sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

ARAKEN VAZ GALVÃO E A HISTÓRIA

"Alguns de vocês bem sabem que trabalho com Araken Vaz Galvão. Alguns de vocês sabem da história de Araken Vaz Galvão. E que o mesmo é um grande personagem no que se diz respeito à luta armada do golpe de 64.

 Esse ano completa-se 35 anos da anistia, e todo o pai está promovendo eventos para discussão do tema ou sobre a ditadura. Que bom que esta data está sendo lembrada.
 Vejo que  a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia estará realizando o III Fórum de Pensamento Crítico, com o tema Autoritarismo e Democracia no Brasil e na Bahia 1964 - 2014. Em Salvador e no interior. Inclusive em Valença. Terra que Araken escolheu para viver seus últimos dias. E ao saber desse Fórum, ler a programação, fiquei DECEPCIONADA. Pois, enquanto jornais de Minas Gerais, Mestrandos de vários estados, e até o governo do RS, procuram Araken para lhe prestar homenagens, colher depoimentos. A sua terra natal, a Bahia, para quem não sabe, Araken é natural de Jequié, não citam, nem se quer o procuram para saber de sua experiência vivida naqueles duros anos. 

 Em anexo envio a breve biografia do mesmo. Espero q assim, vocês conheçam um pouco desse grande homem que abdicou de muitas coisas em sua vida com o pensamento de mudar o país, ou tentar deixar paras gerações futuras, uma nação mais justa.

 E não penso que se precise buscar em Salvador um professor de história que entenda do tema." Araken é própria história viva." 

 Alguns irão dizer que não posso de uma puxa-saco do meu patrão. Eu vós digo, é questão de respeito a uma pessoa que serviu com amor ao seu país. E pensem o que quiserem. Essa é minha opinião."
 Att
 Juscimare Souza - Juscy Souza
 Graduada em Letras
 Graduanda do Curso de Especialização em Estudos Linguísticos e Literários.
 Assistente da Fundação Cultural Euzedir e Araken Vaz Galvão - FUNCEA
 Tel. (75) 3641-2837
 Valença - Bahia

