Dois episódios de aeroporto que compartilho com vocês agora, dada a relevância política de ambos:
Episódio 1
Aeroporto de BSB hoje no meio da tarde, partindo para o Rio
Cruzo com um homem de paletó e gravata com uma Bíblia e alguns panfletos de evangelização nas mãos.
Ele - Deputado Jean Wyllys [pronunciou o nome todo], Jesus te ama!
Eu (apressado) - Obrigado! Xangô também me ama! Buda e Maomé também me amam!
Ele - Deputado, homossexualismo [sic] é uma abominação...
Eu (parando para lhe dar atenção) - As únicas abominações que eu conheço, na vida, são o fanatismo e a ignorância motivada...
Ele (fingindo que não ouviu minha resposta ou simplesmente não entendendo o que eu disse) - O senhor deveria lutar pelo povo, não só pelos gays...
Eu - Ué, os gays não fazem parte do povo? Eu luto pelo povo quando luto pelos gays, pelas lésbicas, pelas travestis, pelas prostitutas, pelos espíritas, umbandistas, candomblecistas, pelas crianças de rua, pela população carcerária, pelos professores, pelos estudantes... Se isso não for povo, você precisa me dizer o que é povo...
Ele (como se não tivesse ouvido o que falei) - Mas o senhor só fala dos gays...
Eu (num tom quase impaciente, afinal estava me atrasando) - Escute, meu senhor, me acusar de "lutar só pelos gays" não é só ignorância e falta de conhecimento sobre meu trabalho, apesar de toda informação sobre ele que eu disponibilizo aos eleitores; é se esforçar pra varrer essa pauta da agenda pública. Mas sua acusação de nada adianta, meu caro. Vou continuar lutando pelos gays, lésbicas, travestis e transexuais na mesma medida e na mesma proporção em que eu luto pelo bem de todas as outras pessoas. Entendeu?
Ele (se fazendo de vitimado) - O senhor deveria ser mais humilde...
Eu - Se "ser humilde" significa não responder à ignorância motivada sobre mim e meu trabalho, eu quero continuar não sendo humilde. E agora me dê licença porque Jesus me ama, mas não vai fazer o avião me esperar... (E segui)
Ele - ...
Dentro do avião, fui abordado por três moças que me disseram, cada uma em seu tempo, em tom cordial, quase carinhoso: "Obrigado por tudo que você faz por nós! Admiro muito seu trabalho".
Eu agradeci e sorri.
Episódio 2
Desembarco no Santos Dumont e dou de cara com um homem alto, branco, forte e com uma garrafa de cerveja na mão; provavelmente à espera de alguém...
Ele - Ih, deputado Jean Wyllys! (tom ameaçador) O bicho vai pegar pra você!
Eu (sem dar muita atenção e já seguindo) - Por que? Não tenho medo de bicho: sou uma bicha!
Mais adiante, sou abordado por um funcionário da limpeza do aeroporto: um homem negro, magro e jovem. Ele me abre um sorriso franco e largo e me diz: "Deputado, o senhor me representa! Deus lhe abençoe".
Agradeci e sorri aliviado.
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