Arquiteta faz sucesso no Rio restaurando casarões abandonados
Julia Abreu transforma imóveis centenários em residenciais
por Josy Fischberg 22/02/2016
RIO - Quando publicou o álbum de fotos no Facebook, há algumas semanas, Julia Abreu esperava que uns cinco ou seis amigos entrassem em contato. “Estou alugando oito apartamentos em um prédio antigo que acabamos de restaurar e ‘retrofitar’. Tudo novinho em folha e, o melhor, é isento de IPTU”, escreveu a arquiteta, de 32 anos, na legenda que acompanhava as imagens. As fotos foram compartilhadas quase três mil vezes, e Julia perdeu a conta de quantos interessados escreveram pedindo informações (“Recebi umas cinco mil mensagens. Estou respondendo a todas elas”, conta). O número de visitas a partir da semana seguinte, ela sabe bem: são 35 pessoas batendo ponto por dia no local para ver de perto os apartamentos.
O encantamento dessa gente toda tem lá suas razões. Na rede social, a arquiteta mostrava o resultado de um ano e meio de reforma que transformou por completo um casarão de 1883 entre Glória e Santa Teresa. No local, onde antes só havia praticamente a fachada — no interior, via-se mato e uma pequena ocupação — surgiram os oito apartamentos de quarto e sala, com metragens entre 40 e 60 metros quadrados.
As fotos no Facebook comprovavam o que dizia Julia: estava tudo novo em folha e as possibilidades de uso do espaço renovado eram grandes. O presidente do Instituto Rio Patrimônio, Washington Fajardo, também compartilhou a história, falando do potencial do Centro do Rio.
Julia conhece bem este potencial sobre o qual fala Fajardo. Antes do casarão da Rua Santa Cristina, ela já havia comandado a renovação de outros imóveis das primeiras décadas do século passado pelo Rio. Transformou em residenciais um imóvel na Rua do Senado e dois na Lapa (nas ruas Silvio Romero e André Cavalcanti); e em escritório outros dois na Praça da Cruz Vermelha. O casarão da Glória foi a sexta empreitada desse tipo.
O crescimento da cidade em direção à Barra, nas últimas décadas, fez com que regiões como o Centro e as áreas em seu entorno fossem abandonadas. Com a retomada do Porto Maravilha, as expectativas em relação à região cresceram. É o que explica o arquiteto e urbanista Luiz Fernando Janot.
— As expectativas cresceram, mas há também uma crise econômica em curso que ninguém sabe para onde vai — explica Janot. — Nesse cenário, pela proximidade com o Centro e com a Zona Sul ao mesmo tempo, bairros como a Glória podem ser muito atraentes. E ainda tem o metrô. Houve uma recuperação da área nos últimos anos, algo que mostrou uma tendência de o lugar se transformar urbanisticamente.
Julia conta que sua saga na busca pelos casarões para transformá-los em residenciais novos e funcionais tomou forma quando ela voltou de um intercâmbio:
— Estudava em Versailles, mas procurei um lugar para morar em Paris. Vivi muito bem por anos em um imóvel de 30 metros quadrados. Sempre pensava: por que isso não existe no Rio? Quando voltei, procurei, sem sucesso, um lugar como aquele. Não sentia necessidade de espaço, mas sim de um apartamento de qualidade, que não precisasse de obras.
O encantamento dessa gente toda tem lá suas razões. Na rede social, a arquiteta mostrava o resultado de um ano e meio de reforma que transformou por completo um casarão de 1883 entre Glória e Santa Teresa. No local, onde antes só havia praticamente a fachada — no interior, via-se mato e uma pequena ocupação — surgiram os oito apartamentos de quarto e sala, com metragens entre 40 e 60 metros quadrados.
As fotos no Facebook comprovavam o que dizia Julia: estava tudo novo em folha e as possibilidades de uso do espaço renovado eram grandes. O presidente do Instituto Rio Patrimônio, Washington Fajardo, também compartilhou a história, falando do potencial do Centro do Rio.
Julia conhece bem este potencial sobre o qual fala Fajardo. Antes do casarão da Rua Santa Cristina, ela já havia comandado a renovação de outros imóveis das primeiras décadas do século passado pelo Rio. Transformou em residenciais um imóvel na Rua do Senado e dois na Lapa (nas ruas Silvio Romero e André Cavalcanti); e em escritório outros dois na Praça da Cruz Vermelha. O casarão da Glória foi a sexta empreitada desse tipo.
