sábado, 4 de janeiro de 2014

UM BILHETE


Rosedalva acordou no terceiro dia do ano mais disposta que o habitual. Janeiro é um mês de calor senegalês na cidade e, mesmo encharcada de suor, saiu à janela sem nem perceber que estava seminua. Ansiava por um banho, mas a sirene estridente não parava de tocar. Foi até o portão e um homem baixinho entregou-lhe um envelope, não sem antes dar uma olhada geral no corpo da mulher, assentindo com um sorriso. Dentro do envelope três cédulas de 100 dólares e um bilhete tão breve quanto um lampejo. Case-se comigo, sou louco pela senhora, enquanto não disser sim, trarei todos os dias um envelope como esse ou morrerei. Riu do trágico bilhete do pequeno homem e preferiu dizer não como resposta. Em apenas um mês teria uma pequena fortuna. Esperou ansiosa o dia seguinte, o homem não veio, nem no outro, nem no outro, nem nunca mais. A onda de calor andava matando naqueles dias.

joão figuer

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