativa para impor valores religiosos.


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