Quando fui convidado pela atual prefeitura a tomar parte de
uma nova abordagem das festas populares, achei que finalmente tinha chegado a
hora de recuperar a beleza perdida por desastroso decreto na gestão de Lídice
da Mata. Durante três ou quatro reuniões na Saltur com reconhecidos
pesquisadores no assunto, por dois meses defendi com entusiasmo a possível
volta às raízes desta importante expressão bem baiana. Nada de utópico, pensava
eu ingenuamente. Só raciocínio pragmático. Já imaginava o retorno triunfante
das barracas coloridas e seus banquinhos brincando de construtivismo.
Passadas
poucas semanas, as reuniões foram suspensas sem pré-aviso nem justificativa e logo
em dezembro os soteropolitanos foram confrontados com a deprimente filosofia
dos gestores municipais em matéria de cultura popular.
As antigas e
nobres - o povo também tem suas nobrezas - festas foram afogadas num lamentável
lamaçal alaranjado, abocanhadas por predadoras empresas de bebidas cujo único
objetivo é vender, vender e vender sempre mais. Cada festa foi entregue a uma
ou duas marcas, o participante sendo proibido de escolher sua bebida preferida.
Quando o
Carnaval chegou, foram instalados portões “para impedir o acesso a elementos
armados”. Ótima medida para uma semana sem violência. De novo: ingenuidade
minha! Na realidade, os ditos portões serviriam para controlar a eventual e
criminosa entrada de ambulantes com cervejas de outras marcas. Até quem ousava
andar bebendo uma lata proibida foi obrigado a abandonar o objeto de seu desejo
e o remédio de sua sede por ostentar marca rival das patrocinadoras.
Até que
ponto de decadência chegou esta sociedade hoje entregue ao capitalismo selvagem
como os cristãos da Roma antiga aos leões do Coliseu!
Outra coisa: que tipo de turismo é alvejado
pelos responsáveis? Que imagem nossos edis pretendem passar da cultura na
Bahia? Não bastava a lamentável política estadual neste campo, até onde iremos
na mediocridade e no desrespeito a formas de expressão cultural que já foram mais
de que referências nacionais?
dimitri, concordo contigo quando evoca o retorno do grafismo às nossas festas populares. isso sempre foi uma marca e pode aumentar a qualificação do nosso carnaval. agora tome cuidado com informações não verdadeiras que só fazem confundir a população mais simples. dizer, por exemplo que "Até quem ousava andar bebendo uma lata proibida foi obrigado a abandonar o objeto de seu desejo e o remédio de sua sede por ostentar marca rival das patrocinadoras." é de uma leviandade sem precedentes. pelo amor de deus, saí todos os dias no carnaval com minhas latas de skol e, mesmo em coolers particulares, você não era incomodado. inclusive, talvez por você não ter participado da festa não tenha visto, os bares estabelecidos nos circuitos comercializavam cervejas de todos os tipos. bebi muita heinenken no carngueijo do serjipe e budwaiser e stella na pousada noa noa.
ResponderExcluirabraços,
rafael faria lima