sábado, 25 de janeiro de 2014

DO BOTEQUIM E DO CORDEL


Já escrevi, nesta mesma coluna, em 2011, sobre os momentos privilegiados que o Grupo Botequim proporcionava ao público. Era como folhear uma enciclopédia de música popular. A última sexta-feira de cada mês, por volta das 22 horas, o largo de Santo Antônio revivia prazerosamente uma Bahia perdida.
Meia dúzia de músicos, profissionais e amadores sentavam-se debaixo de um toldo e à volta de uma mesa com algumas cervejas (sem patrocínio), para tocar e cantar obras-primas, sambas clássicos da velha guarda, sambas mais recentes.

Tudo pelo prazer de difundir qualidade junto a um público maltratado por gravadoras antropófagas. A orgia musical – de Chiquinha Gonzaga a Pedro Abib - durou cinco anos, até abril de 2013 quando ressurgiu a velha conhecida perseguição burocrática de serviços municipais que pouco ou nada entendem de cultura, mas muito entendem de prepotência. Menos ainda entendem quando a dita cultura não envolve lucros materiais. Foi assim que baianos e turistas perderam o caminho do largo.

Decisões parecidas conseguiram ir além do absurdo no estilo rolo-compressor. Acabaram com a banca de trovadores da Praça Cayru, a poucos metros do Mercado Modelo. Não haverá mais como descobrir a riqueza de uma literatura que começou oral com os menestréis vindos da Europa no século XVI e se transformou em folhetos vendidos nas feiras do Nordeste.

Que a literatura de cordel seja estudada na Sorbonne e em universidades americanas pouco importa. Aqui e agora é confundida com mercadoria suspeita de vendedores de CDs piratas e simplesmente varrida pelos mesmos obtusos tecnocratas. Nem permitiram que o Paraíba da Viola, humilhado presidente da Ordem Brasileira dos Poetas de Literatura de Cordel, vendesse seus folhetos na parte de trás do Mercado Modelo!

Um início de oportuna decisão municipal de recuperar as festas de largo, foi interrompido sem o mínimo esclarecimento a quem tinha sido convidado a trabalhar (de graça) para tão importante tarefa.                              As festas de largo continuam nas mãos das predadoras cervejarias.


E Viva Miami e os shopping centers!

2 comentários:

  1. Salve a sua indignação e a sua capacidade de crítica, Dimitri !!!!
    Não vamos nos intimidar e o samba vai voltar ao Sto Antonio...com a força de Xangô e Oxalá !!! Pedro Abib (Pedrão)

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    1. Não esqueça o Santo Antônio também, Pedro!
      Afinal é ele que nos abriga...

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