FOT: DIMITRI GANZELEVITCH
LIMA-PERU
Recebi, dia
desses, um casal de jovens franceses recomendados por amigos comuns, ambos das
áreas culturais parisienses. Ficaram dois meses em Salvador e já estavam de
saída para Recife onde talvez iriam permanecer por mais dois meses, dependendo
de ventos e encontros. O que me parece uma excelente forma de viajar. Ficar um
bom tempo em cada lugar escolhido, pousar e vasculhar ao acaso o óbvio e o
secreto.
Estiveram no terreiro de Oxumaré, lá na avenida Vasco da Gama. Ficaram
cinco minutos “... estava cheio de turistas. Nem os próprios adeptos tinham
espaço para entrar”. Foram a outro, no Barbalho, nada comentaram. Visitaram
alguma igreja? “Bem... sim, algumas, mas não me lembro os nomes”. Nenhuma
parecia ter marcado os visitantes. Algum museu? O Museu de Arte Moderna estava
em obras.
Comecei a ficar nervoso. Ficar oito semanas na mais antiga capital do
Brasil e nada registrar de sua história, de seu passado? Jovens que se
pretendem preocupados com cultura? Qual seria a proposta da viagem?
Simplesmente andar pelas ruas e becos, bater longos papos com algum capoeirista
e uma ou outra dançarina? Sentar na escadaria da Igreja do Passo ou da catedral
olhando o movimento?
Claro que cada um tem sua forma de perceber os povos e
suas culturas, mas não me parece razoável, nem intelectualmente sadio,
descartar os alicerces de uma sociedade. Quando viajo, faço o impossível para
investigar tudo. De catedrais a mercados e feiras. Passo o pente fino por
praças e becos. Sento em barracas incertas e passeio pelos corredores de todo
convento. Comida de rua ou de restaurante estrelado, provarei de tudo.
Passei uma
manhã inteira no convento de Santa Tereza em Potosi. Voltei a Lima especialmente
para rever o Museu Pedro de Osma. O que em nada impede observar o povo, comendo
tamales, patacones, abarás ou tortillas nas ruas desta sempre apaixonante América
Latina.
A curiosidade compulsiva como virtude primeira de todo viajante.
Achei que seus amigos foram muito elegantes com você e sua hospitalidade. Só não quiseram comentar.
ResponderExcluirMeus amigos, quando me visitam, não são tão educados assim: criticam os prédios e sítios históricos abandonados, as ruas mal cheirosas, o assédio que sofrem no Pelourinho, a falta de estrutura receptiva para viajantes, a espetaculização dos ritos religiosos, a falta de higiene dos lugares, as tentativas de pequenos golpes, os preços das coisas, que oscilam de acordo com a cara do freguês etc etc.
Aqui se explora o turista, não o turismo.