Biografia de Araken Vaz Galvão

Araken Vaz Galvão, como foi inicialmente registrado – Araken Passos Vaz Galvão Sampaio, como conseguiu, bem mais tarde, na justiça autorização para modificar seu nome, ainda que tenha continuado a assinar da forma original – nasceu na fazenda Santa Maria, localizada próxima ao povoado de Pulga do Campo, às margens da Estrada Real que, partindo de Rio Branco (hoje Itajuru), do lado esquerdo do Rio de Contas, seguia, após atravessar aquele rio, para Aiquara distrito de Jequié (emancipado durante a ditadura, por força de algum aliado civil dos militares). Com isso passa-se a dizer que Vaz Galvão, nascido em 20 de maio de 1936, foi o último filho do casal Oswaldo Vaz Galvão Sampaio e Altamira Passos Galvão, ambos de Amargosa, foi registrado como nascido no município de Jequié, uma vez que não podia ter nascido em um município que ainda não existia: Aiquara.
Órfão de pai aos quatro anos, Vaz Galvão foi criado na fazenda Veneza, do seu avô paterno, o coronel Antônio Augusto Vaz Sampaio, figura austera, que marcou sua infância, com autoridade e silêncio, situações que ele sempre associou à solidão.
Com a morte de seu avô – e como sua avó já tinha falecido – sua mãe foi expulsa, com os três últimos filhos que ainda moravam com ela, da fazenda Veneza por seu cunhado, Oscar Vaz Sampaio, que acabou por adonar-se de forma mais ou menos legal, mais ou menos desonesta, do espólio do velho Antônio Augusto. Nessas alturas de sua vida, sua irmã mais velha já tinha se casado e seus três irmãos que lhe seguiam tinham ido para o Rio de Janeiro, por isso seu cunhado, Joel Barbosa Reis, retirou a viúva, sua sogra, da fazenda Veneza, levando-a para Jaguaquara, onde Vaz Galvão ingressou, com 10 anos, na escola primária, de nome Castro Alves, situada no bairro de Casca da Bahia.
Daí, depois de três anos, foi levado para Jequié, sempre com sua mãe e suas duas irmãs mais novas, de onde, mais ou menos, um ano depois a família foi transferida para o Rio de Janeiro. Nessa época Vaz Galvão tinha 12 ou 13 anos. Nada muito importante nesse período, salvo sua primeira incursão pelo campo ligado à cultura, pois, ainda em Jaguaquara, o menino Araken criara um teatro, em um velho armazém, dos irmãos Piropo, sem nunca ter conhecido um, o qual, deixou marcas naquela cidade.
A vida de Vaz Galvão começou a tomar outro rumo, depois que ele foi prestar serviço militar, no Exército (Regimento Escola de Artilharia, em Deodoro, subúrbio do Rio), em 7 de janeiro de 1955, ano do contragolpe desferido pelo então general Lott, para garantir a posse dos eleitos, Juscelino Kubitschek e João Goulart. Fato esse que significou o seu batismo, mesmo tímido, nas lides política dos militares – naquela época, o Exército claramente divididos em direita e esquerda (com a maioria absoluta dos oficias em cima do muro, como se dizia) – tendo ele ficado, timidamente é verdade, do lado dos sargentos que se opuseram a posição dos oficiais golpista, e da esquerda, ou seja, do lado dos que defendiam a posse dos eleitos.
Nessa época já tinha sido promovido a cabo foi, mais tarde, enviado à Escola de Moto Mecanização (hoje, de Material Bélico), também em Deodoro, onde fez um curso técnico, tendo sido promovido a 3° Sargento em 26 de novembro de 1956.
A partir dessa ocasião não parou mais a sua militância política, de esquerda, naquilo que se convencionou a chamar, mais tarde, de Movimento dos Sargentos, do qual foi um dos principais líderes no Rio de Janeiro. Essa sua atividade resultou em sua transferência para Campo Grande, Mato Grosso, já como 2° Sargento, onde foi mais ou menos surpreendido pelo golpe militar de 1964.
Junto com outro dos mais importantes líderes do Movimento dos Sargentos (e seu principal teórico), seu amigo, o Sargento Manuel Raimundo Soares, abandonou o Exército, passando a viver clandestino, tentando, com outros sargentos, entre eles, Amadeu Felipe da Luz Ferreira, Dirceu Jacques Dornelas e o subtenente Gelcy Rodrigues Corrêa, além de outros a preparar o movimento de resistência à ditadura que, naquele momento foram dos primeiros a achar que teria que ser por meio da luta armada. Por essa época o seu grupo aliou-se a Leonel Brizola.
