domingo, 28 de fevereiro de 2016

A CURIOSIDADE COMO VIRTUDE

FOT: DIMITRI GANZELEVITCH
LIMA-PERU

Recebi, dia desses, um casal de jovens franceses recomendados por amigos comuns, ambos das áreas culturais parisienses. Ficaram dois meses em Salvador e já estavam de saída para Recife onde talvez iriam permanecer por mais dois meses, dependendo de ventos e encontros. O que me parece uma excelente forma de viajar. Ficar um bom tempo em cada lugar escolhido, pousar e vasculhar ao acaso o óbvio e o secreto. 

Estiveram no terreiro de Oxumaré, lá na avenida Vasco da Gama. Ficaram cinco minutos “... estava cheio de turistas. Nem os próprios adeptos tinham espaço para entrar”. Foram a outro, no Barbalho, nada comentaram. Visitaram alguma igreja? “Bem... sim, algumas, mas não me lembro os nomes”. Nenhuma parecia ter marcado os visitantes. Algum museu? O Museu de Arte Moderna estava em obras. 

Comecei a ficar nervoso. Ficar oito semanas na mais antiga capital do Brasil e nada registrar de sua história, de seu passado? Jovens que se pretendem preocupados com cultura? Qual seria a proposta da viagem? Simplesmente andar pelas ruas e becos, bater longos papos com algum capoeirista e uma ou outra dançarina? Sentar na escadaria da Igreja do Passo ou da catedral olhando o movimento? 

Claro que cada um tem sua forma de perceber os povos e suas culturas, mas não me parece razoável, nem intelectualmente sadio, descartar os alicerces de uma sociedade. Quando viajo, faço o impossível para investigar tudo. De catedrais a mercados e feiras. Passo o pente fino por praças e becos. Sento em barracas incertas e passeio pelos corredores de todo convento. Comida de rua ou de restaurante estrelado, provarei de tudo.


Passei uma manhã inteira no convento de Santa Tereza em Potosi. Voltei a Lima especialmente para rever o Museu Pedro de Osma. O que em nada impede observar o povo, comendo tamales, patacones, abarás ou tortillas nas ruas desta sempre apaixonante América Latina. 

A curiosidade compulsiva como virtude primeira de todo viajante.

Um comentário:

  1. Achei que seus amigos foram muito elegantes com você e sua hospitalidade. Só não quiseram comentar.
    Meus amigos, quando me visitam, não são tão educados assim: criticam os prédios e sítios históricos abandonados, as ruas mal cheirosas, o assédio que sofrem no Pelourinho, a falta de estrutura receptiva para viajantes, a espetaculização dos ritos religiosos, a falta de higiene dos lugares, as tentativas de pequenos golpes, os preços das coisas, que oscilam de acordo com a cara do freguês etc etc.
    Aqui se explora o turista, não o turismo.

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