O crescimento da cidade em direção à Barra, nas últimas décadas, fez com que regiões como o Centro e as áreas em seu entorno fossem abandonadas. Com a retomada do Porto Maravilha, as expectativas em relação à região cresceram. É o que explica o arquiteto e urbanista Luiz Fernando Janot.
— As expectativas cresceram, mas há também uma crise econômica em curso que ninguém sabe para onde vai — explica Janot. — Nesse cenário, pela proximidade com o Centro e com a Zona Sul ao mesmo tempo, bairros como a Glória podem ser muito atraentes. E ainda tem o metrô. Houve uma recuperação da área nos últimos anos, algo que mostrou uma tendência de o lugar se transformar urbanisticamente.
Julia conta que sua saga na busca pelos casarões para transformá-los em residenciais novos e funcionais tomou forma quando ela voltou de um intercâmbio:
— Estudava em Versailles, mas procurei um lugar para morar em Paris. Vivi muito bem por anos em um imóvel de 30 metros quadrados. Sempre pensava: por que isso não existe no Rio? Quando voltei, procurei, sem sucesso, um lugar como aquele. Não sentia necessidade de espaço, mas sim de um apartamento de qualidade, que não precisasse de obras.
Um dos imóveis antes da restauração
— Ele comprou os primeiros espaços e nós começamos juntos a dar forma a esse projeto — explica.
Para reformar casarões antigos e transformá-los em projetos residenciais no Rio, é preciso ser um pouco arquiteto, um pouco advogado, meio técnico, meio engenheiro, um tanto despachante, outro tanto corretor de imóveis.
— Acabamos transformando nossa empresa numa máquina de criar projetos residenciais a partir de casarões antigos — brinca Julia. — Ainda assim, é um trabalho que quem escolhe fazer se envolve de coração, muito mais do que quando se sobe uma construção do zero. Você realmente se apaixona pelos projetos.
Há que se ter também um lado economista para dar conta do recado. Quando comprou o casarão da Santa Cristina, há quase quatro anos, o valor do imóvel, em ruínas, estava em torno de R$ 300 mil a R$ 400 mil. Antes dessa transação, no entanto, era necessário fazer um estudo de viabilidade para decidir quantos apartamentos seriam feitos no local e quanto eles poderiam valer ao final da renovação.
Para este mesmo casarão, a arquiteta também pensou em determinados detalhes que fazem com que ele tenha um jeito de “residencial gringo”. Um deles é a lavanderia coletiva, que fica no subsolo da construção. O outro são os armários individuais extras, que ficam bem perto das máquinas de lavar, para que os moradores possam guardar tudo aquilo que não cabe no apartamento.
— Quando eu morei em Paris, sempre tinha aquela mala grande e uns objetos de pouco uso para os quais não havia espaço possível num ambiente de 30 ou 40 metros quadrados. O objetivo desses armários é servir como um espaço complementar — explica Julia.
Uma das próximas investidas da arquiteta e de sua equipe é um casarão na Rua Marcílio Dias, perto da Central do Brasil. Depois da reforma, o local passará a abrigar seis apartamentos residenciais, todos com mais de 40 metros quadrados, além de uma loja no térreo. O projeto precisa ser pensado de maneira diferente, pois trata-se de uma região que não tem vida noturna como a Lapa ou a Glória. O estabelecimento comercial poderia ajudar nesse sentido:
— O casarão já está comprado, e o projeto para residencial foi aprovado pela prefeitura. O curioso é que, andando por dentro dele há algumas semanas, encontrei uma porção de cartas no chão. Eram de uma mulher para um ex-presidiário, os bilhetes iam do início ao fim da relação. Esta pessoa provavelmente morava lá e deixou essas lembranças para trás. Sempre penso em como manter essas histórias vivas.
Depois do casarão da Marcílio Dias, será a vez de um imóvel na área do Porto, onde haverá 20 apartamentos. O projeto é mais ousado, segundo a arquiteta, e conta com um pátio central:
— Há alguns anos, fizemos um estudo em parceria com a prefeitura e descobrimos que há 11 mil casarões abandonados ou subutilizados na chamada AP1, que inclui toda a região central do Rio, até São Cristóvão. Se eles fossem ocupados com projetos bacanas, teríamos menos problemas de segurança e ainda resolveríamos a vida daqueles que levam mais de duas horas para chegar ao Centro para trabalhar.
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