Como consequência dessas atividades, Vaz Galvão foi preso em Porto Alegre, depois de ter recebido um tiro, em um convertido episódio, da própria mulher com quem vivia. Gravemente ferido, sobreviveu graças e sua juventude e vontade de viver, tendo ficado preso por quase um ano, naquela cidade. Foi o primeiro preso político do presídio situado na ilha das Pedras Brancas, também chamada de ilhas da Pólvora, no rio Guaíba.
Ao sair, via habeas corpus, foi levado, por seus companheiros para o Uruguai, onde foi submetido a duas cirurgias restauradoras e onde viveu por, mais ou menos, sete meses, sob o nome de Jacques. De volta ao Brasil, reassumiu seu trabalho clandestino de resistência à ditadura, tendo sido um dos principais nomes na organização do momento que ficou conhecido como a Guerrilha do Caparaó, atividade que implicou na transferência de cerca de 2,5 toneladas de material, inclusive armamento e explosivo, do Sul do país para o Espírito Santo, com passagem pelo Rio de Janeiro.
Fracassado o movimento, Vaz Galvão esteve preso por quase três anos, em várias cidades. Manhum Açu e Juiz de Fora, MG; No Rio Janeiro, fortaleza de Santa Cruz e Polícia do Exército, e por algum tempo foi levado por um curto período a Porto Alegre, onde respondia processo – e onde teve a oportunidade de conhecer, no quartel da Polícia do Exército de lá – a tristemente famosa cela “boi preto”.
De volta ao Rio continuou preso na Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói de onde – ao ser levado à Policlínica Militar do Rio de Janeiro –, conseguiu fugir, e solicitar asilo na Embaixada do Uruguai, então na rua Artur Bernandes, no Catete, onde permaneceu por um ano, porque o governo militar negava-se a conceder o salvo-conduto, documento indispensável para que ele fosse retirado do país. Sendo ele, por este percalço, um dos ativistas político que mais tempo permaneceu em uma Embaixada.
Naquele país, por solidariedade dos estudantes, recebeu uma pequena bolsa de estudos, o que lhe permitiu frequentar a Faculdad de Humanidades y Ciencias, onde estudou História por quatro anos. Simultaneamente, a noite, frequentou a Escuela de Bellas Artes – ambas parte da Universidad de la República –, tendo feito o curso básico de três anos. Nesse período, frequentou também, por um ano, o curso de iniciação à linguagem cinematográfica, ministrado pela Cinemateca Uruguaia.
Com a instalação também no Uruguai de uma ditadura militar, Vaz Galvão iniciou um périplo por outros países da América Hispânica, com passagem por Argentina, Peru, Paraguai, Equador e Bolívia.
Ainda em Montevidéu, iniciou o estudo da literatura de língua espanhola, aquela que hoje é chamada de realismo fantástico (mágico, maravilhoso ou absurdo) tendo travado conhecimento com as obras de escritores como Jorge Luís Borges, Felisberto Hernandez, Julio Cortazar, Augusto Roa Bastos, Mario Vargas Llosa, Ciro Alegria, José Maria Arguedas, César Vallejo, Alejo Carpentier, Nicolas Guillen, Octavio Paz, Juan Ruflo, Carlos Fuentes, Miguel Ángel Astúrias, Juan Carlos Onetti, além de Gabriel García Márquez.
Com a anistia voltou ao Brasil, depois de alguns anos de dificuldade para sobreviver, passou a dedicar-se a literatura, consolidado essa decisão, ao voltar à Bahia, em 1991, passando a residir em Valença. Hoje é membro da Academia de Letras do Recôncavo – ALER –, sócio fundador e segundo presidente da Academia Valenciana de Educação, Letras e Artes – AVELA –, além de membro titular do Conselho Estadual de Cultura – CEC – quadriênio 2006/2011. Em 2010, foi um dos organizadores do I Encontro de Academias de Letras da Bahia, tendo sido eleito o primeiro presidente do Fórum Permanente de Academias do Estado, criado naquela ocasião.
É autor de seguintes livros:
Valença – Memória de uma cidade – História;
Nascimento de uma cidade: Teixeira de Freitas – Reportagem histórica;
No ano de 2004 ganhou o prêmio principal do concurso do Banco Real “Talentos da Maturidade, com o conto “Os Mortos”. Escreve na página eletrônica do jornalista Fausto Wolff, www.olobo.net e mantém o diário http://arakenvaz.blogspot.com e teve um conto seu, “O Jegue” publicado pela revista eletrônica do Rio Grande do Sul, www.bestiário.com.br é ainda autor dos seguintes livros:
