sábado, 8 de março de 2014

O ROLO COMPRESSOR DAS CERVEJARIAS

Quando fui convidado pela atual prefeitura a tomar parte de uma nova abordagem das festas populares, achei que finalmente tinha chegado a hora de recuperar a beleza perdida por desastroso decreto na gestão de Lídice da Mata. Durante três ou quatro reuniões na Saltur com reconhecidos pesquisadores no assunto, por dois meses defendi com entusiasmo a possível volta às raízes desta importante expressão bem baiana. Nada de utópico, pensava eu ingenuamente. Só raciocínio pragmático. Já imaginava o retorno triunfante das barracas coloridas e seus banquinhos brincando de construtivismo.

Passadas poucas semanas, as reuniões foram suspensas sem pré-aviso nem justificativa e logo em dezembro os soteropolitanos foram confrontados com a deprimente filosofia dos gestores municipais em matéria de cultura popular.
As antigas e nobres - o povo também tem suas nobrezas - festas foram afogadas num lamentável lamaçal alaranjado, abocanhadas por predadoras empresas de bebidas cujo único objetivo é vender, vender e vender sempre mais. Cada festa foi entregue a uma ou duas marcas, o participante sendo proibido de escolher sua bebida preferida.


Quando o Carnaval chegou, foram instalados portões “para impedir o acesso a elementos armados”. Ótima medida para uma semana sem violência. De novo: ingenuidade minha! Na realidade, os ditos portões serviriam para controlar a eventual e criminosa entrada de ambulantes com cervejas de outras marcas. Até quem ousava andar bebendo uma lata proibida foi obrigado a abandonar o objeto de seu desejo e o remédio de sua sede por ostentar marca rival das patrocinadoras.
Até que ponto de decadência chegou esta sociedade hoje entregue ao capitalismo selvagem como os cristãos da Roma antiga aos leões do Coliseu!  
Outra coisa: que tipo de turismo é alvejado pelos responsáveis? Que imagem nossos edis pretendem passar da cultura na Bahia? Não bastava a lamentável política estadual neste campo, até onde iremos na mediocridade e no desrespeito a formas de expressão cultural que já foram mais de que referências nacionais?


Um comentário:

  1. dimitri, concordo contigo quando evoca o retorno do grafismo às nossas festas populares. isso sempre foi uma marca e pode aumentar a qualificação do nosso carnaval. agora tome cuidado com informações não verdadeiras que só fazem confundir a população mais simples. dizer, por exemplo que "Até quem ousava andar bebendo uma lata proibida foi obrigado a abandonar o objeto de seu desejo e o remédio de sua sede por ostentar marca rival das patrocinadoras." é de uma leviandade sem precedentes. pelo amor de deus, saí todos os dias no carnaval com minhas latas de skol e, mesmo em coolers particulares, você não era incomodado. inclusive, talvez por você não ter participado da festa não tenha visto, os bares estabelecidos nos circuitos comercializavam cervejas de todos os tipos. bebi muita heinenken no carngueijo do serjipe e budwaiser e stella na pousada noa noa.
    abraços,
    rafael faria lima

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