Todas as Estações – Segundo Livro – participação na antologia de contos, editora da Fundação Peirópolis, São Paulo, SP;
Crônica de uma Família Sertaneja, romance, publicado pela Superintendência de Cultura, Secretaria de Turismo e Cultura do Estado da Bahia (I Tomo da sua Trilogia Sertaneja);
Valenciando – I Antologia (organizou e participou) de escritores de Valença: livro publicado pela Superintendência de Cultura, Secretaria de Turismo e Cultura do Estado da Bahia;
Rio de Letras – II Antologia (organizou e participou) de escritores de Valença: livro publicado pela Superintendência de Cultura, Secretaria de Turismo e Cultura do Estado da Bahia;  
Trívio, coleção de crônicas parta da Antologia publicada com mais dois amigos;
Saga de um Menino do Sertão – romance (II Tomo da Trilogia Sertaneja), recentemente publicado;
Acalanto Tardio – Infanto-juvenil;
Crônicas das Prisões e do Exílio – Memórias, a ser publicada com o apoio da Assembléia Legislativa do Estado da Bahia;
Pargo e outras histórias – contos, coletânea de organizada e publicada pelo autor;
Alguns Relatos I – crônicas, no prelo;
Alguns Relatos II – crônicas, no prelo;
Quase Ensaios II – literatura e História –, no prelo;
Morte em Valença e outras histórias do sertão (III Tomo da Trilogia Sertaneja);
O Sargento na História do Brasil – memórias/ensaios;
Cinema – Noir¸Westerns, Neo Realismo – e Literatura – Maravilhoso, Mágico, Fantástico e Absurdo – ensaios.
Trilogia “Memorial da Angústia”, composta de: Sonata em Dor Maior, Em Busca do Esquecimento e Por Causa de Lucía  – Romances;
Quem Matou a Garota do Outdoor – Policial;
O Crime das Ligas – Policial;
Morte ao Entardecer – Policial;
A Gramática do Crime – Policial
A novela policial “Quem Matou a Garota do Outdoor” foi adaptada para cinema por Carlos Nascibendi, diretor de São Paulo;
O Tupi Nosso de Cada Dia – Estudo sobre a presença do idioma indígena no português falado no Brasil, com promessa de publicação da Secretaria de Cultura da Bahia.
Publica periodicamente crônicas ou contos na Revista da União Brasileira de Escritores – Rio de Janeiro – na Revista da Academia de Letra do Recôncavo – ALER –, recentemente publicou artigo “Brizola, os Sargentos e a Luta Armada”, na revista “História & Luta de Classes”, ano 6, nº 10, nov. 2010.
Vaz Galvão foi agraciado com o título de professor honoris causa, por notório saber, pela Faculdade de Ciências Educacionais – FACE – Valença, BA; tem ainda proferido palestras em várias cidades da Bahia, inclusive no Rio de Janeiro, sobre temas relacionados com cultura e arte; colaborado também em vários jornais locais.
Atualmente trabalha no projeto visando a criação de uma Fundação particular onde colocará seu acervo de quase 1.500 livros, quatro mil recortes de jornais, sobre os mais variados temas, uma coleção de revistas de vários tipos (ainda não catalogadas) e sua coleção de música clássica, de MPB e de filmes (DVD), além de um Banco de Dados eletrônico, com mais de  mil verbetes sobre temas variados.
Vaz Galvão, com a ajuda de outros amigos, realizou um trabalho de publicação de livros, em Valença, possivelmente sem precedentes (e similares) na Bahia e, talvez, em todo o Brasil, pois em um espaço de sete anos, em uma cidade de porte médio (atualmente está com 100 mil habitantes), por movimentar pessoas com talento para escrever, incentivando-os e os reunindo – no veio depois resultar a fundação da Academia de Letras de Valença –, em um grupo literário compacto, resultando na publicação – por influência direta e indireta – de mais de 40 títulos, entre romances, poesia, livros de contos, de crônicas, de História e de cultura popular, ensaios, livros de jovens escritores, etc. Esta atividade é a que Vaz Galvão mais se orgulha.

Informações fornecidas pelo autor.

Um comentário:

  1. Por favor,quero fazer a arvore geneológica da familia e o Araken pode me ajudar...Muito obrigada!Deus te abençoe!Grata. Marialva Vaz email-marialvavaz@gmail.com

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